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O fim dos empregos

Novas tecnologias sempre criaram mais empregos do que tiraram. Hoje não: elas estão aniquilando vagas e deixando um vácuo no lugar. E agora?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 12 jan 2014, 22h00

Pedro Burgos

O app de chamar táxi faz o motorista se materializar em minutos. E está quebrando as empresas de rádio-táxi. No AirBnB, você entra, escolhe uma casa disponível para alugar por uma semana e já negocia esse mini-aluguel direto com o dono. Sai bem mais barato que hotel. Lindo, só que não para os hotéis, que estão perdendo hóspedes aos tufos.

Dá para passar 10 páginas citando exemplos desses: serviços que estão facilitando nossa vida enquanto ceifam empregos. Isso porque uma boa startup tem duas características: ela é “disruptiva”, como gostam de dizer os gurus de marketing, já que chacoalham o setor em que competem. E é “magra”: entra rápido em operação e emprega pouca gente. Um bom exemplo de startup assim é o Instagram. Quando foi vendida ao Facebook por US$ 1 bilhão, a empresa tinha 13 funcionários. A Kodak, que foi o Instagram de um passado nem tão distante, empregava 140 mil funcionários nos anos 1990. E decretou falência ano passado. Só aí sobram 139.987 funcionários…

O desemprego causado por tecnologia não é exclusividade do nosso tempo. O medo de máquinas tomando o lugar das pessoas vem desde pelo menos 350 a.C., com Aristóteles perguntando o que seria dos servos quando a lira tocasse sozinha. Mas foi dois mil anos depois do filósofo, com a Revolução Industrial, que a coisa ficou séria. Na Inglaterra do século 19, os chamados luditas destruíram fábricas que substituíam trabalhadores braçais por máquinas a vapor.

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A maior parte dos economistas apontaria que não adianta se revoltar porque a história das “revoluções produtivas” é uma história de desemprego momentâneo. A introdução de máquinas deixou um monte de gente sem ter o que fazer no campo. Mas elas migraram para as cidades, e encontraram várias coisas para fazer. Quando as máquinas começaram a tomar os empregos em fábricas, essas pessoas foram para o campo dos serviços. E essa foi a receita de progresso econômico até aqui: a tecnologia tirava empregos num primeiro momento, por que aumentava a produtividade – uma pessoa passava a fazer o trabalho de várias pessoas. Depois, o aumento da produtividade criava mais riqueza. E essa riqueza dava à luz mais empregos. Pronto. Bom para todas as partes. Por isso mesmo os economistas chamam de “falácia ludita” a ideia de que automação gera desemprego duradouro.

Mas agora parece ser diferente. É o que mostra um cálculo dos pesquisadores Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, do MIT. Eles observaram o seguinte: quanto mais aumentou a produtividade ao longo do século passado, mais cresceu o número de empregos. Até aí, tudo em linha com a teoria econômica tradicional. Mas as coisas mudaram. Por volta do ano 2000, a produtividade começou a crescer num ritmo bem mais acelerado que a criação de novas vagas. E a distância só aumentou: quanto mais produtividade (ou seja: quanto mais tecnologia), menos emprego. Os países do mundo desenvolvido estão de prova: boa parte deles sofre com taxas altíssimas de desemprego, que teimam em não voltar aos índices pré-crise de 2008.

E talvez nunca voltem. “A raiz dos nossos problemas não é que estamos em uma grande recessão”, eles dizem. “Mas no início de uma grande reestruturação”. O problema é que a inovação estaria acontecendo rápido demais. E não haveria tempo nem dinheiro suficiente para começar novas indústrias, que ainda não imaginamos. Se antes uma ocupação demorava décadas para sumir, hoje elas morrem numa piscada. Lojas de computadores, por exemplo. Elas nem existiam nos anos 1980. Tiveram um boom nos 1990. Mas em 2013 empregavam 50% menos pessoas do que em 2001 – é mais fácil comprar nas Amazons da vida, afinal. A gigante do varejo, aliás, anunciou que entrará em um dos últimos ramos que não vendia coisas: as compras de supermercado. Em junho, ela passou a entregar compras em várias cidades dos EUA, com frutas e verduras incluídas. Os supermercados devem sofrer num futuro próximo.

Outro agente criador de desemprego é o “trabalho gratuito”. Os vendedores podem estar perdendo o emprego, mas as pessoas continuam indo ao site da Amazon e indicando produtos com resenhas. E dando estrelinhas no iTunes. O comprador faz o trabalho do vendedor. Num site de banco é basicamente a mesma coisa. Quando você paga uma conta na internet está trabalhando de graça para a instituição financeira. Como caixa.

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E quanto mais tecnologia, mais “trabalho grátis”. O Waze, um serviço de mapas que acabou de ser vendido por US$ 1,1 bilhão para o Google, tem 110 funcionários. Mas conta com o trabalho gratuito de mais de 50 milhões de usuários, que marcam no mapa onde é a próxima blitz da Lei Seca. O Instagram é a maior “revista de fotos” da história não pelos seus 13 funcionários, mas porque são quase 100 milhões de pessoas preenchendo suas páginas. De graça, naturalmente.

Mas há um outro lado nessa história. O emprego está crise, mas o empreendedorismo não. Nunca foi tão simples montar um negócio novo. E não estamos falando só em empresas. Se você coloca o seu apartamento para alugar no AirBnB quando sai de férias, já pode se considerar dono de hotel. Mesmo ser taxista hoje é quase como ter uma start up – os motoristas investem no marketing pessoal para aparecerem com mais estrelinhas nos apps, e conseguir mais clientes. Ou seja: essa era do “fim do emprego”, ao que parece, é só o efeito colateral do início de outra era, a do empreendedorismo de massa. A verdade é que estamos diante de uma nova revolução industrial. Uma revolução que está nas suas mãos. Bom trabalho.

Foto: GettyImages

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