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Campeão mundial de Go perde (por muito pouco) para robô do Google

Jogo milenar chinês é um dos desafios de raciocínio lógico mais complexos já criados pelo homem.

Por Guilherme Eler
23 Maio 2017, 16h36

Aconteceu de novo. A AlphaGo, inteligência artificial desenvolvida pela Google, voltou a superar um campeão no jogo chinês Go, um dos desafios de raciocínio lógico mais antigos e complexos do mundo. Também chinês, o prodígio Ke Jie, de 19 anos, iniciou com derrota a série de três partidas que disputará contra a máquina. Os confrontos acontecerão durante um evento que a empresa promove esta semana na China.

A derrota foi apertada, e conseguida pela diferença mínima, de apenas meio ponto. Se tiver algumas horas disponíveis, você pode assistir à partida completa neste link.

O encontro desta terça-feira, no entanto, não foi o primeiro revés de Ke Jie contra um oponente não humano. O jogador, que antes de conhecer a AlphaGo chegou a afirmar que nunca perderia para um computador, já coleciona outras três derrotas para a máquina do Google. Elas aconteceram durante testes on-line da tecnologia – que, em janeiro, acumulou um placar agregado de 60 a 0 contra jogadores humanos.

Ke Jie, na época, atribuiu as derrotas a problemas de saúde. “Se não estivesse no hospital, teria usado um movimento fatal que vinha preparando há uma semana… é uma verdadeira pena”, escreveu em seu perfil na rede social chinesa Weibo. Agora, terá mais outras duas oportunidades para testar sua tática – e fazer jus ao título de “deus do Go”, que ganhou da comunidade de fãs do jogo.

Até o ano passado, a ideia de que uma máquina poderia superar um grande jogador de Go era tomada como um tanto impossível. Isso mudou em março, quando a AlphaGo venceu quatro partidas (numa melhor de cinco) contra Lee-Se Dol, sul-coreano ex-campeão e hoje em sétimo do ranking.

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Essa crença pode ser explicada pela complexidade do Go, que proporciona um número muito maior de probabilidades que jogos de estratégia rivais, como o xadrez. Diz-se, por exemplo, que duas partidas do jogo chinês jamais foram jogadas da mesma forma. O que faz bastante sentido, já que uma partida pode ter mais resultados diferentes (10 elevado a 170) que a quantidade de átomos estimados no universo.

O objetivo do jogo é um tanto simples: cercar o adversário até que ele não consiga colocar mais peças no tabuleiro. Um de cada vez, os jogadores vão posicionando suas peças sobre as quinas das 361 casas. Não se pode trocá-las de lugar, apenas colocar peças novas.

Uma peça que é cercada pelo adversário nas quatro direções (norte, sul, leste e oeste) é capturada e retirada do jogo. Ela contará, ao fim da partida, um ponto a menos para o jogador que a perdeu. Ao final, ganha quem tiver o maior território. Esse território é definido pelo número de cruzamentos cercados por um jogador que não podem ser invadidos pelas peças adversárias.

A corrida entre humanos e máquinas nos jogos de raciocínio teve como primeiro e mais emblemático episódio a derrota de Garry Kasparov para o Deep Blue, computador da IBM, em 1997. Do campeão mundial de xadrez para cá, colecionamos algumas derrotas marcantes, é verdade. Mas isso não precisa ser razão para perdermos as esperanças. Assim como não passou invicta no ano passado contra o coreano, a AlphaGo pode também não resistir à tão falada arma secreta do jogador chinês. É aguardar as cenas dos próximos capítulos – ou torcer para, quem sabe, uma queda de energia bem na hora da partida.

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