Futuro sem apagão
Relatório aponta que no futuro a energia elétrica será gerada por uma rede de pequenos produtores.
Rafael Kenski
Pois é. Falemos um pouco mais de como driblar a crise de energia, porque a coisa está escura. Imagine que, há 30 anos, as empresas possuíam apenas um grande computador para processar todas as informações – o mainframe. Não passava pela cabeça de ninguém que essas máquinas seriam substituídas por centenas de pequenos computadores ligados em rede. Um processo semelhante deve acontecer com a rede elétrica. Em duas décadas, a maior parte da energia não será gerada por grandes usinas, mas por uma rede de pequenos geradores, painéis solares, turbinas eólicas, células de combustível e até carros. É o que aponta um relatório do Instituto de Pesquisa em Energia Elétrica (EPRI), o maior centro de pesquisas da área nos Estados Unidos. O relatório é resultado de um congresso que reuniu especialistas de 150 universidades, empresas e agências americanas para discutir as tendências da distribuição de energia nos próximos 50 anos.
Segundo o governo dos Estados Unidos, o consumo mundial de eletricidade deve crescer 73% até 2020. “Nenhum tipo de usina conseguirá suprir sozinho a demanda”, afirma Sérgio Cunha, diretor da EPRI no Brasil. É provável que muitas empresas, residências e carros comecem a produzir a própria eletricidade, usando o sol, o vento e outros combustíveis. A enorme quantidade de geradores que serão instalados estarão interligados por centrais inteligentes, que irão direcionar a eletricidade para onde ela é necessária. Hoje, as centrais apenas mandam eletricidade para todos os lados, sem critério.
“Isso aumentará a confiabilidade do sistema, diminuirá os custos e permitirá que o consumidor forneça energia”, afirma o engenheiro Roberto Zilles, da Universidade de São Paulo. Isso mesmo: você terá um gerador em casa e a rede poderá comprar sua energia excedente se faltar em outro lugar. Pode até ser que sua conta de luz seja negativa no final do mês – a companhia de luz depositará dinheiro na sua conta em vez de cobrar.
Uma rede inteligente dessas fará malabarismos em crises de energia como a atual. A central poderá instruir todos os aparelhos de ar-condicionado da cidade a reduzir em 1% sua operação, provocando um aquecimento ínfimo, mas poupando uma grande quantidade de energia no horário de pico.
Tudo em rede
Em 2020, a energia vai vir de todos os lados, produzida por todo tipo de fonte
Centrais espertas
Na atual rede elétrica, a energia flui apenas para os lugares de menor resistência. No futuro, controladoras eletrônicas irão encaminhá-la para onde é necessária
Bons ventos
O número de usinas eólicas no mundo aumenta 24% a cada ano. No futuro, esses geradores não poluentes estarão no topo dos prédios e complementarão os painéis solares
Fios frios
Cabos supercondutores de cerâmica, resfriados por hidrogênio líquido a 139 graus Celsius negativos, transmitirão correntes enormes sem perda nenhuma
Gera watt
Microturbinas gerarão energia de forma eficiente a partir de qualquer combustível. O calor que elas produzirão poderá aquecer água ou os ambientes da casa
Ajudinha do Sol
Silenciosos e sem causar danos ao ambiente, os painéis fotovoltaicos ocuparão todos os lugares ao sol. O custo deve cair pela metade daqui a cinco anos
Usinomóvel
Já existem protótipos de carros que transformam o hidrogênio em eletricidade. No futuro, eles poderão fornecer energia à rede quando não estiverem rodando – basta ligá-los em uma tomada na garagem