Texto Karin Hueck
É possível que isso aconteça logo, durante experimentos dentro do maior acelerador de partículas do mundo, que ligou seus motores em maio. O Grande Colisor de Hadrons (LHC, na sigla em inglês) é um túnel redondo, de 27 quilômetros de circunferência, enterrado 100 metros debaixo da terra na fronteira da Suíça com a França. Lá dentro, cientistas estão acelerando feixes de prótons, as partículas positivas do núcleo atômico, a 99,99% da velocidade da luz em direções opostas, para que se choquem. O resultado são 40 milhões de trombadas por segundo – que podem gerar, entre outras coisas, buracos negros. Mas não estamos falando daqueles corpos celestes enormes, com densidade tão intensa que engolem tudo o que estiver ao seu redor, inclusive a luz. Os buracos negros criados por humanos são realmente minúsculos.
“Um buraco negro produzido no LHC não danificaria a Terra ou as pessoas”, diz Michelangelo Mangano, físico do Cern, centro de pesquisa onde o LHC está instalado. Ele, na verdade, não teria nem tamanho suficiente para fazer mal a alguém: mediria apenas 10-16 centímetros, algo milhões de vezes menor que um grão de areia. Além disso, não viveria mais de 0,00…1 segundo (para ser preciso, são 27 zeros depois da vírgula), porque, como todos os outros buracos negros, emitiria radiação e evaporaria. Como essas eventuais criaturas do LHC seriam sempre minúsculas e sua energia, irrisória, sua vida também não passaria de um momento instantâneo.
Mas vamos supor que ele, em vez de evaporar, se mantenha estável. Aí o buraco pode devorar a terra? A resposta é não de novo. Nosso miniburaco negro teria sido criado quase à velocidade da luz (300 mil quilômetros por segundo) e continuaria a passear nesse ritmo se não desaparecesse. Assim, em menos de 1 segundo, ele atravessaria as paredes do acelerador e se afastaria da terra, em direção ao espaço. A única maneira de ele permanecer por aqui é se sua velocidade for reduzida a 15 quilômetros por segundo. Vamos supor que isso aconteça também.
Aí sim: por causa da gravidade, ele caminharia para o centro da terra. Mas continuaria sendo ínfimo e nada perigoso. Para que virasse uma ameaça, seria preciso ganhar massa e crescer, e isso só aconteceria se nosso buraco negro começasse a engolir muita matéria. O problema é que quem tem o tamanho de um próton passa facilmente pelo interior da terra sem trombar em nada – não parece, mas o mundo ultramicroscópico é quase todo formado por vazio. Na verdade, ele só encontraria um próton para somar à sua massa a cada 30 minutos a 200 horas de passeio. Ou seja, poderia demorar até 8 dias! Aí complica: “Para o buraco negro chegar a ter 1 miligrama, levaria mais tempo do que a idade atual do Universo”, diz o físico Alexandre Suaide, da USP.
Assim, mesmo que o buraco negro criado no Cern não evaporasse e não fugisse para o espaço, ele não conseguiria crescer o suficiente para se tornar uma ameaça a tempo de acabar com o planeta. Sem falar que o mundo acaba antes disso: em 5 bilhões de anos, quando o Sol explodir.
Mas e se… um buraco negro vindo do espaço caísse na terra?
Bom, ele não “cairia” aqui. A Terra é que cairia nele. Um buraco negro do tamanho de uma bola de pingue-pongue teria uma massa maior que a do nosso planeta, então iria atraí-lo. E a Terra começaria a orbitar o buraco. O primeiro sintoma para nós seria o fim dos dias e noites do jeito que conhecemos. Quanto mais rápido a Terra girasse em volta dele, menos iriam durar os dias e as noites. Depois, continuaríamos sendo puxados pelo buraco negro, nos aproximando dele num caminho em forma de espiral. Quando a Terra chegasse à borda do buraco, a atração num lado seria tão maior que no outro que o planeta arrebentaria. E a matéria que antes formava a Terra ficaria toda esticada, até se transformar em uma nuvem comprida e enrolada ao redor do buraco. Antes de ser tragado, o ex-planeta acabaria com um formato mais ou menos parecido com o da nossa galáxia, que, por sinal, está agora mesmo girando em volta de um buraco negro – só que um dos grandes, que pode ter um diâmetro quase 130 vezes maior que o do Sol.