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Como a vida de Linus Pauling pode inspirar a sua

"Ciência é a busca pela verdade, que é o esforço para entender o mundo: envolve a rejeição do viés, do dogma, da revelação, mas não da moralidade"

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 9 abr 2017, 14h18 - Publicado em 7 abr 2017, 18h15

Quatro cientistas até hoje venceram duas vezes o Prêmio Nobel. A primeira dessa lista nós já conhecemos: Marie Curie, que venceu em física em 1903 e em química em 1911. Além dela, também levaram dois prêmios John Bardeen (que venceu duas vezes na categoria de física, em 1956 e 1972) e Frederick Sanger (que venceu em química nos anos 1958 e 1980). Mas o único dessa lista a ter conquistado um Nobel científico e um por suas contribuições sociais foi Linus Pauling.

Premiado com o Nobel da Paz em 1962, ele nos lembra uma lição essencial da ciência, muitas vezes ignorada: por mais que o cientista desenvolva seu trabalho com base numa curiosidade fundamental a respeito da natureza, ele não pode perder de vista a responsabilidade que advém das potenciais ramificações de suas descobertas.

Em nenhum momento na história da ciência isso ficou tão claro quanto no fantástico e ao mesmo trágico século 20, palco de duas guerras mundiais e da invenção das mais perigosas armas já concebidas pela humanidade: as bombas atômicas.

Pauling foi provavelmente o mais enfático defensor da ideia de que os cientistas precisam perceber as consequências dos avanços tecnológicos que propiciam e se posicionar a respeito delas – por vezes até mesmo impondo restrições à própria prática científica, se é isso  que as circunstâncias exigem.

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Linus não estava sozinho em seu ativismo. Muitos outros pesquisadores choraram o leite derramado depois que o Projeto Manhattan havia sido concluído e as primeiras armas nucleares foram usadas contra o Japão para colocar fim à Segunda Guerra Mundial. Os cientistas criaram até mesmo uma organização e um boletim para promover o desarmamento e a contenção da ameaça atômica. O Boletim dos Cientistas Atômicos é publicado até hoje e tem em sua capa o famoso “Relógio do Juízo Final”, em que um grupo de pesquisadores avalia a situação geopolítica momentânea e quão perto supostamente estamos de uma tragédia global. (Em 2016, com a ameaça da mudança climática e o sempre perene perigo de uma guerra nuclear, principalmente com os recentes experimentos atômicos norte-coreanos, o relógio marcava 3 minutos para meia-noite. Em 2017, estamos a 2 minutos e meio do Apocalipse, em parte devido à eleição de Donald Trump e sua negação pública do aquecimento global. Desde 1947, quando foi instituído, o único momento em que estivemos mais perto do fim, na avaliação do comitê, foi em 1953, quando  o relógio chegou a marcar dois para meia-noite.)

Pauling não havia tomado parte diretamente na devastadora criação. Robert Oppenheimer, que chefiava o Projeto Manhattan, ouviu de seu colega um “não” quando o convidou a se juntar à iniciativa de guerra.  Sua objeção, contudo, não havia sido com base em princípios morais.  Ele meramente não queria ter de realocar sua família para Los Alamos, no Novo México, onde os trabalhos seriam conduzidos.

Entretanto, logo depois do ataque nuclear a Hiroshima e Nagasaki que levou à rendição do Japão e ao fim da Segunda Guerra Mundial, Pauling, que até então era apolítico e chegou a se envolver em outros trabalhos militares em tempos de guerra, tornou-se um dos mais vocais ativistas contra o perigo nuclear.

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“O problema apresentado ao mundo pelo poder destrutivo da energia atômica se sobrepõe, claro,  a qualquer outro problema”, escreveu Pauling, apenas semanas após o bombardeio contra o Japão. “Eu sinto que, além de nossas atividades profissionais no campo nuclear, nós deveríamos fazer nossas vozes serem reconhecidas com respeito à significância política da ciência.”

Pauling foi brilhante como pesquisador, mas essa mensagem, de forma clara e sem rodeios, talvez tenha sido sua mais importante contribuição ao mundo. E é algo que pode – e deve – ser aplicado à nossa vivência cotidiana. Não podemos ignorar as implicações de nossas ações e agir apenas pelo impulso ou simplesmente “porque podemos”. Temos de almejar sempre uma atuação responsável e que leve em conta o bem-estar do mundo ao nosso redor. Nossas decisões sempre têm consequências e faz parte de nossas obrigações refletir com clareza a respeito delas, antes de tomar qualquer atitude. É o famoso “pensar antes de fazer”, essencial no dia a dia e cada vez mais fundamental até mesmo na escala da sobrevivência da civilização, como a ameaça das armas nucleares, contra a qual Pauling lutou durante boa parte de sua vida, demonstra de forma eloquente.

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