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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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O fantasma na máquina

O PIB travou, mas a indústria nacional está pior. Vai de marcha à ré mesmo. Há dez anos, o País lucrava forte no mercado de bens industrializados (coisa que vai de avião da Embraer a lasanha congelada da Brasil Foods). A diferença entre o que a gente vendia para fora e o que a gente […]

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 dez 2016, 09h50 - Publicado em 24 nov 2014, 16h13

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O PIB travou, mas a indústria nacional está pior. Vai de marcha à ré mesmo. Há dez anos, o País lucrava forte no mercado de bens industrializados (coisa que vai de avião da Embraer a lasanha congelada da Brasil Foods). A diferença entre o que a gente vendia para fora e o que a gente importava, nessa área, era de US$ 17 bilhões a nosso favor. Depois melhorou. Sabe a história de que o País só crescia mesmo quando o petróleo e o minério de ferro estavam em alta? Então. É verdade. Mas não totalmente verdade. Em 2005, com as exportações de matéria-prima bombando, o saldo no comércio exterior de bens industrializados cresceu num ritmo cruzeirense: 30% em um ano. Saltou daqueles US$ 17 bi para US$ 22 bi. E continuou bem até 2007, o último ano do resto da vida da economia mundial.

Em 2008 e 2009, com a crise devidamente instaurada da Islândia à Terra do Fogo, nosso saldo entrou no vermelho pela primeira vez em muito tempo: uma conta negativa de US$ 4 bi. Depois piorou. Conforme a crise no resto do mundo foi arrefecendo, nosso saldo no mercado de bens industrializados só perdeu gás. Em 2010, conseguimos a proeza de negativar o recorde positivo de 2005, e dando um chorinho, de quebra: US$ 25 bilhões no vermelho. Agora? Bom, já dobramos essa marca. Faz dois anos que o Brasil importa US$ 49 bilhões a mais do que exporta nessa área. Feio.

E ainda tem terreno para afundar mais. Não faz tanto tempo, a participação da indústria no nosso PIB estava pau a pau com a dos países desenvolvidos: na faixa de 20%. Pois é: nem eles nem nós precisamos de 80%, 90% de indústria. O setor é importante, claro, mas a Revolução Industrial acabou faz tempo. O que move mesmo as economias grandes hoje (e a nossa também) é o setor de serviços, aquele que vai de manicure a banco. Mesmo assim, é na indústria que está boa parte dos melhores empregos e do desenvolvimento tecnológico (as duas coisas que mais importam no fim das contas). Então manter uma indústria na faixa dos 20% do PIB é fundamental, por mais que o seu país seja bom de serviço.

Mas não é o que aconteceu por aqui. A participação da indústria no PIB saiu da zona de conforto dos 20% e agora está em 13% – é o menor nível em 60 anos. Mais dois pontinhos de queda e voltaremos ao mesmo patamar da década de 1940, quando o Brasil era um país quase que completamente agrário, com 70% da população vivendo nas áreas rurais (hoje são 15%).

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Desde 2011, as nossas fábricas estão produzindo cada vez menos. Só em 2014, já foram quase 100 mil demissões, de acordo com a Fiesp.

Mesmo assim, os nossos índices de desemprego continuam baixos. E o motor aí é o nosso setor de serviços, que subiu de 63% para 69% do PIB em dez anos. Ele continua produzindo vagas. O problema é que essas vagas não estão produzindo crescimento. O PIB segue estagnado, freando a renda.

Isso de o setor de serviços não ter força para segurar o rojão econômico não é exclusividade do Brasil. A história deixa claro que nenhum país conseguiu aumentar decentemente o nível de renda de sua população sem passar por uma fase de industrialização maciça. Um “aumento decente”, pelos padrões usados hoje, é fazer com que a renda per capita salte de US$ 10 mil para US$ 20 mil ao ano. No Brasil, estamos em US$ 11 mil/ano.

Na prática, viramos uma economia de serviços, como aconteceu com os EUA. Só que lá a indústria continua relativamente forte. Aqui, viramos uma nação de manicures e gerentes de banco lastreados pela exportação de matéria-prima – minério, óleo, soja. Com a demanda por matéria-prima em baixa (chineses malditos!), nossa economia periga ficar pelada. Uma hora pode faltar unha para a manicure fazer e cliente para o gerente do banco vender título de capitalização. Então o mais perverso dos círculos viciosos tende a dar as caras: o do desemprego que gera desemprego. Daí para o zimbabwamento geral da economia é um pulo.

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Bom, alguém pode dizer que hoje a história é bem diferente. Que o setor de serviços agora é bem mais amplo, então tem como segurar qualquer economia sozinho. De fato. Se antes existiam cinco canais de TV, agora são 5 trilhões, se você colocar os “canais” da internet na conta. Isso para ficar num único ramo do fantástico mundo dos serviços – mundo do qual este blog faz parte, inclusive.

Mas os números do mundo real teimam em desmentir a teoria de que os serviços seguram qualquer bronca. O grau de industrialização dos países emergentes é tão grande hoje quanto o dos EUA ou da Europa Ocidental já foram um dia. No México, que tomou o lugar do Brasil como país mais promissor da América Latina, a indústria representa 35% do PIB. No Peru, que cresce 6% ao ano, são 37%. Na Tailândia, 45%. A China está na casa dos 40% também. Há dez anos, na dos 70%. É isso: o setor de serviços é ótimo para vitaminar a quantidade de empregos disponíveis, como o exemplo brasileiro deixa claro. Mas o que engorda e faz crescer é uma indústria forte, principalmente quando uma nação dá os seus primeiros passos rumo ao desenvolvimento. E isso o exemplo brasileiro – de país com muito emprego e zero crescimento – também deixa claro.

Propostas de caminhos para melhorar isso não faltam. Vão de redução de impostos a deixar o dólar subir (moeda local fraca é bom para quem exporta). Mas tudo isso é paliativo. Só dá para construir uma indústria firme com uma educação forte. Formar gente capacitada para manter uma indústria de ponta leva 20, 30 anos. O governo que realmente melhorar a educação não vai ver os frutos dessa melhora. Não vai ver o dinheiro gasto com professores virar PIB. Mas é o único caminho. Que chegue logo a hora de os nossos governantes, em todas as esferas, enxergarem além dos horizontes da próxima eleição e investirem para valer em educação. Enquanto isso não acontecer, o Brasil nunca vai acontecer. 

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Fiz este texto com o Pedro Burgos, do Oene. Está na Super de dezembro, que chega às bancas hoje.

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