Por que Trump quer anexar a Groenlândia?
A ilha é um território autônomo, mas pertence à Dinamarca. Entenda a sua história e o interesse americano pela região.

Numa coletiva de imprensa na última terça-feira (07), o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que quer anexar a Groenlândia, uma região autônoma que pertence à Dinamarca, país aliado dos EUA e um dos membros fundadores da OTAN. Mas por quê?
Trump já demonstrou interesse por comprar a maior ilha do mundo várias vezes, desde sua primeira vez ocupando o Salão Oval – mesmo que ela não esteja à venda, como já ficou claro em diversos comunicados do território autônomo. O rei da Dinamarca até mudou o brasão do país para dar mais destaque para o urso polar branco que é o símbolo da Groenlândia.
Essa não é a única aspiração geopolítica de Trump, que também afirmou querer mudar o nome do Golfo do México para “Golfo da América”. Ele demonstrou interesse ainda em adquirir o Panamá e transformar o Canadá, território maior que todo o país de Trump, no 51° estado dos EUA.
Na coletiva de imprensa em seu QG em Mar-A-Lago, na Flórida, Trump afirmou que o Panamá e a Groenlândia são necessários para a segurança nacional dos Estados Unidos. Quando foi questionado por um jornalista se ele excluía usar coerção militar ou econômica para conquistar o território (leia-se: invasões e sanções), o futuro presidente dos EUA disse que não pode garantir que nenhuma dessas duas coisas aconteça.
Além disso, o filho mais velho do presidente eleito, Donald Trump Jr., está em viagem na Groenlândia. Depois da visita, a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, voltou a afirmar que “a Groenlândia não está à venda e também não estará no futuro”, reforçando a posição do primeiro-ministro do território autônomo, Múte Egede – que também defende a independência da ilha.
Neste texto, vamos entender por que a Groenlândia faz parte da Dinamarca – e por que Trump quer melar essa história.
Motivos militares, materiais e cartográficos
Localizada no Ártico, a Groenlândia tem apenas 56 mil habitantes. Ela tem 2,1 milhões de quilômetros quadrados (não se engane pelos mapas de Mercator: a projeção distorcida faz parecer que a ilha é maior do que a África, que é 14 vezes maior do que ela).
A região foi colonizada por algumas populações norueguesas há mais de mil anos. Depois deles vieram os inuítes, que conviviam pacificamente com os cristãos escandinavos. O reino da Noruega reivindicou a Groenlândia oficialmente em 1261. Em 1397, a Dinamarca se juntou à monarquia.
Após séculos de ocupação e atividade agrícola (o clima era mais ameno em regiões ao sul; daí o nome da ilha, que significa “terra verde”), os cristãos sumiram por volta do século 15. Em 1721, o reino da Dinamarca-Noruega reivindicou de novo a Groenlândia como colônia.
Depois da Guerras Napoleônicas (1803-1815), os dois países escandinavos se separaram. No divórcio, a Dinamarca ficou com a Groenlândia – como continua até hoje.
O interesse ianque na ilha vem desde o século 19, diga-se. Em 1867 o presidente americano Andrew Johnson pensou em comprar a ilha depois de ter anexado o Alasca, mas acabou desistindo da ideia.
Na Segunda Guerra Mundial, a Dinamarca foi ocupada pelos nazistas, o que obrigou os moradores da Groenlândia a comprar comida e mantimentos dos Estados Unidos e do Canadá. Ao fim da guerra, os EUA ofereceram US$ 100 milhões à Dinamarca pela ilha – mas a compra não foi para a frente.
Essa breve afastamento da Dinamarca durante a guerra foi importante para a ilha conquistar mais independência, com governo e parlamento próprio e comunicação com outros países além da sua metrópole. Desde 1979, a ilha é um território autônomo ligado ao reino dinamarquês.
Atualmente, a Groenlândia tem 56 mil habitantes e uma posição geopolítica invejável, entre a América do Norte e a Europa. A capital da ilha, Nuuk, fica mais perto de Nova Iorque do que de Copenhague, a capital da Dinamarca.
Um dos principais motivos para o território ser tão cobiçado por Trump é que a Groenlândia poderia ser usada para repelir um possível ataque da Rússia. Desde 1951, os Estados Unidos tem uma base aérea no noroeste da Groenlândia, equipada com um sistema de alerta de mísseis entre Moscou e Nova Iorque. Se alguma outra potência assumir o controle da ilha (Trump falou de se proteger contra navios russos e chineses), os EUA ficariam expostos.
Riquezas sob o gelo
Na coletiva de imprensa, Trump também afirmou que precisa da Groenlândia por razões econômicas. Mas o que a ilha congelada tem de valioso?
Várias coisas: petróleo, gás, lítio (usado na produção de baterias), cobre, níquel e grafite são algumas das riquezas minerais presentes no território da Groenlândia.
A ilha também conta com grandes depósitos de terras raras, elementos químicos com características magnéticas que são essenciais para a transição energética, usadas na fabricação de turbinas eólicas e motores para veículos elétricos. Atualmente, quem domina a mineração de terras raras é a China.