Por que vocês gostam tanto do Yahoo Respostas?
Ele é um dinossauro da internet. E continua crescendo, cheio de perguntas de utilidade pública. Como? Fizemos as perguntas. E trouxemos as respostas.
“Como fritar um ovo?”. “Tomar café demais faz mal?”. “O que fazer para curar ressaca?”. Ao digitar essas e centenas de outras perguntas no Google, o que sempre aparece entre os primeiros resultados é um link do Yahoo Respostas. Vai fazer um depósito bancário e não sabe o código do banco? Está lá. A capital da Hungria é Budapeste ou Bucareste? Ei-la! O site pode não ter a resposta para tudo, mas tem para muita coisa. E isso é a chave do sucesso desse ancião da internet. Ou não é? Na dúvida, a SUPER se cadastrou e resolveu perguntar para quem usa – e quem faz – o site.
Como ele funciona?
Para perguntar, não é preciso nem ter cadastro. É possível entrar com seu login do Facebook ou do Google. Feito isso, basta digitar a pergunta no espaço reservado para ela e classificá-la em uma categoria. Elas vão de artes a viagens e servem para facilitar as buscas de outros usuários. Depois, é só esperar as respostas, que chegam bem rápido. A questão fica aberta por cerca de quatro dias, quando você e a comunidade podem votar na melhor resposta, o que dá pontos para o autor (veja mais na próxima página).
Quem usa o yahoo respostas?
Mais de 250 milhões de pessoas. Em 2012, ele atingiu a marca de 300 milhões de perguntas respondidas. Segundo o Yahoo, duas questões são feitas e seis são respondidas a cada segundo. Isso se tratando de um site lançado em 2005, quando o Orkut começava a estourar no Brasil e pouca gente sabia o que era YouTube. Some a isso o visual digno de internet discada e temos, praticamente, um fóssil da era digital. Um dinossauro que, frequentemente, aparece na frente do Twitter nas listas de redes sociais mais usadas do mundo.
Mas isso lá é rede social?
Para Vivek Perumal, gerente de produtos do Yahoo Respostas, o serviço funciona como uma rede social, sim, pois permite conversas de usuários com interesses parecidos. E uma rede social de respeito, com oito anos de vida. Em um mundo com modas cada vez mais rápidas na internet (ah, Harlem Shake é tãão fevereiro de 2013), o site continua grande. Por quê? “Ele serve não apenas para compartilhar conhecimento técnico, mas para pedir conselhos, satisfazer curiosidades”, diz um estudo a respeito da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Ou seja, se o Google serve para buscar zilhões de informações, o YR tem resultados diferentes. Vai sair pela primeira vez com alguém? O Google dá o endereço, as resenhas do restaurante. O YR, por meio dos usuários, ajuda a escolher a roupa. “Sem contar que muitos fóruns parecem servir mais para interação apenas – como o de celebridades”, completa Mark Ackerman, um dos autores do estudo. Por exemplo, a pergunta “Quem é melhor atriz: Angelina Jolie ou Jennifer Aniston?” parece destinada apenas a colocar de um lado fãs da ex e de outro fãs da atual de Brad Pitt.
Como os usuários interagem?
De um jeito curioso. O site não favorece discussões, afinal não é um fórum. Você não pode comentar em uma pergunta mais de uma vez, o que impossibilita estender a conversa. A solução encontrada por alguns usuários foi quebrar uma discussão em outras perguntas, dando origem a tópicos que, para quem está de fora, podem não fazer sentido. Essa interação é algo que o finado Google Respostas (2002-2006) não permitia. Ali, um pesquisador respondia e o usuário precisava pagar entre US$ 2 e US$ 200 para perguntar.
Não deu certo. E por vários motivos, entre eles o surgimento de sites semelhantes gratuitos (o Yahoo Respostas manda beijos), acusações de plágio nas respostas e reclamações de que o Google estaria cobrando por um serviço que, nos EUA, é tarefa dos bibliotecários públicos. Bem, se o serviço do Google morreu porque cobrava, o do Yahoo dá certo por quê, então?
Quem responde ganha alguma coisa?
Respeito, simpatia, talvez credibilidade. Dinheiro, não. Um estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, observou 100 mil usuários e descobriu que cada um deles fez em média 20 perguntas em um período de 309 dias. E respondeu 11,6 vezes mais. “Eles contribuem substancialmente para a comunidade ao responder. E isso aumenta com o tempo”, diz o estudo. Sem tantas respostas, o site não sobreviveria.
“Sua estrutura social é muito boa: as questões não são difíceis e há muitas pessoas para responder. Se há respostas, as pessoas perguntam e o ciclo virtuoso continua”, diz Ackerman. Elas gostam de sentir que estão ajudando. Algumas passam horas fazendo isso. Há um estímulo aí. Porque tudo, na verdade, faz parte de um jogo.
Então é um jogo, mas ninguém ganha nada?
Bem, ganha. Pontos e medalhas em um ranking para galgar posições. Isso encoraja a participação e o esforço em dar respostas de qualidade. Há rankings de usuários e diferentes níveis, que dão mais autonomia. Os mais altos permitem, por exemplo, que você vote nas melhores respostas. E os usuários levam isso a sério. O líder absoluto do ranking é de São Francisco, EUA, e acumulou mais de 1,3 milhão de pontos. Para se ter uma ideia, cada resposta vale dois pontos.
Conhecido como Experto Credo, ele já respondeu a mais de 164 mil perguntas desde 2007 (se você se perguntou, ele tem emprego, mulher e filha). “Acabei no YR por acidente, quando participei de um concurso e vi que era preciso ser membro para concorrer. Gostei de sentir que ajudei alguém. E fiquei tentado a alcançar o líder, que tinha 350 mil pontos”, lembra. No início, Credo chegou a fazer mil pontos por dia. “Tenho insônia, então podia levantar às 3h e responder por três horas”, diz. Hoje, ele entra menos. Tem medo. Porque os pontos estimulam a generosidade, mas também um lado menos simpático dos usuários.
É todo mundo bonzinho?
Não. Os trolls, gente que faz bullying na internet, também fazem a festa no YR. Para dar entrevista, Credo não quis dar seu nome verdadeiro, temendo represálias, pois é um alvo visado. Os trolls criam perfis falsos para denunciar líderes do ranking de alguma irregularidade que não cometeram. E isso pode causar sua expulsão do site. “Já recebi vários ataques, incluindo um vídeo em que uma usuária se vangloriava por ter conseguido deletar mais de cem usuários. Era como um jogo de caça”, lembra Credo. Falta do que fazer?
Dá para confiar nas respostas?
Médio. As perguntas são basicamente divididas em fatos ou opiniões. “Para responder as do primeiro tipo, pesquiso. Sinto que 95% dessas perguntas podem ser respondidas com uma boa busca na internet”, diz Credo. “Já as baseadas em opinião podem ser mais complicadas, já que você dá uma resposta baseada em sua experiência – o que é ou não útil, pois suas circunstâncias podem ser diferentes”, completa. “Antes do YR eu não tinha noção de como os jovens são desorientados”, diz a farmacêutica Marília Moreira, 37 anos, líder do ranking Brasil.
“Me sinto recompensada quando consigo ajudar”. E a vantagem de um serviço com usuários de diferentes formações é que muitos serão, possivelmente, especializados em determinadas áreas. Marília responde muito sobre saúde feminina, por exemplo. “Hoje mesmo uma menina perguntou se corria risco de engravidar, pois havia parado de tomar pílula do dia seguinte. Ela estava tomando todo dia durante um ano! [a pílula tem alta carga hormonal e não deve ser tomada repetidamente]”.
Mas, por mais que muitas respostas ajudem, a maioria é inútil, de fato. Se a pergunta for complexa demais, dificilmente haverá uma resposta boa. Quando perguntamos a clássica e eterna “De onde viemos?”, por exemplo, responderam: “Da maternidade”. O Yahoo reconhece que a qualidade é subjetiva, já que qualquer um pode responder. “Porém, nos esforçamos para manter a qualidade, capacitando a comunidade para denunciar abusos e classificar respostas”, explica Vivek. “Temos também ferramentas para encontrar contas desonestas”, completa.
O site tem futuro?
Perguntado se os trolls o afastariam do site, Credo é enfático. “Não quero jogar fora meu trabalho. Tudo isso pode acabar amanhã e ninguém saberia que eu fui o número um por mais de quatro anos”. Enquanto os usuários pensarem assim, o Yahoo Respostas pode estar garantido. “Eu vejo a necessidade de um lugar desses continuar a existir por um longo tempo”, diz Ackerman. Para ele e os milhões de usuários do site, não se trata de buscar informações. Mas de encontrar respostas mais humanas.