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Projeto GeoEsfera: A Terra de corpo inteiro

Telas eletrônicas mostram ao público imagens de satélite e informações sobre a situação do planeta, florestas, animais, mares, populações, desertos, recursos naturais, religiões e bases militares.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 ago 1993, 22h00

Fátima Cardoso

Na tela do computador, a Terra aparece nua e descoberta de nuvens. Para além dessa imagem, como se ela fosse a primeira página de uma vasta enciclopédia sobre o planeta, estão bichos e humanos, florestas e queimadas, correntes marítimas e clima mundial, reservas de petróleo, agricultura, poluição, bases militares, religiões. Esse banco de dados formado por imagens de satélites, vídeo e computação gráfica compõe a Biblioteca Visual Global, mais uma etapa do Projeto GeoEsfera, liderado pelo artista plástico americano Tom Van Sant.

A Biblioteca faz parte da Sala de Situação da Terra, um centro de divulgação ao público das informações compiladas pelo Projeto GeoEsfera. Nascido há cinco anos, o projeto tem como meta facilitar a compreensão de sistemas globais complexos. “Com o uso da tecnologia, estamos criando visualizações que ilustram e aumentam nosso entendimento dos processos da Terra”, diz Van Sant. “É visualizando e entendendo esses processos que poderemos passar de consumidores de recursos naturais para administradores de recursos naturais.” Produtos finais do projeto GeoEsfera, cerca de vinte salas começam a ser montadas em todo o mundo, inclusive no Brasil — aqui, ela está no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos (SP).

O primeiro fruto do projeto de Tom Van Sant surgiu em abril de 1990, na forma de um mapa feito com a colagem de imagens do satélite NOAA-TIROS, usando-se apenas os pedaços que não estivessem cobertos por nuvens. Foi a primeira vez que se viu a superfície da Terra a partir do espaço, por inteiro e sem obstruções. Em seguida, nasceu o primeiro protótipo da GeoEsfera, um modelo real do globo terrestre com 2 metros de diâmetro. A mesma base de imagens usada para compor o mapa foi empregada para montar o globo, só que desta vez impressas em 36 gomos de papel fotográfico, colados pacientemente um a um. É como se fosse o mapa em três dimensões.

A GeoEsfera está programada para ser o centro da Sala de Situação da Terra. Montada sobre uma base e movimentada por um motor, terá suas funções controladas por computador, desde a velocidade da rotação e a iluminação interna até a projeção de imagens sobre sua superfície. Um exemplo do que essa sala permitiria ver está no plano de receber dados diretamente dos satélites meteorológicos GOES, GMS e Metsat, processá-los em computadores do tipo workstations (estações de trabalho, muito usadas em computação gráfica) e projetar as imagens resultantes sobre uma concha transparente que recobrirá a esfera. Isso serviria tanto para se ter uma visualização imediata da atmosfera terrestre como para montar uma seqüência com intervalos de tempo, a fim de se perceberem mudanças globais do clima.

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Por enquanto, nenhuma GeoEsfera com projeção de imagens controlada por computador foi implementada, pois os vários projetos de seu funcionamento ainda estão em estudo. As Salas de Situação da Terra já montadas são como a do INPE, que têm um computador onde se consulta a Biblioteca Visual Global e uma GeoEsfera apenas como demostração. Essa esfera é bem menos brilhante que o primeiro protótipo, pois não foi montada com papel fotográfico, e sim com papel impresso a laser, um processo comum para a impressão de imagens geradas em computador.

Para Tom Van Sant, a sua criação marca uma nova idéia de biblioteca. Ela foi planejada para ser consultada por cientistas, políticos, crianças, estudantes e qualquer pessoa que queira saber mais sobre o planeta Terra. “É como um sonho realizado. Pela eletrônica, acessamos instantaneamente uma biblioteca organizada geograficamente, com ícones em lugar de letras”, conta ele, embevecido. De fato, a primeira página não é um índice, mas a imagem da GeoEsfera, aquele mapa do planeta sem nuvens. É mais que um mapa, na verdade; é a cara da Terra. Se alguém quiser saber algo sobre o Brasil não vai escrever nada no teclado, e sim posicionar o cursor sobre o país e clicar com o mouse.

Além de sediar a Sala de Situação da Terra, o INPE também enviará ao escritório do Projeto GeoEsfera, na Califórnia, dados sobre o Brasil e a América do Sul para as constantes atualizações da Biblioteca, distribuída em disco laser. As imagens que se vêem hoje sobre o desmatamento na Amazônia são do satélite NOAA, que tem uma resolução de 1 quilômetro — ou seja, cada ponto da imagem representa um quadrado com 1 quilômetro de lado. “Vamos enviar novos dados com imagens do satélite Landsat, com resolução de 30 metros”, conta Roberto Pereira da Cunha, coordenador de Relações Institucionais do INPE e responsável pela instalação da Sala.

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A primeira seqüência de imagens a ser montada vai mostrar o desmatamento subaquático na represa da usina de Tucuruí, partindo do espaço até chegar debaixo da água. Uma imagem do satélite GOES mostrará o planeta inteiro, depois a imagem do Landsat fechará o foco sobre a Amazônia. Em seguida aparecerão o mapa da Imagem da GeoEsfera, fotografias aéreas e por fim um vídeo com imagens do corte das árvores embaixo da água. Todos os dados e imagens serão enviados à Califórnia, onde o material será editado e passará a fazer parte das novas edições da Biblioteca. A intenção não é ficar só na Amazônia. “Embora no Brasil só se fale em florestas, queremos retratar outras regiões, como as pradarias e o Pantanal”, diz Roberto Cunha.

Para saber mais:

A Terra vive

(SUPER número 8, ano 2)

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Destino: Terra

(SUPER número 5, ano 4)

Parceiros no espaço

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(SUPER número 2, ano 5)

GPS: o guia que veio do espaço

(SUPER número 1, ano 7)

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