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Outras potências

Conheça outros 12 países que, com forças grandes ou modestas, são jogadores na geopolítica local ou mundial.

Por Fábio Marton
Atualizado em 9 ago 2019, 17h42 - Publicado em 5 ago 2019, 18h21

Às armas, cidadãos!

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Há quem diga que os países da Otan terceirizam sua defesa para os EUA. Trump provavelmente tinha algo assim na cabeça quando chamou a Otan de “obsoleta” na campanha e voltou a falar do tema a seus assessores militares no começo deste ano. Mas definitivamente isso não pode ser dito da França. Com um orçamento militar logo atrás da Rússia, uma competente indústria bélica e o terceiro maior arsenal nuclear, os franceses levam muito a sério suas Forças Armadas. Faz sentido para um país que vem de vasta história militar, que inclui a Legião Estrangeira, algo único no mundo. Com cerca de 10 mil soldados de várias nacionalidades, está em ação neste momento como parte da força de paz no Afeganistão.

A França está também envolvida no conflito sírio, coordenando ataques ao Estado Islâmico com os EUA, oferecendo uma ajuda particularmente importante, de artilharia e suporte aéreo, na Batalha de Mosul (2016), na qual a então capital do Estado Islâmico foi liberada. Em 2016, diante dos ataques terroristas sofridos pela França, foi criada a Guarda Nacional, polícia militarizada treinada para atuar como exército de reserva.

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(Kiran Ridley/Getty Images)

A herança de um império

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Em território total, nenhum império do mundo superou o Britânico, onde se dizia que o “sol nunca se põe”. E a grande vantagem desse passado é que as Forças Armadas da rainha contam com 16 bases pelo mundo, das Falklands/Malvinas a Singapura. E sua doutrina, como aprenderam nossos hermanos argentinos em 1983, derrotados em dois meses apesar da vantagem logística, se baseia em se mover e atacar rápida e fulminantemente. A Marinha britânica conta com capacidade nuclear e, apesar de ter sofrido cortes desde os tempos das Malvinas, é considerada a quarta mais poderosa do mundo, perdendo apenas para os três grandes. É famosa pelos Royal Marines, uma força de ultraelite com cerca de 7 mil soldados, treinada não só para invasões anfíbias, mas até combate ártico e nas montanhas. Após colaborar com os EUA no Afeganistão e Iraque, o país está massivamente envolvido no conflito contra o Estado Islâmico, provendo defesa aos porta-aviões americanos e promovendo 1.652 ataques aéreos, mais 933 por drones, até abril de 2019.

O escudo do Ocidente

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Quando as forças nazistas foram derrotadas pela invasão conjunta do Exército Vermelho Soviético e os aliados ocidentais, o país foi dividido em dois. E desarmado. A Bundeswehr (“Defesa Federal”) foi criada em 1955, quando a Alemanha Ocidental, a parte capitalista, estava já havia dez anos sem defesa própria, só contando com as forças de ocupação. Houve uma imensa discussão, interna e externa, sobre como tornar impossível que o país que havia começado as duas grandes guerras mundiais o fizesse de novo. E a herança da desconfiança são as 36 bases americanas no país, mais forças britânicas e francesas – ainda que em situação bastante amigável.

A necessidade de formar um escudo contra os países da Cortina de Ferro prevaleceu e a Alemanha, em 1990, terminou com um Exército de meio milhão de efetivos, que o historiador da Guerra Fria americano John Lewis Gadis considerou o melhor do mundo. E surgiram os panzers Leopard 1 e 2, considerados dos melhores tanques da Guerra Fria. Mas esses tempos há muito se foram. Um acordo assinado na reunificação entre as Alemanhas, condição da União Soviética para reconhecer o novo país, reduziu esse número para 370 mil, e cortes de orçamento diminuiram ainda mais, até a posição atual. A ponto de a Otan pressionar o país a se armar. Em 2016, o governo alemão anunciou um plano de expansão que deve durar até 2030.

Aliado indeciso

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Único país islâmico na Otan, e único a ter a maioria de seu território na Ásia, a Turquia sempre foi um caso especial. Na Guerra Fria era uma ameaça à União Soviética, a pouca distância e impedindo-a de dominar o Mar Negro. Depois, um freio às pretensões russas. Ela concentra ainda hoje o maior arsenal atômico compartilhado pela Otan. As bombas ficam na base de Incirlik, dividida com os EUA. Como as na Alemanha, não são do tipo estratégico, para destruir cidades, mas tático, para usar contra tropas. O país costumava ser estritamente fiel a seus aliados, até a ascensão do populista Recep Tayyip Erdoğan ao cargo de primeiro-ministro em 2014.

E então o país que apoiava Israel e havia participado da Guerra do Afeganistão e o ataque da Otan à Líbia em 2011 começou a lentamente mudar de lado – mudanças tão mal recebidas que foram uma das razões da tentativa de golpe militar em 2016. Desde então, países ocidentais passaram a protestar, o cerco à oposição aumentou e a Turquia passou a cortejar a Rússia, com quem teve sérias rusgas – chegando à derrubada de um caça russo passando por seu território em novembro de 2015. O namoro é complicado: a Turquia, envolvida profundamente na Guerra Civil Síria, é contra o regime Assad, aliado da Rússia.

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(Anadolu Agency/Getty Images)

O enigma da esfinge

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Mais um país islâmico numa situação complicada. No Egito, como na Turquia, os militares são tradicionalmente uma força de secularismo pró-ocidental. E foi contra a percebida tendência de islamização da Primavera Arabe que o general Abdel Fattah el-Sisi, um militar que estudou no Reino Unido e Estados Unidos, subiu ao poder por meio de um golpe de estado em 2014. El-Sisi reaproximou o país dos Estados Unidos e de Israel, e se afastou da Turquia de Erdogan. Parte do orçamento militar do Egito inclusive vem dos EUA – cerca de US$ 1,3 bi por ano. E o arsenal do Egito, se conta com vários itens soviéticos, é basicamente ocidental. Bem recentemente, porém, Sisi começou a aproximar o país da Rússia.

Em março de 2017 estava encontrando Trump em Washington. Em dezembro, assinando um acordo com Putin para a construção de um reator nuclear. No mesmo ano, encomendou tanques T-90 dos russos. Mas o país continua colaborando com Israel na luta contra insurgentes no Sinai, um grupo que conta com a participação do Estado Islâmico e é um potencial barril de pólvora para a geopolítica local.

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(picture alliance/Getty Images)

O preço da paz

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A terra dos samurais não tem Forças Armadas. Em tese, as Forças de Autodefesa do Japão são outra coisa. A Constituição Japonesa afirma em seu artigo 9: “O povo japonês para sempre renuncia à guerra como um direito soberano da nação e a ameaça ou uso da força como meio de resolver disputas internacionais. Como medida para atingir o objetivo do parágrafo anterior, forças de terra, mar e ar, ou qualquer outro potencial de guerra, nunca serão mantidas”. Foi um artigo imposto numa Constituição escrita por americanos, e invariavelmente chegou-se à conclusão óbvia de que era inviável, ainda mais na Guerra Fria. O Tio Sam olhou para o outro lado e, em 1954, as forças foram criadas. Para um não exército, está muito bem: em 2015, um estudo pelo banco Credit Suisse estimou a força japonesa – com a tecnologia da poderosa indústria nacional – como a quarta mais poderosa do mundo.

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Limitadas pela Constituição, o trabalho das FAJ tem sido participar de missões da ONU – a última no Sudão do Sul, de 2016. Diante das ameaças da Coreia do Norte, há hoje muita discussão sobre como interpretar o artigo 9. Se “autodefesa” inclui ataques preventivos. E até mesmo o grande tabu no país atingido em Hiroshima e Nagasaki, a criação de armas nucleares, está de volta à mesa.

Teocracia amiga dos EUA

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Como o Irã, a Arábia Saudita é um regime controlado por uma interpretação ultraconservadora da lei islâmica. Mas o primeiro é sunita, o segundo é xiita, e, nessa divisão histórica que vem de poucos anos após a morte do Profeta Maomé, ambos acabam tentando ser a maior força geopolítica de seu campo – o que se reflete na atual Guerra Civil do Iêmen, iniciada por uma revolta militar dos houthis xiitas em 2011.

Em 2015, a Arábia Saudita coordenou uma massiva ação militar com a ajuda dos EUA, tendo enviado 150 mil soldados e mais 100 aviões de combate. E, desde então, ambos vêm afirmando que o Irã está armando os rebeldes. O adversário nega qualquer envolvimento – como negou também sua presença na Guerra Civil Síria. A teocracia do príncipe Mohammed bin Salman investe pesado em força militar e é totalmente armada pelo Ocidente, com sua força aérea formada principalmente por caças-bombardeiro F-15 americanos. Porém, o país produz seus próprios modelos de veículos de combate de infantaria (Al-Fahd) e drones.

Sempre alerta

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Olhe o numerão acima, o de efetivos. É, dependendo do ano, o sexto ou sétimo maior do mundo, às vezes encostando, às vezes passando do Paquistão. Maior que Irã. Dividindo a península com a Coreia do Norte, o pais ermitão e um dos mais militarizados do mundo, resta à Coreia do Sul ser hiperarmada. Isso é feito por alistamento obrigatório – que não é exatamente popular no país do K-Pop. Coreanos chegam a fazer enormes tatuagens (o que ainda é visto como coisa de bandido no país) para evitar o alistamento, já que as Forças Armadas as consideram “abominação entre os soldados”.

A Coreia do Sul também compensa com tecnologia. Tem uma indústria avançada, com o principal fuzil de assalto (o Daewoo K2) e o supersônico de ataque, de geração 4,5 (KAI T-50), desenvolvidos em casa. Até mesmo uma exótica metralhadora computadorizada automática (sentry gun) foi criada para a Zona Desmilitarizada com a Coreia. O país chegou a ter um programa nuclear – e teve centenas de armas americanas instaladas na Guerra Fria. Renunciou e abriu seus arquivos em 2004, mas continua a ser perfeitamente capaz de fazê-las. Suh Kune-yul, um professor da Universidade Nacional de Seul, estimou que levaria seis meses.

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(Chung Sung-Jun/Getty Images)

Herança dos maus tempos

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Como um país que costumava ser pária no mundo, durante o regime racista do Apartheid (1948-1984), se arma? Por conta própria – e umas ajudinhas por baixo dos panos. A maioria do equipamento da África do Sul, como todos os blindados do Exército, é criação local ou profunda modificação em heranças de antes do Apartheid, tempo da dominação britânica. Pegue o tanque Olifant, um Centurion britânico da Segunda Guerra transformado em tanque principal de batalha, ou o fuzil padrão Vektor R-4, derivado de um modelo israelense.

Algumas coisas, porém, são novas: nos céus, o país conta com caças Gripen, os mesmos que devem chegar ao Brasil. Na era do Apartheid, a África do Sul chegou a ter armas nucleares – numa colaboração ultrassecreta com Israel. Em 1989, foram desmontadas, e o país se tornou o único a desistir de um arsenal próprio. Não porque os militares do Apartheid fossem bonzinhos, mas porque temiam que elas caíssem nas mãos dos negros que estavam prestes a assumir o controle. Quando de fato assumiram, com a chegada de Nelson Mandela ao poder em 1994, foram feitas profundas reformas, que incluem a entrada no Exército de guerrilheiros anti-Apartheid. Hoje está presente em praticamente todas as intervenções da ONU no continente.

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(Spc. Taryn Hagerman/Divulgação)

O gigante do norte

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Um país de superlativos: maior população do continente e a segunda maior economia, depois do Egito, superando a África do Sul. E, como essa, é considerado um dos dois grande arrimos geopolíticos da África Subsaariana – tanto que o termo Pax Nigeriana é usado para se referir à relativa estabilidade da vizinhança em tempos recentes, não sem a ajuda de intervenções do vizinho poderoso. A Nigéria atualmente lidera a missão internacional de países africanos na supressão contra radicais islâmicos no Mali, assumiu o controle das Forças Armadas da Libéria e tem que enfrentar em casa o infame grupo terrorista Boko Haram.

Para isso conta com uma mistura da indústria local, muita coisa adquirida do Ocidente e relíquias soviéticas dos tempos da Guerra de Biafra (1967-1970), quando o governo do país recebeu apoio da URSS e do Reino Unido ao mesmo tempo, algo muito raro na Guerra Fria. A Aeronáutica conta com 12 caças leves alemães Alpha Jet dos anos 1970, nove obsoletos chineses F-7 (1966), 3 modernos chineses J-17 e 12 EMB-314 Tucano brasileiros encomendados. A Marinha passa por revitalização, voltada a proteger os rios e o litoral próximo.

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(Chris Hondros/Getty Images)

Inimigo em casa

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Depois do Brasil, a Colômbia é o país latino-americano com maiores Forças Armadas e maior orçamento militar. Não é por nada: é um lugar onde a Guerra Fria nunca terminou. Desde os anos 1960, mais de uma dezena de grupos lutou pela revolução comunista e contra ela, dos quais as famosas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), agora em cessar-fogo, são o mais poderoso. Do outro lado, os paramilitares de ultradireita, como a Oficina de Envigado, remanescente das forças de Pablo Escobar. Todos sustentados pelo narcotráfico. Todos se enfrentando entre si e as forças colombianas e americanas – nenhum país da América do Sul é tão consistentemente pró-americano.

E nisso ainda entra a Venezuela, acusada pela Colômbia de dar suporte a esses grupos. Em meio a isso tudo, curiosamente, a Colômbia não tem tanques, só blindados de infantaria. Tanques não funcionam bem em florestas tropicais. A Força Aérea também é atípica: além de 21 caças convencionais IAI Kfir israelenses, os outros veículos de ataque são um cargueiro modificado com metralhadoras (BT-67), pequenos jatos A-37 da era do Vietnã, e 25 tucanos brasileiros, usados pesadamente contra as FARC. A morte de diversos líderes por tucanos entre 2007 e 2012 levaria ao processo que terminaria no cessar-fogo de 2016.

Por uma promessa

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O que pode ser dito dos carros cubanos também pode ser dito de seu Exército hoje. Antigas, remendadas e mal e mal parando em pé, as Forças Armadas Revolucionárias Cubanas sobrevivem da herança de tempos mais prósperos. Cuba já chegou a ter a mais competente Força Aérea da América Latina e foi o país da região mais ativo militarmente, intervindo na Argélia (1964-1964), no Congo (1964), na Bolívia (1966-1967, terminando com a morte de Che), em Angola (1975-1991), na Etiópia (1977-1991) e até na Guerra de Yom Kippur entre Israel e países árabes, em 1973 – e nem listamos todos.

Como tudo no país, houve uma drástica queda após o fim da União Soviética e seus subsídios, em 1991. Desde então, como a Venezuela, hoje se fala em “guerra do povo”, a resistência para tornar uma eventual invasão muito custosa. Uma guerrilha, como a que fundou o regime. Mas a maior defesa de Cuba continua a estar numa promessa: como condição para encerrar a Crise dos Mísseis de 1962, quando ogivas nucleares soviéticas foram instaladas na ilha, o presidente John Kennedy prometeu solenemente à União Soviética que os EUA jamais invadiriam Cuba. Mesmo com o fim da URSS, a promessa tem sido mantida.

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