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O Moscow Mule não é russo – é americano

Entenda como o marketing da Smirnoff criou a primeira bebida instagramável da história (e aprenda a prepará-la).

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 19 fev 2025, 14h18 - Publicado em 14 jan 2025, 10h00

Em 1864, Pyotr Smirnov abriu uma fábrica de vodca em Moscou. Ele investiu pesado na propaganda em jornais e fazia doações à Igreja, ferrenha opositora da bebedeira russa, para amenizar críticas diretas ao seu produto. A estratégia funcionou: 20 anos depois, Pyotr já detinha mais da metade do mercado da cidade, e a vodca Smirnov tornou-se a predileta da corte.

Quando a Revolução Russa estourou, em 1917, muitos aristocratas e empresários fugiram do país. Pertencer à burguesia, afinal, poderia garantir o camarote nas execuções na guilhotina: bem embaixo dela. Um dos que escaparam foi Vladimir Smirnov, filho de Pyotr. Ele abriu algumas destilarias pela Europa e voltou a fazer vodca, agora com o nome grafado “Smirnoff”. As vendas eram fracas, mas dava para sobreviver.

Em 1925, Vladimir reencontrou o russo Rudolph Kunett, um antigo parceiro de negócios que havia fugido para os EUA. Kunett apostava no fim da Lei Seca e comprou de Vladimir os direitos para produzir Smirnoff em solo ianque. Quando a lei caiu, em 1933, os americanos se entupiram de cerveja, uísque e gim – mas não aderiram à bebida russa de gosto neutro. No primeiro ano, Kunett vendeu só 1.200 garrafas, quase todas para outros imigrantes russos.

Falido, Kunett ofereceu a operação da Smirnoff para a Heublein, uma distribuidora de alimentos e bebidas. John Martin, presidente da empresa, se interessou pela vodca pelo seu baixo custo de produção (a matéria-prima da fermentação costuma ser batata, mas misturas com quase todo tipo de grão também servem). Faltava, porém, fisgar o paladar americano.

Na Carolina do Sul, um comerciante aumentou as vendas de vodca ao anunciá-la como um “uísque branco”, que não deixava mau hálito. A Heublein embarcou: reformulou as propagandas da Smirnoff, transformando a falta de sabor do produto no seu principal chamariz.

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O sucesso, porém, não se deve só aos inimigos do bafo de cerveja. Nos EUA pós-2ª Guerra, dois tipos de coquetéis se popularizaram: os tiki (drinks com inspiração tropical, como a Pinã Colada) e aqueles feitos com misturas industrializadas. Eram bebidas doces, que mascaravam o gosto do álcool, e a neutralidade da vodca era ideal para esse fim. A Smirnoff controlou 99% do mercado americano até os anos 1970, quando outras concorrentes (caso da sueca Absolut) apareceram.

O Moscow Mule nasceu como parte do marketing da Smirnoff. O drink surgiu nos anos 1940, quando Martin e Kunett (que passara a trabalhar para a Heublein) se encontraram com Jack Morgan, um dono de restaurantes que queria aumentar as vendas da cerveja de gengibre que produzia. O plano, então, foi criar um coquetel que promovesse ambas as bebidas. O nome faz menção à origem russa da vodca e ao sabor do fermentado de gengibre (forte como o “coice de uma mula”).

A caneca típica do drink, por sua vez, é uma contribuição da namorada de Morgan, Ozeline Schmidt, herdeira de uma fábrica de cobre que também queria alavancar suas vendas. A peça virou estrela de uma campanha que ajudou a disseminar o Mule: Martin ia de bar em bar com uma câmera Polaroid (criada em 1948) e pedia aos bartenders que preparassem o drink: quem posasse com a caneca poderia ficar com a foto instantânea, então uma novidade. E assim nasceu a primeira bebida instagramável da História.

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Moscow Mule

1 – Leve ao fogo partes iguais de água e açúcar e mexa até dissolver. Reserve esse xarope, bastante usado na coquetelaria.

2 – Em uma caneca de cobre ou copo previamente gelados, misture um shot (de 45 ml a 60 ml) de vodca, 15 ml de suco de limão taiti e 10 ml do xarope de açúcar (ou duas colheres de sopa rasas de açúcar, se preferir).

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3 – Preencha dois terços do copo com gelo e ponha 90 ml de cerveja de gengibre (ou tônica sabor gengibre, mais fácil de encontrar). Adicione com cuidado para não perder o gás.

4 – Finalize com uma rodela de limão e folhas de hortelã. Você também pode colocar espuma de gengibre por cima (dá para comprá-la pronta), mas esse não é um ingrediente da receita original.

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