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À procura de extraterrestres

Vai começar a mais ampla busca de inteligência fora da Terra. Com radiotelescópios e computadores, a Nasa se prepara para ouvir sinais de outros planetas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h38 - Publicado em 28 fev 1989, 22h00

Martha San Juan França e Kátia Zero

Como fazia regularmente, havia cinco anos, o operador de plantão no observatório astronômico da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, passou naquela manhã de agosto de 1977 para recolher as dezenas de metros de papel impresso pelo computador acoplado ao radiotelescópio de 53 metros. Sempre havia, nesses papéis, milhares de números – sinal de que o radiotelescópio captara apenas as caóticas radioemissões produzidas por estrelas, pulsares, quasares e demais corpos celestes naturais. Naquela manhã de agosto, porém, quatro letras se destacavam tão nitidamente entre os milhares de números impressos que o operador, entusiasmado, anotou ao lado: Wow!

É o correspondente, em inglês, ao nosso uau! e o espanto do operador era justificado: na programação que alimenta o computador ligado ao radiotelescópio, letras significam a recepção de uma mensagem coerente, que jamais poderia ser produzida pelos corpos naturais do Universo. “Era exatamente como imaginávamos uma emissão de origem inteligente”, lembrou para SUPERINTERESSANTE o astrônomo Robert Dixon , coordenador do projeto de radioescuta da Universidade de Ohio. Imediatamente o radiotelescópio foi colocado a operar na mesma freqüência em que havia captado os sinais decodificados em letras, mas os sinais coerentes não se repetiram.

Decorrido doze anos, Dixon, que contínua como um estóico sacerdote, sempre à míngua de verbas e voluntários, a tocar seu projeto de escuta do Universo, à procura de inteligência fora da Terra, comenta o incidente que passou para a história com o nome de “o grande Wow”. “Estou convencido de que há outras civilizações no Universo. Mas talvez nunca saibamos se os sinais que captamos eram de alguma delas”. Como Robert Dixon, algumas centenas de cientistas dispersos por países como a União Soviética, a Inglaterra, a Austrália, a França ou o Canadá, além dos Estados Unidos, naturalmente, tentam provar que a Terra não é o único ponto do Cosmo habitado por vida inteligente. Desde 1960 eles esquadrinham o céu do hemisfério norte (somente no próximo ano astrônomos argentinos treinados nos Estados Unidos começarão a pesquisar no hemisfério sul). Foram mais de 450 mil horas de escuta, o que corresponde a 18.770 dias, ou 51 anos de trabalho ininterrupto.

Muitas vezes apareceram letras em lugar de números, é verdade. Em março, de 1967, os astrônomos Jocelyn Bell e Anthony Hewish, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, mediam a cintilação de um quasar – distante corpo celeste que emite poderosíssimas radiações – quando começaram a receber sinais ritmados. A reação, inevitável, foi imaginar que eram extraterrestres chamando, e a fonte de radiação chegou a ser batizada LGM, iniciais de little green men, alusão às velhas histórias de ficção científica que descreviam os marcianos como homenzinhos verdes. Mas não tardou que a alegria se esvaísse – descobriu-se que as radiações vinham de um pulsar, uma estrela de rotação ultra-rápida que emite sinais tão rigorosamente sincronizados que por eles se acertam os mais preciosos relógios da Terra.

Bell e Hewish pelo menos ficaram com a glória de ter feito a primeira observação de um pulsar. Nem todos tiveram essa sorte. Há oito anos a astrônoma americana Jill Tarter, que trabalha para a NASA, captou sinais estranhos durante cinco dias seguidos, no radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico. “Ficamos entusiasmados”, conta ela. “Parecia que alguma coisa estava acontecendo”. Para decepção geral, descobriu-se que todos os dias, às 20 horas, quando a estrela, para a qual o radiotelescópio estava apontado, aparecia no céu, mudava o turno dos vigias do observatório e a primeira providência do que saía era ligar o transceptor de rádio do seu automóvel na faixa de cidadão.

No grande Wow!, porém, nada disso aconteceu. Durante semanas e meses, procuraram-se radiorreceptores, estações locais, aviões civis e militares, mesmo satélites artificiais – nenhum artefato humano foi localizado como possível emissor daquelas letras fantásticas. Mas ninguém desanimou por causa disso. Pacientemente, os astrônomos continuaram a ouvir o céu. Em 1992 eles receberão uma ajuda poderosa: nesse ano, se não sofrer novos cortes de verbas, a NASA colocará em ação na Califórnia, no Ames Research Center, em San Jose, e no Jet Propulsion Laboratory, em Pasadena, perto de Los Angeles, o mais poderoso programa de escuta celeste já sonhado.

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Em todos esses lugares, os cientistas têm a mesma esperança: se existirem seres inteligentes em outros planetas – e por tudo o que se conhece da evolução da vida na Terra há razões para supor que ela possa ter ocorrido em outros pontos do Universo -, tais seres acabarão por entrar em

contato. Pode ser de maneira involuntária, como talvez venha a acontecer com as transmissões de TV e radar da Terra que seguem incessantemente para o espaço e, em tese, um dia serão captadas por eventuais habitantes. Ou pode ser por meio de uma mensagem deliberada numa freqüência capaz de ser identificada em qualquer canto do Universo.

A data de 1992 para iniciar o projeto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) da NASA não foi escolhido ao acaso. À sua maneira, a agência espacial americana pretende homenagear o navegador genovês Cristóvão Colombo, que, exatos quinhentos anos antes, abriu caminho à descoberta de novas civilizações ao pôr os pés na América. Em seu escritório no Ames Research Center, uma das diretoras do programa, a astrônoma Jill Tarter, uma simpática loira de 44 anos, modos decididos e fala macia, informou a SUPERINTERESSANTE que a NASA gastará 2,5 milhões de dólares no projeto – uma insignificância perto dos 600 milhões que custou o lançamento do ônibus espacial Discovery no ano passado. Ainda assim, esse dinheiro permitirá que durante dez anos sejam examinadas mais emissões de rádio interestelares do que o total estudado por todos os projetos até este ano.

Nem os astrônomos da NASA nem os de outras instituições dedicadas ao SETI têm intenção de enviar sondas espaciais a outros planetas; da mesma forma, não esperam receber visitas do espaço – apesar de tudo aquilo que dizem os caçadores de OVNIs, os objetos voadores não identificados que, segundo a imaginação popular, costumam visitar a Terra e desaparecer sem deixar vestígios (SUPERINTERESSANTE nº 1, ano 2). Como resume Jill Tarter, “não existem provas da existência de discos voadores”.

Se um contato pessoal com os extraterrestres é uma possibilidade extremamente remota, raciocinam os cientistas, nada impede que – caso eles existam – enviem sinais de vida. O homem aprendeu há pelo menos 32 anos, quando captou pela primeira vez os sinais do satélite soviético Sputnik, que grandes antenas parabólicas dotadas de receptores sensíveis podem detectar emissões artificiais de rádio vindas do espaço – se forem apontadas para a direção certa, na hora certa e sintonizadas na freqüência certa. Um astrônomo de muita sorte, ou dedicado a um trabalho paciente e sistemático durante anos, poderia distinguir esses sinais. Seriam uma espécie de música harmônica em meio à dissonância dos ruídos do espaço. Em termos de ficção, equivaleriam à seqüência de notas que o cineasta Steven Spielberg inventou como mensagem dos extraterrestres no filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de 1977.

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O projeto SETI multiplicará enormemente as chances de se ouvirem sinais no espaço. Para isso, disporá de um MCSA, sigla em inglês de Analisador Espectral Multicanal, acoplado a um supercomputador. Ligado à antena de um radiotelescópio como o de Arecibo, em Porto Rico, de 305 metros de diâmetro, o MCSA é capaz de analisar ao mesmo tempo o equivalente a 10 milhões de “emissoras de rádio” espaciais, identificando automaticamente qualquer transmissão de sinais coerentes. Tão seletivo é o sistema que, se fosse um aparelho de rádio comum, poderia, entre os milhões de estações sintonizadas, ignorar por exemplo as que estivessem transmitindo rock e registrar apenas música clássica. “Com a tecnologia disponível há cinco anos, isso não seria possível”, explica Jill Tarter, do Ames. “Agora podemos até escolher entre vários modelos de equipamentos”.

A NASA vai prestar atenção no comprimento de onda de 18 centímetros, correspondente à faixa de rádio em torno de 1.666 megahertz. Esta é a freqüência emitida pela molécula de hidroxila (OH), formada de oxigênio e hidrogênio resultantes da decomposição da água. Cada vez que uma dessas incontáveis moléculas se movimenta – e isso ocorre a todo instante em todos os cantos do Universo -, libera uma ínfima quantidade de energia captada graças à sensibilidade dos radiotelescópios, mesmo a milhares de anos-luz de distância.

Segundo os cientistas, seres extraterrestres inteligentes, cuja vida dependa da existência da água em seu ambiente e em seus organismos, usariam aquela freqüência como marca registrada de uma forma de matéria que lhes é familiar e que, presumivelmente, seria essencial à vida também em outros planetas. Assim, se tais ETs de fato existirem, transmitiriam mensagens nessa faixa, na expectativa de que outras civilizações na escuta iriam sintonizá-la. Com base nessa hipótese, a faixa de freqüência dos 1.666 megahertz é chamada pelos astrônomos americanos waterhole, algo como poço de água, porque os extraterrestres se aglomerariam em redor dela feito animais silvestres ao redor de um poço.

Como em geral essa faixa de freqüência é razoavelmente descongestionada, é usada esporadicamente no rastreamento de satélites artificiais. “Mas nos próximos anos ela poderá estar atulhada de sinais”, alerta Jill Tarter. “Então será mais difícil ouvir mensagens do espaço”. Porém, a grande questão é outra: como distinguir entre os ruídos captados pelos radiotelescópios alguma coisa que possa ser interpretada sem erro como uma mensagem do tipo “alô, alguém aí?”, vinda de algum planeta cujo endereço cósmico é incerto e não sabido. Por essa razão, Jill Tarter compara seu trabalho ao de um detetive. “Temos que ser extremamente cautelosos”, comenta ela. “Se captássemos algum sinal suspeito, isso precisaria antes de mais nada ser confirmado por outros radiotelescópios de várias partes do mundo. Só então anunciaríamos a descoberta”.

É fácil imaginar o que aconteceria então – e errar. Pois, de fato, além da previsível comoção mundial, tudo continuaria como dantes. Afinal, localizar uma mensagem é uma coisa; decifrá-la é outra completamente diferente e muitíssimo mais trabalhosa. Podem passar dezenas de anos antes que o homem entenda o que seus supostos interlocutores extraterrestres tinham a dizer. Por isso não é de estranhar que cientistas como o astrônomo americano Frank Drake, um dos pioneiros na busca de extraterrestres, até suspeitem que eles já fizeram contato com a Terra, mas os sinais não foram levados em consideração. Para Drake, “é muito possível que os sinais tidos como alarme falso no passado fossem realmente emitidos por ETs”. Em abril de 1960, por exemplo, ele examinou as estrelas Epsilon Eridani e Tau Ceti, respectivamente a 11 e 12 anos-luz da Terra. Drake denominou essa experiência de Projeto Ozma, em alusão ao distante reino de Oz da história do americano Frank Baum.

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Uma vez, Drake captou sinais estranhos que hoje acredita terem sido produzidos na própria Terra. A lembrança marcou-o: “Durante algum tempo fui tomado de uma imensa euforia. Era como se algo muito importante estivesse acontecendo, algo que mudaria completamente a qualidade de vida na Terra”. Pelo menos em parte, seu palpite estava certo. Há dois anos um grupo de astrônomos canadenses descobriu fortes evidências de que a estrela Epsílon Eridani possui pelo menos um planeta tão grande quanto o colossal Júpiter.

Aliás, boa parte do problema da existência de planetas fora do sistema solar está não só nos equipamentos disponíveis na Terra para localizá-los mas também na pouca visibilidade proporcionada pela atmosfera. Assim, se estivessem em Epsílon Eridani, num planeta semelhante ao nosso, os mais modernos instrumentos de observação fabricados na Terra, ainda assim dali eles não conseguiram registrar a presença de Júpiter. Por isso, já no tempo do Projeto Ozma se desconfiava, mas não se tinha nenhuma evidência, de que existiam planetas fora do sistema solar. Agora pelo menos se fotografou um sistema planetário em formação na estrela Beta Pictoris, a 50 anos-luz da Terra.

Funciona na Universidade de Harvard, em Massachusetts, o maior programa contínuo de busca de extraterrestres. Trata-se do META (sigla de Megachannel Extraterrestrial Assay) ou Análise Megacanal Extraterrestre), financiado pela Sociedade Planetária, entidade particular presidida pelo conhecido astrônomo e divulgador científico americano Carl Sagan, que visa apoiar programas de exploração no espaço. O META tem a capacidade de acompanhar 8 milhões de emissões de rádio ao mesmo tempo. Conta Thomas McDonough, coordenador do programa junto à Sociedade Planetária, que, quando foi criada, em 1985, era capaz de acompanhar somente 131 mil emissões. “Foi o cineasta Steven Spielberg quem doou o dinheiro que faltava para ampliar o sistema”, lembra McDonough.

Se uma civilização extraterrestre estivesse tentando estabelecer algum tipo de comunicação, em que direção seguiria a mensagem? Nesse tipo de correspondência se pode dizer que o destinatário é quem fica à procura do remetente – e não sabe onde encontrá-lo. Há algumas pistas, mas nenhum indício seguro. Uma maneira seria esquadrinhar rapidamente todo o céu em busca de sinais. Outra, mais demorada, procuraria contato diretamente com os alvos mais promissores.

A NASA pretende usar grandes radiotelescópios, como o já citado de Arecibo, para passar um pente fino por cerca de mil estrelas parecidas com o Sol, catalogadas pela União Astronômica Internacional, e portanto candidatas em potencial a possuírem sistemas planetários. Na escala do Universo isso é menos que uma insignificância: corresponde a décima parte de 1 por cento do espaço conhecido. De seu lado, para completar a pesquisa, o Jet Propulsion Laboratory de Pasadena pretende usar o pente grosso, fazendo uma varredura total do céu com os mesmos radiotelescópios usados normalmente no rastreamento das sondas espaciais. Segundo o astrônomo Michael Klein, encarregado dessa parte do projeto, “em sete anos teremos dado um passeio completo pelo céu à procura de sinais extraterrestres”.

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Mas nem tudo nessa pesquisa será feito nos Estados Unidos. Desde o começo do ano, astrônomos argentinos estão aprendendo como funciona o META, na Universidade de Harvard. Eles pretendem usar o radiotelescópio de 40 metros de diâmetro, instalado em Vila Elisa, a 40 quilômetros de Buenos Aires, para sintonizar estrelas parecidas com o Sol, cuja a radiação só pode ser captada no hemisfério sul. O Brasil, no entanto, não vai usar nesse projeto a antena de 13,7 metros de diâmetro do rádio-observatório do INPE, em Atibaia, São Paulo.

Embora possa ser sintonizada na freqüência de 1.666 megahertz, aquela do poço de água, a antena do INPE não tem a mesma sensibilidade dos receptores maiores. Ainda assim já serviu para a busca de sinais extraterrestres. Há dois anos, o astrônomo William Vilas-Boas captou ondas de rádio vindas de uma das estrelas da constelação de Fornax, a 20 anos-luz da Terra. Com o auxílio do radar da Aeronáutica da Barreira do Inferno, em Natal, as emissões foram retransmitidas em outubro passado para o ponto de origem, como quem diz “mensagem recebida”.

Como os sinais de rádio viajam à velocidade da luz, só em 2008, ou seja, vinte anos depois, os eventuais habitantes de um eventual planeta ao redor de uma estrela da constelação de Fornax estarão recebendo os sinais retransmitidos pelo astrônomo brasileiro. Essa, aliás, é uma das ironias da comunicação em escala cósmica. Tome-se, por exemplo, o caso da TV, que os astrônomos consideram o mais potente transmissor da Terra. Vai demorar ainda algum tempo até que os habitantes de um planeta distante possam assistir ao programa “Notícias da Terra”, transmitido no dia 26 de dezembro último pela rede americana ABC especialmente para ETs, mas que também pôde ser visto nos Estados Unidos.

Por enquanto, se existirem extraterrestres, digamos, em algum planeta na órbita da estrela Gamma Cephei, a 48 anos-luz de distância, só em 1984 eles receberiam os primeiros sinais de TV originários da Terra emitidos em 1936. Não foi um bom programa. Mostra o ditador nazista Adolf Hitler discursando na abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim, três anos antes de começar a carnificina recorde da Segunda Guerra Mundial.

Não é à toa que os astrônomos terrestres preferem ouvir a ser ouvidos. “Não pretendemos transmitir nenhuma mensagem”, informa Michael Klein, o risonho e comunicativo chefe do projeto da NASA em Pasadena. “Acredito que é mais sensato ser cuidadoso. A melhor política é ouvir antes de começar a gritar na selva”. Apesar dessa atitude, a NASA não resistiu à idéia de mandar um recado ao espaço. Como se sabe, as sondas espaciais Pioneer 10 e 11, lançadas em 1971 e 1972, levaram na bagagem placas de alumínio anodizado com o desenho de um homem e de uma mulher nus, um diagrama do sistema solar com as distâncias relativas dos planetas, além de informações sobre o átomo de hidrogênio (SUPERINTERESSANTE nº 17, ano 3).

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Em 1977, os astrônomos Carl Sagan e Frank Drake tiveram a idéia de colocar nas naves Voyager 1 e 2, que seriam lançadas naquele ano, um disco-mensagem com informações científicas, músicas e saudações em quase todas as línguas faladas na Terra, além de sons de animais. Antes disso, a 16 de novembro de 1974, foi emitida pelo radiotelescópio de Arecibo a primeira e ainda única mensagem radiofônica destinada a extraterrestres.

Traduzida, a mensagem codificada em sistema binário resulta numa figura com a especificação dos elementos químicos dos seres vivos, o número de habitantes do planeta e sua aparência. A mensagem avisa onde ficam a Terra e o radiotelescópio que fez a transmissão. Ela foi dirigida à constelação de Hércules, talvez por ser a mais povoada de estrelas da Via Láctea. Se houver alguém à escuta ali, infelizmente receberá a correspondência com uma certa demora – 25 mil anos, exatamente.

“Essas dificuldades mostram que a procura é difícil. Mas não chegamos a desanimar”, comenta o químico Cyril Ponnamperuma, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, que assessorou os experimentos da sonda Viking, destinados a identificar moléculas orgânicas no planeta Marte. A Viking não descobriu vestígios de vida no solo marciano, mas nem por isso se descartou a possibilidade de que ela tenha existido num passado muito distante. No que se refere ao SETI, insiste Ponnamperuma, “começamos há pouco tempo e as distâncias são imensas. Mas sou otimista”.

É bom que seja. Pois, além desses obstáculos, há o problema adicional da sincronia – é preciso que a mensagem recebida pela Terra proceda de um planeta cujos habitantes estejam mais ou menos em pé de igualdade conosco em matéria de tecnologia, isso para não falar em outras dimensões da civilização como o grau de desenvolvimento social e político, sem o que o diálogo ficaria talvez impossível. E tudo tem que ocorrer em tempos compatíveis para nós e para eles. Segundo o celebrado escritor de ficção científica Isaac Asimov, isso já é incentivo suficiente para procurá-los. Pois, como observa de seu lado o astrônomo húngaro Christophe Kotanyi, atualmente no INPE, “na base de tudo estão as eternas indagações do homem – o que somos, de onde viemos e para onde vamos”.

Para saber mais:

E a nave vem

(SUPER número 1, ano 2)

A ordem é contato imediato

(SUPER número 5, ano 10)

Querido símbolo da Terra

Um Sol amarelo, uma imensa bola azul representando a Terra e outra menor, branca, para a Lua. Assim é a bandeira que o astrônomo americano Robert Dixon, da Universidade de Ohio, e um dos mais respeitados pesquisadores de sinais extraterrestres, usou para simbolizar o planeta Terra. Dixon aproveitou a idéia de um agricultor do Estado americano de Illinois, chamado James Cadle, que criou a bandeira como emblema de uma ação que representasse a humanidade como um todo. Agora ela serve para informar que a Terra está à espera de sinais de outras civilizações: pode ser encontrada tanto nos escritórios do projeto SETI, da NASA, na Califórnia, como no Instituto Argentino de Radioastronomia, perto de Buenos Aires, e ainda no observatório de Zelenchukskaya, no Cáucaso, União Soviética, onde está localizado o maior telescópio ótico do mundo.

É um final nobre para uma história que começou mal. Antes da primeira missão tripulada à Lua, em 1969, um grupo de cientistas americanos propôs o hasteamento ali de uma bandeira que representasse toda a humanidade – para dizer que os avanços científicos que permitiram a era das viagens espaciais pertenciam ao mundo inteiro e não a esse ou àquele país. A idéia não foi aceita e a bandeira americana está fincada até hoje na Lua.

Nihil obstat

“No princípio, Deus criou o céu e a terra”, começa a Bíblia. Mais adiante está escrito: “Disse também Deus: ‘Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre toda a Terra e sobre a Terra’. Lidos ao pé da letra, esses textos poderiam induzir os cristãos a negar a hipótese de vida inteligente fora da Terra. Mas não é isso que acontece. “A existência de vida em outros planetas seria mais um a prova da ação de Deus”, afirma o reverendo Silas Pereira Barbosa, pastor da Igreja Metodista no Brasil.

De seu lado, o bispo católico Angélico Sândalo Bernardino é taxativo: “Jamais a Igreja disse que a vida só existe na Terra”. Mas a Igreja tampouco diz o contrário. Segundo o teólogo Benjamin de Souza Neto, da Ordem dos Beneditinos, o Vaticano não tem posição oficial sobre o assunto. Para ele, a crença em Deus parte da premissa de que toda forma de vida é obra sua. “Nesses termos, a existência de vida inteligente fora da Terra é uma hipótese aceitável”, raciocina. “Será preciso apenas analisar o caráter da mediação às formas de vida extra-humanas”.

Rastros de vida

Há cerca de 4,6 bilhões de anos a Terra se formou a partir da condensação de gases e poeira interestelares. Fantásticas descargas elétricas e a luz ultravioleta do Sol separaram as moléculas simples, ricas em hidrogênio, existentes na atmosfera primitiva, em fragmentos que se recombinaram formando moléculas cada vez mais complexas. Dessa primitiva sopa orgânica surgiu uma molécula capaz de fazer cópias de si mesma, dando início ao processo da vida. Teoricamente esse processo pode ter-se repetido em outros lugares, pois todo o Universo é formado pelos mesmos elementos.

Foram descobertas substâncias orgânicas em enormes nebulosas. A sonda espacial Giotto, que passou perto do cometa de Halley há três anos, constatou estar ele coberto por uma camada negra, composta entre outras coisas de carbono, um dos elementos essenciais à vida. Há mesmo cientistas que especulam com a hipótese de que a vida tenha chegado à Terra a bordo de cometas ou meteoros. Também é possível que em outros rincões do Universo moléculas semelhantes às proteínas e ácidos nucléicos que originaram a vida na Terra tenham se combinado formando organismos diferentes.

Nisso acredita a astrônoma Jill Tarter, do projeto SETI, da NASA. Ela supõe que em algum lugar “esses organismos evoluíram até formar seres inteligentes”- um processo que, segundo o astrônomo Carl Sagan, poderia ocorrer em meio milhão de planetas, só na Via Láctea. Como seriam esses seres? “Os que estamos procurando teriam algum tipo de mão para manusear equipamentos, uma cabeça e um rabo para se movimentar”, imagina Jill. “Além de um sistema nervoso que os capacite a analisar o ambiente e a se comunicar”.

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