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Por que astrônomos criticam Elon Musk e seus satélites de internet espacial

Primeiros componentes da rede Starlink mal entraram em órbita e já estão criando polêmica na comunidade astronômica. Entenda a história.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 28 Maio 2019, 19h38 - Publicado em 28 Maio 2019, 19h33

Nem todo mundo está animado com os planos de Elon Musk de criar uma rede orbital com milhares de satélites – e, assim, cobrir o mundo todo com internet de primeira. Nem bem chegaram ao espaço na semana passada, a bordo de um foguete Falcon 9, da SpaceX, os 60 primeiros integrantes da constelação Starlink já se viram no centro de uma polêmica com a comunidade astronômica. E mexeram até mesmo com o pessoal da ufologia.

Desde que entraram na órbita baixa na última quinta (23), os satélites assumiram uma formação curiosa: eles aparecem enfileirados como um comprido trem cruzando as estrelas. Foi aí que os astrônomos ficaram ressabiados. Contrariando expectativas e promessas anteriores, os equipamentos se mostraram bem mais brilhantes que o esperado. Isso pode ser muito ruim para pesquisas astronômicas, e talvez até inviabilizá-las por completo.

Muitos estão empolgados com a visão inusitada no céu noturno. Um deles é Marco Langbroek, astrônomo e rastreador de satélites espiões nas horas vagas. Ele registrou a passagem do trenzinho orbital de Elon Musk pelos céus de Leiden, na Holanda, durante a madrugada do último sábado (25). Em seu blog, não escondeu a excitação. Bastante gente considera benéfica essa visão no céu, por atrair o interesse das pessoas para o espaço.

Mas o problema é que, no estado atual, os satélites de internet da SpaceX estão com magnitude (termo técnico para o brilho de um objeto no espaço) comparável à de estrelas bem brilhantes. Portanto, são tranquilamente visíveis a olho nu, mesmo de grandes cidades. Tamanha reluzência se dá por conta dos painéis solares das espaçonaves, cujo material reflete muita luz do sol. Ajustes do ângulo dessas estruturas, prometidos para os próximos meses, devem diminuir o brilho consideravelmente, mas não se sabe ao certo quanto — e nem se será o bastante.

Astrônomos já estão acostumados a lidar com satélites intrusos invadindo o campo de visão de seus telescópios e, muitas vezes, atrapalhando suas pesquisas. Isso não é novidade e, certamente, não haveria tanta reclamação dos pesquisadores contra os planos de Musk se a Starlink fosse parar por aqui. Mas não vai: espera-se que a constelação congregue 12 mil satélites até 2024. Preocupados, especialistas colocaram a coisa na ponta do lápis.

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Modelos simulando um cenário com todos os componentes em órbita indicaram que, nas noites mais longas de verão em locais distantes do equador, como a Europa e o Canadá, até 500 deles podem estar acima do horizonte e diretamente iluminados pelo Sol. Nessa escala, a situação pode realmente se tornar insustentável. E o pior é que no Twitter, onde a discussão está bem acalorada, Musk não respondeu direito as inquietações dos cientistas.

E, é claro, há o problema do lixo espacial. A SpaceX informou que os satélites são dotados de sistemas para monitorar possíveis detritos perigosos e, se preciso, acionar seus motores para desviar deles. Colisões orbitais podem criar um efeito cascata catastrófico conhecido como Síndrome de Kessler, que transformaria a órbita terrestre num verdadeiro lixão. Mas ninguém sabe se o combustível nos tanques será o suficiente para as manobras. Além das preocupações sérias envolvendo a Starlink, temos outras nem tanto assim.

Relatos de avistamentos de ovnis explodiram em fóruns de entusiastas do assunto. Houve quem descrevesse o rastro de pontinhos brilhantes no céu como uma “caravana” ou “trem” de estrelas. Sem entender o que era aquilo, muitos logo pensaram se tratar de algo como um esquadrão de discos voadores. Felizmente, a Terra está segura desta vez — mas a pesquisa astronômica corre riscos. Vamos torcer para que a SpaceX resolva a questão do brilho excessivo dos satélites da Starlink nos próximos lançamentos.

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