Código de barras é coisa de Satã?
Você acredita mesmo que aquele monte de traços impressos nas embalagens dos produtos serve apenas para identificar a mercadoria e dizer quanto custa? Doce ilusão. Pois saiba que os códigos de barras ocultam os algarismos 666 - o número da Besta
Alexandre Matias e Vladimir Cunha
Eles estão em toda parte: no sabão em pó que lava mais branco, na lata de molho de tomate que você compra no supermercado, na capa da sua revista preferida. Padrão de reconhecimento e catalogação de produtos, os códigos de barras UPC estão presentes em nossa vida de forma tão avassaladora que se tornaram um ícone pop do capitalismo moderno. Mas, ao mesmo tempo em que fazem o dinheiro mudar de mão e alimentam o comércio mundial, os códigos de barras talvez sejam a única prova material de que, já há bastante tempo, o Anticristo está entre nós. Uma conspiração movida a dólares, tecnologia de ponta e capitalismo transnacional. Como se vê, o tempo de sacrifícios sangrentos e possessões demoníacas acabou. Nos dias que correm, o Filho do Demo está mais para um yuppie de Wall Street, possivelmente metrossexual e amante da música eletrônica, do que para a criatura de chifres e pernas de bode celebrizada em filmes como O Bebê de Rosemary (1968), O Exorcista (1973) e A Profecia (1976).
Para entender as teorias conspiratórias que cercam os códigos de barras, é preciso voltar ao ano de 1948. A pedido de uma rede de supermercados da Filadélfia, os estudantes Bernard Silver e Norman Woodland, do Drexel Institute of Technology, começaram a trabalhar em um sistema de identificação de produtos. Depois de pesquisar outros métodos, os dois nerds finalmente chegaram, em 1952, à criação dos códigos de barras UPC, que patentearam como um “Método e Aparato de Classificação Através da Identificação de Padrões”.
Apesar da eficácia do novo sistema, ele só seria implantado comercialmente em 1966, quando foram inventados os primeiros leitores de códigos de barras. A primeira empresa a utilizá-los foi a rede de supermercados Kroger, em Cincinatti, Ohio, que logo depois descartou a novidade. O motivo foi a falta de um padrão, pois cada loja imprimia os códigos UPC de uma maneira diferente. Um problema que foi resolvido apenas em 1974, quando um comitê formado pela National Association of Food Chains (NAFC) adotou as etiquetas com linhas verticais pretas, utilizadas até hoje no mundo inteiro. A apresentação ao público foi em 26 de junho de 1976. Um pacote de chicletes Wrigley’s, o primeiro produto industrializado a vir com os códigos UPC impresso na embalagem, inaugurou o novo sistema.
CONTROLE CIAL
Parece difícil estabelecer alguma conexão entre essa história e a vinda do Anticristo e o Dia do Juízo Final. Mas, segundo os teóricos da conspiração, os códigos de barras podem servir para tudo, menos para a identificação de produtos. Eles seriam uma forma de controle social criada por Satã, o passo definitivo rumo ao Apocalipse, quando toda a Terra irá se curvar ante os poderes do Mal (não que isso já não esteja acontecendo – afinal, desgraça é o que não falta neste planeta). Nas etiquetas que seguem o padrão UPC, cada algarismo é representado por duas linhas que variam na espessura e na distância entre elas. O número oito, por exemplo, é representado por duas linhas finas. Já o número sete é representado por uma linha grossa e outra de tamanho médio. Ao todo, cada etiqueta contém 12 números – que indicam, entre outras coisas, o preço, o fabricante e o país de origem do produto – distribuídos em 30 linhas verticais.
Até aí, tudo bem, não fossem as chamadas “linhas-guia”. Formadas por um conjunto de seis linhas verticais, elas servem para indicar o começo, o meio e o fim da leitura dos códigos. Em cada etiqueta, elas são encontradas em três lugares: no canto direito; no meio, separando pela metade os 12 números de cada código; e no canto esquerdo, indicando que a leitura dos códigos chegou ao final. Como as “linhas-guia”, apesar de um pouco mais longas, seguem o mesmo padrão do número seis (duas linhas finas próximas uma da outra), cada código de barras, obrigatoriamente, carrega o número 666, o número da Besta.
Daí para as teorias mais absurdas é um pulo. As teses conspiratórias baseiam-se em uma das mais famosas profecias bíblicas, o Apocalipse de São João, capítulo 13, versículos 16, 17 e 18: “A segunda Besta faz também com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, recebam uma marca na mão direita ou na fronte. E ninguém pode comprar nem vender se não tiver a marca, o nome da Besta ou o número do seu nome. Aqui é preciso entender: quem é esperto, calcule o número da Besta; é um número de homem; o número é 666”.
É por isso que, cada vez que um caixa de supermercado passa uma etiqueta de código de barras no leitor da máquina registradora, pode apostar que, em algum lugar do mundo, um fundamentalista religioso e paranóico respira fundo, morrendo de medo de que aquele pacote de macarrão instantâneo que acabou de comprar seja só mais um passo na grande conspiração satânica que pretende dominar a Terra e infligir aos seres humanos tormentos ainda mais terríveis do que o grupo BR’Oz ou o último filme da Maria Zilda.
De fato, os códigos de barras estão em toda parte e, hoje em dia, é quase impossível comprar ou vender algum produto que não esteja marcado com o número 666. Talvez seja apenas coincidência. Ou então um sinal de que, escondido na presidência de uma multinacional ou literalmente fervendo em alguma rave em Ibiza, o Anticristo comemora a chegada do Apocalipse. Satã conspira e nós é que pagamos a conta?
Eu acredito!
“Um dos meus passatempos quando criança era ir ao supermercado com minha avó, a saudosa Dona Alcinda. Ela adorava quebrar o pau com uma fiscal, Dona Neves, que vivia com o marcador de preços na mão. ‘Larga esse revolvinho, que um dia quem vai tomar tiro é você’, dizia minha avó. Um belo dia, ela teve uma surpresa: ‘Trocaram as etiquetas de preço por uns riscos na embalagem!’. Como ela iria ver os preços dos produtos? O que aconteceria à abominável Dona Neves? Dias depois, soubemos que Dona Neves foi morta com 18 tiros (três vezes seis, ou 666…). Foi a prova de que o código de barras é mesmo o alfabeto do demônio.”
Eduardo Vieira, editor da Info Corporate, nunca mais comprou em supermercados
Echelon, o moderno Grande Irmão?
Veja lá o que fala: um onipresente sistema de computadores monitora todos os telefonemas e e-mails trocados no mundo
Cuidado: uma rede mundial de espionagem pode estar de olho em você. Supostamente criado por um consórcio que inclui agências de inteligência dos Estados Unidos, do Canadá, da Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia, o projeto Echelon seria um sistema de computadores gigantesco capaz de registrar cada conversa telefônica, cada mensagem de fax e cada e-mail enviado mundo afora. Seria uma versão ultratecnológica das ferramentas de controle social do Big Brother, ou Grande Irmão, o ditador de 1984, do escritor George Orwell.
De acordo com os conspirólogos, o Echelon foi criado inicialmente para interceptar e decodificar comunicações diplomáticas e militares da antiga União Soviética. Com o fim da Guerra Fria, o sistema mudou seu foco, passando a monitorar grupos terroristas e traficantes de drogas. Além, é claro, de países “suspeitos”, simpáticos ao fundamentalismo islâmico ou pouco interessados em se engajar na guerra contra as drogas empreendida pelo governo americano.
O poder atribuído ao sistema é tão grande que se especula que ele seja usado não só com objetivo estratégico-militar, mas também para fins menos nobres, como monitorar os hábitos de consumo dos internautas, informação que poderia ser vendida posteriormente para grandes corporações, e os e-mails de pessoas comuns. Ao todo, estima-se que cerca de 3 bilhões de trocas de mensagens – entre e-mails, faxes, telefonemas e conversas de rádio – sejam interceptadas diariamente pelo Echelon. Um número assustador, que levou a Comunidade Européia a emitir, em maio de 2001, um comunicado aconselhando os cidadãos a utilizarem e-mails criptografados para proteger sua privacidade.
Com a “Guerra contra o Terrorismo” do presidente George W. Bush alcançando os níveis mais altos de desrespeito aos direitos civis, é possível que o grau de interferência de sistemas como o Echelon aumente ainda mais à medida que a paranóia americana se intensifique. Resta saber se o Grande Irmão não tem coisa melhor para fazer do que ficar bisbilhotando telefonemas prosaicos entre duas pré-adolescentes conversando sobre garotos, duas comadres trocando receitas de sobremesa ou dois marmanjos debatendo um jogo de futebol.