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China: O despertar do dragão

Ainda na primeira metade deste século, a China deverá ultrapassar os Estados Unidos e se tornar a maior economia do planeta. Quais serão as implicações disso?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 28 fev 2005, 22h00

Lia Hama

Com a maior população do mundo e uma economia que há anos vem crescendo num ritmo superior ao da americana, a China representa a maior ameaça à hegemonia global dos Estados Unidos no século 21. A gigante asiática tem uma população de 1,3 bilhão de pessoas e uma taxa de crescimento econômico de mais de 8% ao ano – em 2004, o índice bateu em 9,5%. Se a expansão se mantiver nesse nível, a China deverá ultrapassar os Estados Unidos e se tornar a maior economia do mundo ainda na primeira metade deste século. Essa perspectiva levanta algumas questões intrigantes: quais serão as implicações disso para o planeta? Como os americanos vão reagir à perda de sua supremacia? Assistiremos a uma nova versão da Guerra Fria?

A China já foi apontada pela CIA (serviço secreto americano) como uma das três ameaças aos Estados Unidos, ao lado do terrorismo e das armas de destruição em massa. O atual vice-secretário de Defesa americano, Paul Wolfowitz, já comparou a ascensão chinesa com a da Alemanha do início do século passado. No imaginário dos neoconservadores americanos, o colosso chinês é uma espécie de “União Soviética asiática” que ameaça influenciar outros países com seu modelo único, que mistura um regime político comunista com uma economia de mercado.

Na opinião de muitos estudiosos, um confronto entre China e Estados Unidos será inevitável no futuro. O ponto de discórdia número 1 é a questão de Taiwan. A ilha vizinha da China foi o local de refúgio da elite endinheirada, derrotada pelos comunistas de Mao Tsé-tung em 1949. Pequim a chama de “província renegada”. Dia sim, dia não, o governo comunista chinês ameaça invadir o local e promover a reunificação da ilha com o continente. Os Estados Unidos não reconhecem a independência de Taiwan, mas, por decisão do seu Congresso, teriam de defender a ilha em caso de agressão externa. Para os Estados Unidos, Taiwan é estratégica para manter sua influência na região da Ásia-Pacífico.

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Nos anos 90, a China iniciou um processo de modernização de suas Forças Armadas.De acordo com Robert Karniol, editor da mais respeitada revista de temas militares do mundo, a americana Jane’s Defense Weekly, dentro de 15 anos os chineses poderão ter 60 mísseis intercontinentais, com propulsão e pontaria melhores, capazes de penetrar até no escudo planejado pelo governo dos Estados Unidos no seu projeto de Guerra nas Estrelas.

Outros especialistas descartam um conflito militar entre China e Estados Unidos. Em entrevista a Folha de São Paulo, o chinês Wang Yong, professor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Pequim, afirmou que a crescente dependência econômica entre os dois países reduz a possibilidade de confronto. “Formou-se um novo campo de interesse estratégico comum para os dois países e eles farão tudo para preservar o crescente interesse econômico”, disse. Os Estados Unidos são o maior destino das exportações chinesas e um dos principais investidores estrangeiros no país asiático.

Com uma civilização milenar, a China durante séculos foi muito mais avançada que o Ocidente. “As pessoas esquecem que, 500 anos atrás, a China era a única superpotência. Quando muitos europeus viviam em cabanas de barro e aravam o solo com varas de madeira, a China era a maior potência militar e econômica da Terra”, diz Paul Bracken, professor da Yale School of Management. Nos últimos tempos, a China tem se esforçado para provar a teoria de Napoleão Bonaparte. Dois séculos atrás, o general francês afirmou que o país asiático era um “gigante adormecido” que, ao acordar, faria a Terra tremer. Além do crescimento econômico espetacular, a China tem mostrado ambições em outros campos. Em 2003 deu uma prova do domínio da tecnologia espacial ao tornar-se o terceiro país a colocar um homem em órbita, depois dos Estados Unidos e da União Soviética. O tenente-coronel Yang Liwei deu uma volta em torno da Terra a bordo da Shenzhou V, num projeto que custou aos chineses 2,5 bilhões de dólares.

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A despeito dos inúmeros avanços ocorridos nos últimos anos, a China ainda tem uma série de desafios pela frente. O PIB (produto interno bruto) per capita do país ainda é um quinto do brasileiro. Em diversas regiões da China vive-se como há centenas de anos. Os agricultores ainda trabalham o solo como faziam seus antepassados e as pessoas sobrevivem com pouco mais de 1 dólar por dia. A falta de liberdade política e a violação de direitos humanos são outros problemas graves. Ninguém esquece a imagem do massacre da Paz Celestial, em 1989, quando os militares chineses usaram tanques e metralhadoras contra estudantes desarmados, matando 200 deles. A repressão contra o Tibet continua e os dissidentes do regime são perseguidos.

PROBLEMAS MUNDIAIS

À medida que a China desponta como uma superpotência mundial, seus problemas passam a dizer respeito a todo o planeta. “Os problemas da China com a economia, energia e meio ambiente são problemas de todo o mundo”, diz Bracken, da Universidade de Yale. Um bom exemplo é o petróleo. A China gerou um terço do aumento da demanda global do produto entre 2002 e 2004. Se o país parasse de comprar petróleo, o mercado mundial seria seriamente afetado. Outro ponto crucial é a questão do dólar. Os 400 bilhões de dólares que a China tem de reservas em títulos do Tesouro americano até agora permitiram aos Estados Unidos sustentar seu astronômico déficit externo. Se Pequim parasse de comprar dólares, a moeda americana entraria em colapso. “Derrubar o dólar seria o equivalente a usar uma arma nuclear”, disse François Heisbourg, um francês especialista em estratégia. Como se vê, o gigante chinês pode realmente fazer a Terra tremer.

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Tendências

• LÁ E CÁ

Taiwan será um foco permanente de tensão política entre a China e os Estados Unidos. Mas a mútua dependência econômica tende a prevalecer no relacionamento entre as duas potências, reduzindo os riscos de um conflito militar.

• PROBLEMA DE TODOS

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À medida que a China se consolida como uma superpotência, seus problemas internos – como a violação dos direitos humanos – passarão a repercutir de forma mais aguda em todo o planeta.

• INFLUÊNCIA

A China tende a influenciar cada vez mais os rumos do mundo capitalista. Se ela parar de comprar dólares, a moeda americana entraria em colapso. E, se deixar de comprar petróleo, o mercado mundial seria seriamente afetado.

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Parceria estratégica

Pragmático, o Brasil inicia namoro com a China. Até o Cristo Redendor entrou nesse jogo de sedução

O Brasil iniciou uma parceria estratégica com a China, que deverá ter efeito direto sobre a economia dos dois países. Durante a visita do presidente chinês, Hu Jintao, em novembro de 2004, o Brasil reconheceu a China como uma economia de mercado. A medida está longe de ter efeito apenas retórico, pois significa a aceitação de que os preços chineses são formados de acordo com as forças de mercado e não sofrem distorções de intervenções estatais na economia. Anteriormente, o Brasil considerava a China como uma economia em transição, o que a tornava muito mais vulnerável a barreiras antidumping – restrições a importações permitidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) sob o argumento de que os preços praticados estão artificialmente inferiores aos de mercado.

Em contrapartida ao reconhecimento brasileiro, a China aceitou abrir o mercado de carne de frango e de boi para o Brasil, que poderá render exportações de até 800 milhões de dólares por ano, e se comprometeu a encorajar empresas chinesas a comprar dez aeronaves fabricadas pela parceria da Embraer com empresas da China em 2005 – um negócio que pode movimentar até 200 milhões de dólares. Foram assinados diversos acordos entre os países, que cobrem de investimentos a turismo, comércio, indústria e combate ao crime organizado. O Brasil espera ainda apoio da China para uma vaga de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU. “Estamos falando de um relacionamento entre o maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental com o maior país em desenvolvimento do hemisfério oriental”, afirmou Celso Amorim, ministro brasileiro das Relações Exteriores.

O prestígio da China no Brasil é tal que o governo brasileiro fechou o Cristo Redentor para turistas durante a visita de Hu Jintao ao Rio de Janeiro, de modo que ele pudesse desfrutar de um dos mais famosos cartões-postais do país. Nos 120 anos de vida da Estrada de Ferro do Corcovado, isso só havia ocorrido uma vez, durante a primeira visita do papa João Paulo II ao Rio, em 1980. Na avaliação do jornal inglês Financial Times, a ampliação dos laços chineses e brasileiros representa uma ameaça à posição hegemônica dos Estados Unidos no mundo. O governo brasileiro, no entanto, nega que a aproximação entre os dois países represente uma ameaça aos americanos. “Os Estados Unidos são grandes demais para ficarem preocupados”, afirma Amorim.

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