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Recriar espécies extintas

O genoma dos mamutes e dos neandertais está prestes a ser decifrado. Será que podemos - e devemos - ressuscitá-los?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

Extinção é para sempre, diz um velho ditado ambientalista. Desde que dinos recriados por meio de biotecnologia aterrorizaram pela primeira vez as telas do cinema na série Parque dos Dinossauros, essa certeza começou a esboroar, ao menos na imaginação do público. Ressuscitar tiranossauros ainda é ficção científica, porque é muito difícil que o DNA resista a 65 milhões de anos ou mais de reações químicas, mas outras criaturas fantásticas, desaparecidas há menos tempo, talvez ainda não estejam perdidas. Que tal cavalgar um mamute-lanoso, ou bater uma bolinha com um neandertal? Pois a possibilidade é bem real.

Que o diga Stephan Schuster e seus colegas da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA). Em novembro do ano passado, eles publicaram dados sobre a recuperação de 70% do genoma – o conjunto do DNA – de mamutes que morreram há 20 mil anos. Já o sueco Svante Päabo, junto com sua equipe do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha), deve divulgar em breve a sequência de DNA dos neandertais, os últimos hominídeos (ancestrais ou primos próximos do homem) a desaparecerem da Terra, há meros 30 mil anos. Espécies que se extinguiram há menos tempo, como a belíssima quaga, uma prima da zebra com coloração avermelhada, ou o lobo-da-tasmânia, uma versão marsupial (aparentada ao canguru) dos cães, também têm boas chances de ter seu DNA decifrado a partir de exemplares de museus, os quais ainda têm material genético.

Mutações e mães de aluguel

É claro que obter o genoma resolve só metade do problema. Para começar, o DNA tende a se quebrar em inúmeros pedacinhos com o tempo, além de sofrer degradação – na prática, as “letras” químicas que o compõem acabam sendo trocadas ou ficam irreconhecíveis. (Imagine que você escreveu a palavra BATA e a segunda “perninha” do B sumiu. A palavra acaba virando PATA. É mais ou menos isso.) Por isso, é preciso usar programas de computador para interpretar os dados e “chutar” qual é a leitura correta.

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Mesmo que os cientistas estejam bastante confiantes em relação à sequência correta do genoma, transformar os dados num bicho de carne e osso envolve uma série de complicações. O jeito mais direto de fazer isso seria sintetizar os cromossomos (as estruturas enoveladas que guardam o DNA) da finada espécie, criar um núcleo celular também sintético para abrigá-los e inserir tudo isso num óvulo de uma espécie ainda viva aparentada ao bicho. Na prática, trata-se de uma forma de clonagem. O problema é que não estamos nem perto de conseguir sintetizar cromossomos e núcleos de animais e, mesmo que a tecnologia já estivesse dominada, seria preciso outro chute para estimar o número correto de cromossomos do bicho. Erros poderiam ser catastróficos para o embrião e para sua azarada mãe de aluguel.

Por causa de todas essas pedras no caminho, Schuster diz que seria mais fácil, por exemplo, dar um jeito de “mamutizar” um embrião de elefante, usando técnicas de manipulação genética para alterar o DNA nos pontos em que ele difere do pertencente a seu primo extinto. A diferença genética entre as espécies é de só 0,6%, o que não quer dizer que seja moleza: são 18 milhões de “letras” de DNA para modificar…

Esqueça por um instante, porém, essas chatices técnicas. Antes de sair por aí ressuscitando espécies extintas, lembre-se de que, em muitos casos, o ambiente em que eles viviam não existe mais, muito menos os grupos de criaturas iguais nos quais eles deveriam viver. Portanto, ainda que um dia consigamos operar esse tipo de ressurreição – e nada indica que tal coisa seja impossível -, talvez seja bom perguntar se temos o direito de fazer isso mesmo.

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