O que Donald Trump e Hillary Clinton nos ensinam sobre psicologia
A disputa presidencial nos Estados Unidos tem rendido um material extenso para quem se interessa em entender como as pessoas (e as sociedades) funcionam. É impossível não nos perguntarmos: Como um cara como Donald Trump chegou até aqui? Como é que em 2016 ainda tem tanta gente concordando com as suas ideias? O que pode acontecer com o mundo se esse homem for eleito o presidente de uma das nações mais poderosas do mundo?
Há inúmeros artigos por aí tentando explorar questões como essas. Mas vamos falar aqui sobre um aspecto mais específico da personalidade dos dois principais candidatos, Trump e Hillary Clinton. O site Science of Us chamou a atenção para o fato de que cada um deles representa formas opostas de pensar sobre si mesmos – ou mindsets, segundo a psicologia do desenvolvimento.
Desde 1975 (veja o artigo original aqui), a professora de Stanford Carol Dweck defende que há duas formas principais de vermos a nós mesmos e nossas capacidades: há o mindset fixo e o mindset de crescimento.
Duas formas opostas de pensar
Quem tem o mindset fixo acredita que as habilidades são inatas e que o sucesso vem como uma confirmação de sua capacidade natural. Para essas pessoas, seria vergonhoso se esforçar muito para se sair bem em alguma atividade: elas veem isso como um sinal de que não são boas o suficiente, de que não têm essa capacidade de verdade. Falhar, então, seria inadmissível.
Já para aqueles que têm um mindset de crescimento, o sucesso é resultado de esforço e dedicação, não de alguma habilidade que já nasceu com você. Sair-se bem em algo é sinal de que você se esforçou bastante, e falhar significa que devia ter se preparado melhor.
Como você já pode imaginar, essas duas formas de pensar influenciam diversos aspectos da vida, e pessoas com o mindset de crescimento apresentam melhor desempenho em várias áreas, da acadêmica à sexual.
Hillary e Trump são ótimos exemplos para entender melhor como isso funciona na prática, especialmente em relação a como eles tratam os debates de que participaram nesta corrida presidencial. Trump chegou a dizer que é “um grande crente na habilidade natural”, ou inata, e uma reportagem da CNN revelou que ele não queria se “preparar demais” para seu primeiro debate televisivo, preferindo confiar em seus instintos.
Já Hillary Clinton, embora tenha uma enorme experiência com debates por já estar na política há um bom tempo, não abriu mão de uma preparação intensa de quatro dias que teria incluído até consultas com o ghostwriter de um livro de Trump para descobrir suas maiores inseguranças.
Trump zombou dos esforços da adversária, mas não deveria: pesquisas têm mostrado que, a cada debate, cresce a vantagem de Hillary. Pouco antes do primeiro, ela estava à frente por apenas 1,5 ponto; perto do segundo, sua vantagem subiu 5,6 pontos e, perto do terceiro, subiu mais 7,1 pontos. Hoje, ela tem mais de 85% de chance de ganhar.
Trump ainda evidencia perfeitamente aquela coisa de não aceitar a derrota: em seu último debate, ele se recusou a dizer se vai aceitar o resultado da eleição caso seja derrotado. Disse que “vai ver na hora”.
Se você se identifica com a maneira Trump de pensar e não curtiu isso, aí vai uma boa notícia: segundo Carol Dweck, é possível mudar o nosso próprio mindset, se quisermos. Mas como fazer isso é assunto para outro post.
Hillary: “Você sabe para que mais eu me preparei? Eu me preparei para ser presidente”. via GIPHY