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Tecnologia , a invasão impossível

Uma parafernália de equipamentos, como microaeronaves, nanocâmeras e cães-cibernéticos, tornará as casas muito mais seguras no futuro.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 31 ago 2002, 22h00

Yuri Vasconcelos / Sam Hart

Dê uma boa olhada na situação imaginada nesta página: ela traz alguns dos muitos dispositivos de segurança que deverão equipar as nossas casas daqui a alguns anos. Uma parafernália e tanto, transformando os lares em ambientes praticamente invioláveis.

As mudanças começarão pela porta de entrada. Em menos de 50 anos, chaves e fechaduras serão peças de museu. Sim, o controle de entrada será feito por sofisticadas máquinas de identificação biométrica, um sistema capaz de reconhecer as pessoas a partir de uma característica do corpo, como a impressão digital, o formato da mão ou o desenho da íris (a parte colorida do olho).

Algumas empresas de alta tecnologia já fabricam esses aparelhos, mas eles quase não são empregados em residências. Seu uso é restrito a instalações militares, prisões de segurança máxima, bancos e algumas poucas empresas ou instituições que aposentaram o “velho” crachá magnético e o substituíram por esse sistema muito mais seguro. Essas máquinas funcionarão assim: instaladas junto à entrada da casa, farão a leitura do polegar, da mão ou da íris para imediatamente compará-la com informações armazenadas em sua memória. Se os dados baterem, sua entrada será liberada. Mas elas farão mais do que isso. Além de registrar o entra-e-sai na casa, será possível programar o acesso de pessoas e funcionários, como a faxineira ou o técnico em robótica. “A máquina poderá ser programada para abrir a porta para determinadas pessoas apenas em dias e horários previamente estabelecidos.

Se a faxineira aparecer em outro dia ou fora de hora, a entrada será negada”, explica Vinícius Lacerda Salgueiro, diretor comercial da Compuletra, uma empresa gaúcha especializada nesses sistemas. E se ela se atrasar ou esquecer o guarda-chuva? Bem, daí vai ter que telefonar para o dono da casa que, à distância, reprogramará o sistema para liberar a entrada.

Os especialistas dizem que a incorporação da biometria no aparato de segurança residencial é uma questão de tempo. “Não restam dúvidas de que, no futuro, muitas casas contarão com esses dispositivos”, diz Vinícius Salgueiro. “A biometria vai tornar os lares mais seguros, já que é muito raro duas pessoas compartilharem a mesma impressão digital, o mesmo formato de mão ou o mesmo desenho da íris.”

De todos os sistemas biométricos, o de reconhecimento da íris é o mais seguro, já que a probabilidade de duas pessoas terem íris semelhantes e, ainda por cima, morarem na mesma cidade, é remotíssima. O modelo da empresa americana IriScan vem sendo testado e demonstra ser extremamente preciso, cometendo apenas um equívoco – negando acesso a um usuário cadastrado ou abrindo a porta para pessoas erradas – a cada 1,2 milhão de tentativas. Ok, e se ela errar bem na hora em que o Bin Laden estiver tentando entrar na sua casa? Em tese, bastaria instalar dois sistemas em paralelo – por exemplo, um de leitura de íris e outro de leitura da digital. Mas a confiança é de que, no futuro, a margem de erro dessas máquinas biométricas seja ainda menor. Tanto que já se pensa em difundir sua instalação na porta dos fundos e também controlando a entrada em quartos, banheiros e escritórios.

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Bancando o ali Babá

Outro sistema avançado para controle de acesso são os aparelhos que atendem a comandos de voz. Esses terminais, equipados com microfones e microprocessadores, não são novidade e já existem, por exemplo, em telefones celulares. Segundo a empresa Sensory, de Santa Clara, na Califórnia, Estados Unidos, mais de 100 milhões de chips desse tipo já foram vendidos no mundo, mas seu uso em dispositivos de segurança residencial ainda é insignificante. Quando estiverem operando pra valer, bastará a pessoa chegar perto de casa e mandar a porta se abrir, como numa versão high-tech do “abre-te, Sésamo” do Ali Babá. Um software de reconhecimento de voz identificará se o autor do comando é mesmo um dos moradores da casa.

Mas, o que fazer contra imitadores? É possível falsificar a voz perfeitamente? “Impossível não é, mas quanto mais filtros digitais o sistema tiver, catalogando os vários aspectos da voz – como timbre, freqüência e brilho –, mais difícil será enganá-lo”, diz José Antônio dos Santos Borges, do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

E não serão apenas chaves e fechaduras que se tornarão obsoletas. As cercas elétricas, dessas que a gente vê esticadas sobre os muros das casas nas grandes cidades, também terão destino certo: a lata do lixo. Em seu lugar, serão instalados controles muito mais eficientes, equipados com sistemas emissores de raios infravermelhos. Eles serão colocados ao redor da casa e quando seus feixes forem interrompidos, começará o grande show: alarmes soarão, luzes estroboscópicas se acenderão e uma central de segurança será comunicada sobre a presença suspeita.

Esse sistema, no entanto, estaria sujeito a alarmes falsos, por exemplo, quando um animal interrompesse o feixe de luz. É aí que entram as tecnologias combinadas: logo que o sistema for disparado, câmeras focalizarão o lugar onde ocorreu a invasão, mostrando se o intruso é inofensivo, como um pássaro ou uma mariposa, ou indesejável, como um assaltante ou um hipopótamo.

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Para torná-los ainda mais eficientes, esses módulos de controle poderão ser dotados de nanosensores e nanocâmeras, escondidos dentro e fora da casa. Essas nanomaravilhas serão aparelhinhos microscópicos, com 1 bilionésimo de metro, capazes de detectar tudo o que se passa no lugar, dando alarme quando alguém estiver forçando a porta ou tentando quebrar uma janela. “A nanotecnologia será fundamental para a segurança das pessoas”, diz Reiner Von Wallwitz, diretor-presidente da Home Control, uma empresa de São Paulo especializada em automação residencial. “A vantagem é que esses pequenos aparelhos serão capazes de monitorar os ambientes sem que ninguém perceba sua presença”, afirma.

Pesquisadores de empresas e centros de alta tecnologia em todo o mundo quebram a cabeça para criar equipamentos cada vez menores e mais eficientes. Um dos laboratórios muito avançados nessas pesquisas é o da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Estados Unidos, onde trabalha o engenheiro elétrico Kristofer Pister, um bamba no assunto. Ele desenvolveu o protótipo de um micro-sensor de 1 milímetro cúbico, menor que um grão de feijão, capaz de acusar a presença de intrusos por alterações no padrão de luz e calor e da captação de som e movimento na área monitorada. Por enquanto, o protótipo custa 100 dólares, mas Pister e sua equipe trabalham duro para que o preço caia para menos de 1 dólar, o que permitirá sua popularização. “No futuro, milhares desses sensores equiparão residências, prédios e ruas”, diz o pesquisador, que apelidou os nanosensores de “poeira inteligente”, por causa de suas dimensões mais que microscópicas. “E o melhor é que eles se comunicarão entre si.”

Atualmente, versões meio grandinhas do aparelho já equipam empresas que querem manter seus funcionários longe de áreas de acesso restrito.

Os pisos com detectores de pressão serão outra grande força na segurança da casa do futuro. Camuflados em todos os cômodos, esses sensores serão usados para acusar a presença de penetras: pisou, dançou. Quando colocados no jardim, terão como função adicional acender luzes e disparar câmeras para intimidar quem estiver chegando onde não é chamado. E para evitar que disparem sempre que o Rex ou o Bichano decidirem dar uma voltinha, os sensores serão dimensionados para ignorar a presença de animais domésticos e reconhecer como ameaça apenas o que tiver o peso e a dimensão de um ser humano – ou mais, claro.

Daqui a alguns anos, as residências também contarão com simuladores de presença, que serão usados para confundir os ladrões quando os moradores da casa estiverem fora. Esses aparelhos nada mais são do que controles automatizados de iluminação. Eles já são fabricados, até mesmo no Brasil, mas são pouco usados e nada baratos. Com eles, as luzes se acendem automaticamente em momentos aleatórios, dando a impressão de que tem gente na casa. Os simuladores de presença também podem ligar a TV ou o rádio e reproduzir sons de vozes e latidos de cachorro. “Eles são ideais para períodos de férias, quando a residência está vazia, ou para casas de veraneio, que ficam um bom tempo desocupadas”, afirma o engenheiro eletrônico Fábio Oliveira, diretor da Future House, uma empresa do Rio de Janeiro especializada em projetos de integração voltados para a casa do futuro. É óbvio que, com a popularização desses sistemas, os larápios já não vão mais cair na armadilha, mas até lá outra coisa terá sido inventada.

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Um bom exemplo do que vem por aí é um estranho aparelhinho, parecido com uma mosca de quatro asas, criado por colegas de trabalho de Pister, o especialista em nanotecnologia da Universidade da Califórnia. A mosquinha, equipada com câmeras, microfones e sensores, será nossa defesa aérea particular, fazendo rondas em residências sem que ninguém perceba sua presença. Num primeiro momento, essas micro-aeronaves terão utilidade na exploração de outros planetas e na espionagem de países inimigos. Como é comum em muitas tecnologias, depois do uso inicial para fins espaciais ou militares, elas acabarão sendo incorporadas ao dia-a-dia dos mortais. Com o inseto micromecânico desenvolvido na Califórnia não será diferente.

Um robô muito fiel

Outro valoroso aliado será o cão-robô. A empresa japonesa Sogo Keibi Hosho (K), especializada em tecnologias para segurança, apresentou, durante a Robodex – uma feira internacional de robótica que aconteceu em março, no Japão –, um modelo desses melhores amigos cibernéticos. Batizado de C4, o simpático robozinho, com 1,30 metro de altura e 90 quilos, foi criado para atuar como supervisor de segurança. Com uma câmera na cabeça, ele se move a quase 2 km/h e deve substituir humanos e animais de verdade em trabalhos de ronda. As imagens captadas pelo robô são enviadas continuamente para uma central de comando. Programado para se deslocar percorrendo trajetos determinados, o C4 tem autonomia para alterar o percurso se vir algo anormal nas redondezas.

Ao mesmo tempo, é possível comunicar-se à distância com ele por comandos de voz ou através de um painel de controle sensível ao toque. Além de ficar de olho em intrusos, esse fiel amigo-robô da K também poderá monitorar focos de incêndio, graças aos sensores espalhados em seu corpo. Já à venda no Japão, por pouco mais de 70 000 dólares (300 vezes o valor médio de um pastor alemão), o C4 dá uma breve idéia da tecnologia que teremos no futuro. Seus sucessores com certeza serão mais rápidos, mais ágeis e mais inteligentes. É provável que nem tenham a aparência de robôs, mas a de cachorros de verdade, com pêlo e tudo. Para os humanos que não suportam animais em casa, será a oportunidade de ter um “bicho” que não faz xixi nas plantas nem pula na roupa limpa do dono.

Outro aparato de segurança previsto para equipar as residências do século XXI serão os sistemas de videovigilância. Hoje, muitas casas já têm algo parecido, como câmeras de vídeo apontadas para o portão de entrada, mas o que está por vir é muito mais avançado. A empresa @Security, do Texas, Estados Unidos, criou um sistema pioneiro no qual as imagens e os sons captados pelas câmeras de vídeo e pelos microfones espalhados pela casa são transmitidos, em tempo real, via TV a cabo, para qualquer lugar – uma central de segurança, o escritório do proprietário da casa ou mesmo a sede da fazenda onde a família passa as férias. A vantagem da transmissão em tempo real é que as pessoas poderão monitorar tudo o que se passa em suas casas, desde a presença de estranhos ao bem-estar dos moradores. O sistema já foi testado e aprovado e deverá ser vendido, ainda este ano, por um valor entre 30 e 40 dólares mensais.

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Com dispositivos de segurança quase ilimitados, resta, no entanto, uma pergunta: em que medida precisaremos de tudo isso? Será que toda essa tecnologia vai mesmo facilitar a vida no futuro? Infelizmente, não existem estudos definitivos sobre segurança (ou falta dela) daqui a 30 ou 50 anos. E há algo que devemos considerar bem seriamente: como vai agir o bandido do futuro? Porque, é óbvio, ele também terá o melhor da tecnologia nas mãos…

Câmeras voadoras, do tamanho de caixas de fósforos, flagram um estranho diante da casa supersegura

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Aparelhos que emitem raios infra-vermelhos, invisíveis ao olho humano, darão o alarme se ele pular o muro.

Mas o dono da casa já sabe! ele acaba de acessar as imagens no computador da sua mesa de trabalho.

Em todo canto, sensores menores que grãos de areia registram tudo, até o bater de asas de uma borboleta!

O cachorro-robô, que faz a ronda e pode ser comandado à distância, deixa claro ao vilão que ele não é bem-vindo

A casa que não cai

A segurança física das residências também alcançará novas fronteiras. Uma das inovações nesse campo é a tecnologia anticalamidade, que poderá ser usada para proteger casas contra vendavais, furacões, inundações e terremotos. Trata-se de um sistema criado pela empresa americana Fast Track Foundation Systems: painéis de aço galvanizado, com 1,30 metro de altura, são instalados na base da casa e presos ao chão com concreto. A construção fica suspensa, como nas palafitas. Segundo seus criadores, o sistema resiste à erosão do solo causada por inundações, a fortes rajadas de vento lateral e absorve o impacto de terremotos até em zonas sísmicas de nível 4, cujos abalos causam grande destruição. A tecnologia ganhou o prêmio de inovação do ano conferido em conjunto pela revista Popular Science e pela National Association of Home Builders, NAHB (Associação Nacional dos Construtores de Casa), dos Estados Unidos.

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