Espelho mágico: imagens eletrônicas perfeitas
Computadores e programas cada vez mais acessíveis criam imagens perfeitas, ao misturar figuras, cores e formas.
Patrícia Jota
Há apenas cinco anos, para produzir uma imagem eletrônica de qualidade era preciso usar uma estação de trabalho — um computador médio que não saía por menos de 30 000 dólares. Hoje, com um micro de 2 000 dólares, um bom profissional fabrica imagens perfeitas — elas passam por fotografias verdadeiras, embora tenham sido criadas por truques digitais. Não representam nenhuma pessoa ou objeto real.
A manipulação de imagens ganha cada vez mais espaço no dia-a-dia. É que os programas ficam mais sofisticados, e podem ter utilidade para um maior número de profissionais. Os programas usados para gerar as fotos não são excepcionais: estão em qualquer loja, por um preço que muitos podem pagar. O resultado, este sim, é que é fora do comum.
Basta ver as estranhas figuras criadas pelo artista plástico chinês Daniel Lee, estabelecido em Nova York. Ele usa um programa, o Photoshop, para introduzir traços dos animais do zodíaco chinês em rostos humanos. Quem vê, pensa que a exótica criatura resultante existe de verdade. No mesmo pique, o ilustrador brasileiro Newton Verlangieri fez para SUPER uma metamorfose impossível: transformou um antiquado Ford 1934 numa tremenda Ferrari F-4.
Não está muito longe o dia em que os estudantes de medicina farão parte de um clube ainda restrito: o dos profissionais que já não podem prescindir das imagens digitalizadas. Elas hoje têm um papel limitado no ensino da Medicina, como diz o gerente de negócios da CI-Compucenter, de São Paulo, Nílson Martinho: “Os médicos digitalizam fotos de cirurgias para mostrar aos seus alunos, durante as aulas. Mas dentro de alguns anos, eles talvez possam treinar a mão para as cirurgias como se estivessem lidando com um paciente real”.
Para alterar imagens de acordo com os procedimentos de uma cirurgia, um programa teria de simular as incisões do bisturi e as modificações que isso causa nos órgãos (mostrando partes internas, corrimento de sangue e assim por diante). Os programas futuros com essa qualidade terão de ser ao mesmo tempo, baratos e fáceis de operar.
Afinal, há pouco tempo ninguém imaginava que fosse possível, por exemplo, criar uma mulher com características de uma serpente. Ou, então, montar a foto de uma atriz imaginária com partes de quatro atrizes de carne e osso: rosto da Cristiane Oliveira, cabelos da Maitê Proença, boca da Fernanda Torres e olhos da Bruna Lombardi. E o mais impressionante é que não há exatamente uma soma de formas: em vez disso, nasce uma mulher com um charme particular, que não se encontrava em nenhuma das mulheres originais. Mas, apenas parte do mérito cabe à máquina: mais importante foi a sensibilidade de Verlangieri, o criador da imagem. Ele suavizou os recortes no cabelo e nos olhos, as alterações de cor na boca, e corrigiu as proporções para que o conjunto ganhasse harmonia. Por que, se o computador ajuda, a mão do artista é essencial.
Para saber mais:
Cinema digital
(SUPER número 4, ano 10)
Escolha o seu programa
Photoshop: Um dos melhores softwares de sua categoria faz montagens, muda luz, cor e foco, aplica filtros e transforma uma pessoa em outra. Fabricado pela Adobe, empresa americana, e distribuído no Brasil pela CI-Compucenter e pela MultiSoluções, custa (na MultiSoluções) em torno de R$900,00.
Picture Publisher: Tem praticamente os mesmos recursos do Photoshop, embora mais limitado. É fabricado pela Micrografx, empresa americana e distribuído no Brasil pela Softsolution. Custa R$600,00.
Corel Photo Paint: Também é específico para tratamento de imagens, com menos recursos que o Photoshop. O Corel Draw inclui o Photo Paint e é fabricado pela empresa canadense Corel, distribuído no Brasil pela CI-Compucenter. A versão 5.0, em inglês, custa R$800,00. A versão 4.0, em português, custa R$600,00.
Morph: Ótimo para fazer deformações e transformar uma imagem em outra. Fabricado pela Gryphon Software, empresa americana.Não é distribuído no Brasil. Nos Estados Unidos custa R0,00.
Painter: Usado para fazer ilustração, também trabalha com fotografias. Possui instrumentos como giz de cera, óleo, lápis, carvão e várias técnicas de pintura. Fabricado pela Fractal Design Corporation, empresa americana, não é distribuído no Brasil. Nos Estados Unidos custa R$600,00.
Velho fica novo:
O Morph, muito usado no cinema e em propagandas de televisão,é o programa ideal para transformar um Ford 1934 numa Ferrari F-4, 1990. O ilustrador Newton.
Verlangieri fez a “mágica”. Primeiro, usou um scanner, aparelho que captura a imagem de uma foto ou de um slide para a memória do computador. Verlangieri “escaneou” uma foto de cada carro. Depois, indicou os pontos das imagens que ele queria distorcer. O programa, então, alterou as formas do Ford, aproximando-as dageometria da Ferrari:veja como a velha capotaconversível se encaixacom precisão na forma domoderno aerofólio.