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Por que existem cristãos no Sri Lanka – e por que eles são perseguidos?

No país asiático, que sofreu uma série de atentados com motivações religiosas no último domingo, cerca de 7% da população se declara cristã.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 12 mar 2024, 12h40 - Publicado em 22 abr 2019, 20h26

No domingo de Páscoa, uma série de oito explosões matou 290 pessoas e feriu ao menos 500 no Sri Lanka, país do sul da Ásia. Os ataques tiveram como alvos principais hotéis de luxo e igrejas do país.

Três templos cristãos foram destruídos. Dois deles eram católicos, localizados na capital, Colombo, e em Negombo, cidade da costa oeste. O terceiro, protestante, ficava na cidade de Batticaloa, a 300 quilômetros de distância da capital.

Além do terror causado pelas centenas de mortes em locais públicos, chama a atenção o simbolismo por trás das tragédias. Primeiro, a escolha dos hotéis, tradicionais redutos de turistas – segundo o ministério do turismo, estima-se que pelo menos 39 mortos não viviam no Sri Lanka. Depois, o pano de fundo religioso.

A data escolhida para o atentado, o Domingo de Ressurreição, é um dos marcos mais importantes do calendário cristão – cuja celebração costuma levar um maior número de fiéis aos cultos. Além disso, Negombo é uma cidade marcada por sua população católica. Famosa por monumentos a Virgem Maria e igrejas construídas no estilo barroco, a cidade chegou a ficar conhecida como “pequena Roma”.

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A escolha por bombardear Batticaloa também não foi coincidência. Lá vivem milhares de pessoas da etnia tamil, uma minoria que esteve no centro de uma guerra civil que durou 26 anos e acirrou diferenças culturais.

O conflito, terminado de forma sangrenta em 2009, ficou marcado pelas ações do grupo extremista Tigres de Liberação do Tamil Eelam. Os rebeldes combatiam armados pela independência dos tâmeis frente ao governo do país, dominado pela maioria cingalesa. Além da diferença chave na linguagem, há também o fator crença: enquanto os cingaleses são essencialmente budistas, os tâmeis tem porcentagem maior de praticantes de hinduísmo, islamismo e cristianismo.

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A maior parte do país (mais de 70%) professa fé budista. Estima-se que cerca de 7% da população do Sri Lanka, onde moram 21 milhões de pessoas, seja cristã – destes, cerca de 82% são católicos apostólicos romanos. Completam a lista 12,6% de hinduístas e 9,7% muçulmanos. Os dados são do censo nacional de 2012.

Mas, por que o país asiático, com forte presença do budismo, influência do hinduísmo e proximidade do mundo islâmico incorporou também uma vertente ocidental? A resposta está no colonialismo europeu, responsável por introduzir o catolicismo na ilha.

Influência europeia

Quem chegou primeiro foi o império português, ainda em 1505. Além de usarem sua influência para intervirem em questões sucessórias em diferentes reinos locais do Sri Lanka, a presença lusitana serviu para fazer a fé cristã dar os primeiros passos.

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O processo de evangelização europeu teve continuidade mesmo após a saída dos portugueses, graças à Companhia das Índias Orientais, capitaneada pela Holanda. O trabalho de missionários holandeses em áreas da costa do país e a criação de entrepostos médicos e escolas, no século 19, fez espalhar, também, a versão protestante do cristianismo.

Em 1948, quando o Sri Lanka se torna independente da Grã-Bretanha, o budismo da maioria cingalesa começa a se tornar um elemento central na afirmação do novo país. E a influência religiosa europeia perdeu prestígio.

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Na década de 1960, como explica o especialista em religião Matthew Schmalz em artigo para o site The Conversation, tensões com o governo fazem com que a Igreja Católica perca sua independência. Na ocasião, o controle das escolas católicas é tomado pelo estado. Dois anos depois, em retaliação, haveria uma tentativa frustrada de golpe de Estado, organizada por oficiais católicos e protestantes da armada nacional do Sri Lanka.

O cristianismo passou a ser cada vez mais associado período colonial britânico – quando a maioria budista era reprimida.

Segundo destaca a emissora árabe Al-Jazeera, isso implicou em políticas de discriminação que tornaram “cidadãos de segunda classe” pessoas que fossem qualquer etnia diferente da cingalesa. A constituição atual do Sri Lanka coloca o budismo sobre outras religiões, o que facilita a ocorrência de casos de repressão.

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Em 2018, a Aliança Nacional Cristã Evangélica do Sri Lanka relatou 86 casos de discriminação, ameaças e violência contra cristãos. Antes dos ataques de domingo, eram 26 eventos do tipo somente em 2019.

O mais recente datava de duas semanas atrás. Era a data conhecida como Domingo de Ramos, que inicia a semana santa e culmina na Páscoa, quando uma igreja cristã metodista na cidade de Anuradapura foi atacada. Pessoas da maioria cingalesa-budista alvejaram o prédio com pedras e fogos de artifício e prenderam fiéis no interior do templo.

De acordo com dados da Missão Portas Abertas, organização que atua nos países onde há perseguição ao cristianismo, o número de cristãos mortos por intolerância religiosa no país mais que triplicou desde 2012: saltou de 1,201 para 4,136, em 2018. Mesmo assim, o Sri Lanka ocupa apenas a 46 colocação na lista dos 50 países onde é mais difícil ser cristão, segundo relatório da mesma organização.

Apesar de grupos extremistas budistas terem, historicamente, tomado iniciativas de repressão e intolerância religiosa na região, a série de episódios mais recentes parecem ser fruto de um fenômeno religioso com um currículo de terror mais extenso a nível global: a jihad islâmica.

Nesta segunda-feira (22), o governo do Sri Lanka afirmou que o National Thowheeth Jama’ath, um pequeno grupo jihadista que promove o terrorismo no sul da Ásia, era responsável pelos ataques. Apesar de divulgarem a ideologia islâmica abertamente pelo país, seus representantes nunca haviam protagonizado um ataque letal com proporções parecidas – o que faz o governo local afirmar que poderiam ter contado com ajuda estrangeira. Nenhum grupo terrorista, no entanto, reivindicou a autoria das explosões até agora.

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