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O rato que ruge: um raio X das forças armadas da Coreia do Norte

País-ermitão é cheio de peculiaridades também em suas Forças Armadas.

Por Fábio Marton
Atualizado em 23 ago 2019, 16h33 - Publicado em 5 ago 2019, 18h58

A esquisitice começa pela estrutura: tecnicamente, não existem Exército, Marinha e Aeronáutica norte-coreanos. O Exército do Povo da Coreia nem é um exército do país – é uma instituição do Partido dos Trabalhadores da Coreia, que domina o país desde sua fundação em 1946. É dentro desse exército – sob o comando direto do Supremo Líder King Jong-un, que por conta disso também tem o título de Marechal – que se localizam cinco departamentos: Força Terrestre, Marinha, Força Aérea, Força de Foguetes Estratégicos e Força de Operações Especiais.

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Em números absolutos, 1,280 milhão de ativos, é uma força respeitável – a quarta maior do mundo. Mas fica maior pondo em perspectiva que, num país com menos de 26 milhões de pessoas, é 5% da população. Compare aos 0,16% do Brasil, 0,4% dos EUA ou 0,1% de Índia e China. Fica ainda mais impressionante quando você considera as forças paramilitares, quase 6 milhões treinados e potencialmente capazes – como a Jovem Guarda Vermelha, universitários que são obrigados a um regime de treinamento de quatro horas por semana. No fim das contas, 25% da Coreia do Norte é militar ou paramilitar. E nem contamos os militares na reserva, que são mais de 6,3 milhões.

Mas a vantagem para no pessoal. Previsivelmente, os equipamentos da Coreia do Norte são principalmente armas dos tempos da metade da Guerra Fria ou até antes. O país opera tanques soviéticos e chineses, inclusive 650 dos famosos T-34 soviéticos da Segunda Guerra. Mas também um número considerável de duas criações locais, o Chonma-ho, atualização do T-62 soviético, e o Pokpung-ho, uma amálgama de vários designs estrangeiros – ninguém sabe o quão eficientes seriam na prática.

Os aviões também incluem algumas peças incrivelmente vintage, como o bombardeiro Ilyushin Il-28, que primeiro voou em 1948, e outras menos, como o MiG-29, de 1982.

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A Marinha é caso ainda mais crítico. Com a Coreia do Norte tendo duas costas separadas pela Coreia do Sul, e sem acesso ao mar aberto, cada uma de suas duas alas simplesmente não poderia ajudar a outra em caso de guerra. Seus navios são antigos e lentos – a maioria do enorme número no box acima é de pequenas lanchas de patrulha.

Arsenal de truques

O trunfo real da Coreia do Norte é, já alvo de tantos embargos, nem ter a intenção de jogar “limpo”. Toda sua estratégia, em que pesem tantos soldados e tantas armas convencionais, é baseada em guerrilha. Causar o maior dano ao invasor, a ponto de tornar o ataque inimigo politicamente insustentável.

Autoridades dos EUA e Coreia do Sul afirmam que o país, mesmo tendo assinado o Protocolo de Genebra, que as proíbe, tem um arsenal considerável de armas químicas e biológicas. Um indício disso teria sido o assassinato de Kim Jong-nam, o irmão mais velho do líder supremo, em 2017, com o agente nervoso VX. E, entre muita especulação, surge até a exótica palavra “nano-armas” – o próprio Kim Jong-un acusou a CIA de tentar usar “nanoveneno” para assassiná-lo. Nanopartículas podem ser tóxicas sem causar reações químicas, causando dano físico, mais ou menos como amianto nos pulmões, só que mais rápido. A famosa “buckyball”, C-60, uma bolinha geodésica de carbono, pode destruir células ao contato.

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Ficção científica? Que tal um fuzil laser? O “fuzil” ZM-87 tem mais de 20 anos. É uma criação chinesa dos anos 1990 e só é capaz de cegar, não cortar alguém em dois. Armas desse tipo são proibidas pelo Protocolo de Banimento de Armas Laser Cegantes da ONU, de 1995. Podem mutilar pilotos sem volta, mas também ser usadas para destruir sistemas de infravermelho.

Outra arma exótica: torpedos humanos: com um mergulhador montado em cima, numa cadeira e exposto, são pilotados até o alvo. O mergulhador salta antes do impacto. Isso foi usado com sucesso na Segunda Guerra por italianos, alemães e ingleses. A história foi contada pelo dissidente Kang Myung Cheol, ao aparecer num barco de madeira na Coreia do Sul em 2010. Ele ainda falou que os pilotos são treinados para sobreviver em alto-mar por três dias.

Mas a cereja do bolo, é óbvio, são as armas nucleares. Apesar das ameaças e tentativas desde o seu primeiro teste, em 2006, os líderes norte-coreanos sabem muito bem o quanto a sobrevivência de seu regime depende delas. Era então uma arma primitiva, de primeira geração. Em 2017, fizeram um teste do que disseram ser uma bomba termonuclear, imensamente mais potente. Autoridades internacionais, que avaliaram o resultado pelo abalo sísmico causado, não chegaram a um consenso se foi mesmo um artefato desse tipo. Tenham o que tenham, o míssil mais potente da Coreia do Norte, o Hwasong 15, supostamente é capaz de atingir Washington.

É sob essa posição que as negociações com o país ermitão estão andando. Em 30 de junho, Donald Trump se tornou o primeiro presidente americano a pisar no solo do país, junto com o presidente sul-coreano Moon Jae-in. O plano é desnuclearizar e integrar a Coreia do Norte. Mas o país irá aceitar abrir mão de seu único trunfo?

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