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O conhecimento na Era dos Extremos

A ciência se transformou num trabalho regulado por uma série de passos que devem ser cuidadosamente seguidos para que os resultados apareçam com um grau aceitável de segurança.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 28 fev 2002, 22h00

Os gregos antigos chamavam filosofia, ou “gosto pelo conhecimento”, o que hoje nós chamamos ciência. A mudança de nome se deve a um importante acontecimento na história da nossa cultura: em vez de ficar apenas contemplando o mundo em busca de respostas geniais, como propunham filósofos como Platão, os cientistas modernos arregaçam as mangas e suam a camisa nos laboratórios e na pesquisa de campo em busca de respostas.

A ciência se transformou num trabalho regulado por uma série de passos que devem ser cuidadosamente seguidos para que os resultados apareçam com um grau aceitável de segurança. Esses passos representam o método científico. A ciência moderna exige instrumentos muito precisos de observação (de microscópios eletrônicos a telescópios superpotentes), medida e datação que permitam aos cientistas coletar dados para suas pesquisas cada vez mais complexas. Mas também exige, por parte dos cientistas, uma boa dose de ousadia para ir buscar informações onde quer que se escondam. Por isso, a ciência dos nossos dias se espicha na direção de dois extremos: tecnologia cada vez mais avançada de um lado, e cientistas arriscando cada vez mais a pele, de outro. Foi-se o tempo em que Galileu, para fazer seus experimentos sobre corpos em queda livre, só precisava atravessar a rua na frente de casa e subir no topo da Torre de Pisa para dali lançar bolas de ferro.

Na Era dos Extremos, a pesquisa científica torna-se uma atividade cada vez mais especializada e solitária. Solitária porque a maior parte das perguntas que poderiam gerar interesse para o grande público já foi respondida. Alguém ainda duvida, por exemplo, que o homem é parente do macaco? Ou que a gravidade atrai os corpos? Por isso, o cientista de hoje tem que escolher entre dois caminhos: ou se interna num laboratório de pesquisa avançada, como são os que estudam partículas elementares da matéria, abraçando complexos modelos teóricos; ou, então, sai pelo mundo, feito um aventureiro, em busca dos poucos lugares do nosso planeta (e de outros também) que ainda não foram estudados.

Se você encontrar alguém de calção e camiseta encarapitado no alto de uma árvore de 30 metros de altura, no meio de uma floresta selvagem, e disposto a passar dias e noites ali, muito provavelmente estará diante de um biólogo pesquisando novas espécies de plantas ou insetos. Deparou-se com um maluco descendo a cratera de um vulcão pendurado numa corda? Ou entrando por uma greta de gelo até o coração de um glaciar? Mergulhando com os ferozes tubarões brancos? Calma. São apenas cientistas indo ao extremo para conseguir avançar o conhecimento humano.

Há quem afirme que não vale a pena gastar tanto tempo e dinheiro com essas pesquisas, arriscar-se tanto para, muitas vezes, apenas confirmar o que já se desconfiava de antemão. É um engano. A ciência não é uma linguagem binária, feita apenas de 0 e 1, como a dos computadores. Enquanto procura uma resposta, o cientista quase sempre se depara com algo inesperado – um terceiro elemento que não estava previsto no sim/não da hipótese inicial. A história das grandes descobertas nos ensina que, embora os cientistas se apeguem ao método como uma bússola, é o acaso que realmente governa a ciência.

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A prova de que vale a pena continuar buscando o extremo é que muita coisa que usamos no nosso dia-a-dia foi desenvolvida como resultado colateral de alguma pesquisa. A agência espacial americana, a Nasa, está cheia de exemplos elucidativos: muitos dos equipamentos médicos e dos tratamentos que vêm sendo utilizados nos hospitais foram desenvolvidos na tentativa de, por exemplo, levar o homem ao espaço, enviar sondas monitoradas aos confins do sistema solar, desenvolver equipamentos miniaturizados que consumam pouca energia para serem incorporados nas astronaves.

Se os cientistas de hoje precisam, muitas vezes, se comportar como esportistas radicais para levar adiante suas pesquisas, as modalidades esportivas, por sua vez, também funcionam como motivadoras para novas pesquisas. Quem acompanha o automobilismo, por exemplo, sabe que os carros de hoje devem muito da melhoria de seu rendimento nas últimas décadas à busca por velocidades cada vez maiores nas pistas da Fórmula 1. O mesmo vale para o atletismo: técnicas de exercício, complementos alimentares, tecidos antiatrito e engrenagens de bicicletas são constantemente melhorados na busca por medalhas e recordes mundiais. Pouco tempo depois, transformam-se em produtos disponíveis nas lojas do mundo inteiro.

Mas a Era dos Extremos não traz só tecnologia cada vez mais avançada e melhoria na qualidade de vida das pessoas. Ela também traz dúvidas cada vez mais difíceis de dirimir sobre os limites da nossa intervenção na natureza. Em poucas palavras, a Era dos Extremos também nos traz a Era da Incerteza. E aqui chegamos ao ponto crucial da nossa história. Embora a ciência jamais deva se intimidar diante dos extremos, será que o cientista, no isolamento do laboratório, tem o direito de tomar decisões que podem colocar em risco o equilíbrio da natureza? Pode criar espécies transgênicas ou clonar seres humanos? Ou será que deixar a ciência moderna nas mãos apenas de cientistas é correr um risco extremo?

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