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Partida para um safári ao centro da Galáxia

A tecnologia está a um passo de permitir vasculhar regiões da Via Láctea até hoje escondidas pela poeira.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h37 - Publicado em 31 jul 1996, 22h00

Augusto Damineli Neto

Estou me despedindo dos leitores da SUPER, depois de escrever Universo por quatro anos. Foi duro tomar essa decisão, mas ela é inevitável. Estou indo para o centro da Galáxia. E isso vai exigir atenção total. Parto à procura de ninhos de estrelas supermassivas nessa região do céu, constantemente escondida por trás de densas nuvens de poeira e gases (veja o infográfico ao lado). Acreditamos que essas estrelas, com massa entre quinze e 100 vezes a do Sol, funcionam como marcos quilométricos ao longo dos braços espirais, até o núcleo da Via Láctea.

Para chegar lá, temos de planejar tudo, como se fosse um safári. Mesmo porque os melhores mapas de que dispomos são ainda imprecisos. Precisamos também de possantes telescópios e câmeras que fotografem em infravermelho, além de uma boa equipe. Em termos de equipe, estou bem. Vou trabalhar no Laboratório de Astrofísica de Boulder, no Colorado, junto com Peter Conti, uma fera em estrelas supermassivas.

Os mapas vêm do satélite Iras e dos radiotelescópios. Eles mostram indícios de que o centro da Galáxia é um imenso berçário estelar. Não dá para ver as estrelas-bebês diretamente. Só captar a radiação infravermelha (calor) e as ondas de rádio que escapam da poeira, que parece ser aquecida por estrelas azuis recém-nascidas. Existe tanta poeira na direção do centro da Via Láctea que a luz visível não consegue atravessar mais do que 12 000 anos-luz. Ou seja, ficamos a menos de meio caminho do coração da Galáxia, que está a 30 000 anos-luz. Aqui da Terra, mesmo com os mais potentes telescópios existentes hoje, enxergamos as supermassivas como pontinhos vermelhos, muito fracos. Como, então, vencer os restantes 18 000 anos-luz?

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Há um tipo de radiação emitida pelas estrelas, chamada infravermelho próximo, que consegue driblar os grãos de poeira e chegar até aqui. Olhar para o centro da Galáxia sintonizando essa faixa de ondas seria como abrir uma janela e descortinar a visão completa da Via Láctea. Os atuais detectores de infravermelho próximo ainda são pouco sensíveis. Mas alguns astrônomos já conseguiram descobrir algumas coisas muito interessantes. Uma delas é que nas proximidades do buraco negro central existe um grupo de estrelas azuis, muito grandes, que devem fazer parte de um dos maiores aglomerados estelares jovens que se conhece. Outros dois grupos menores foram achados nas proximidades desse.

Em Boulder, vamos coordenar a construção de uma câmera carregada com um superchip com 1 milhão de sensores de infravermelho próximo. Os chips usados hoje têm capacidade para 40 000 sensores. Quando estiver pronto, o novo dispositivo virá para o Brasil. Acoplado ao telescópio do Laboratório Nacional de Astrofísica, em Brazópolis, ele permitirá captar, numa única imagem, uma área correspondente a um quarto do tamanho aparente da Lua. É fantástico, pois com esse chip será possível fazer a radiografia completa da Via Láctea com um mosaico de algumas centenas de imagens.

A implantação definitiva da tecnologia de infravermelho vai acontecer na nova geração de instrumentos de grande porte, como os Gemini 1 e 2. Os dois telescópios gêmeos, com 8 metros de diâmetro, estão sendo construídos, um em cada hemisfério. O do hemisfério sul, nos Andes chilenos, ficará pronto por volta do ano 2000. Para mim, essa localização é perfeita e tem um encanto todo especial: ele fica bem debaixo do caminho diário do centro da Galáxia. Dali, poderei prosseguir viagem em direção ao coração da Via Láctea, quando voltar de Boulder. Terei então mais histórias de caçadas para contar. Até a volta.

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Augusto Daminelli Neto é doutor em Astrofísica pelo Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo

O caminho das estrelas azuis

Para enxergar o coração da Via Láctea, é necessário vencer 18 000 anos-luz encobertos por uma cerrada cortina de poeira interestelar.

De cabo a rabo

A Via Láctea é quase tão antiga quanto o Universo, com cerca de 15 bilhões de anos. Ela contém mais de 200 bilhões de estrelas, espalhadas por um diâmetro de 100 000 anos-luz.

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Ralo no centro

O coração da Via Láctea tem um buraco negro. É um imenso astro com força de gravidade tão intensa que não deixa escapar nem a luz. Ele suga gases e poeira num redemoinho alucinad

Berçário

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Imagens em infravermelho e rádio mostram que existe uma forte radiação vinda desta direção. São os primeiros indícios dos ninhos de estrelas.

Supermassivas ocultas

As estrelas de massa entre quinze e 100 vezes a do Sol ficam escondidas por uma cortina de poeira e gases. Só poderão ser vistas com os equipamentos de nova geração.

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Limite de visibilidade

Os melhores telescópios da Terra só conseguem enxergar até aqui, a cerca de 12 000 anos-luz da Terra. E já detectam ninhos de estrelas.

O minúsculo Sol

É um ponto perdido na ponta de um dos braços da Galáxia. Daqui até o centro da Via Láctea são 30 000 anos-luz de distância.

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