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Os mares também morrem

Os oceanos dão a água, a comida e a maior parte do oxigênio que você respira. Agora essa riqueza está correndo um perigo mortal. E a culpa é do homem.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h02 - Publicado em 31 mar 1998, 22h00

Claudio Angelo

Se o mar fica doente, nós sentimos. Se ele morrer, nós morremos. O nosso futuro e a situação dos oceanos são uma coisa só”. O alerta é da oceanógrafa norte-americana Sylvia Earle, que dedicou 43 dos seus 63 anos à pesquisa dos ecossistemas marinhos. Se Earle estiver certa – e poucos cientistas conhecem os mares tão bem quanto ela –, podemos começar a nos preocupar com o destino das próximas gerações.

Os oceanos vão mal de saúde. Eles recebem todo ano cerca de 3 milhões de toneladas de petróleo e derivados, 400 000 toneladas de metais pesados e 55 000 toneladas de pesticidas, além da enxurrada de esgotos despejados por emissários submarinos ou diretamente nas praias.

A pesca predatória está dizimando a maior parte das reservas mundiais de peixe. E o número de espécies marinhas na sombria lista dos animais em risco de extinção já chega a 130. Com esse quadro dramático, o mar não poderia mesmo estar para peixe. Se nada for feito, brevemente não vai estar para ninguém.

Na rede

A pesca predatória já atinge 70% dos estoques mundiais de peixe e ameaça várias espécies de extinção

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Carnificina

A caça à baleia está proibida desde 1986, mas nem todos os países acatam as leis internacionais

Mancha fatal

Todo ano são despejadas nos oceanos mais de 3 milhões de toneladas de petróleo

Imundice:

As praias do mundo inteiro são o destino final dos esgotos que recolhem os detritos de bilhões de pessoas

A sentença de morte chamada lixo

O mar está virando a lixeira do mundo, como já alertava Jacques Cousteau (1910-1997), o grande defensor dos oceanos. É para lá que vão os detritos produzidos por 5,5 bilhões de pessoas. Também nele são despejadas todo ano 3,2 milhões de toneladas de petróleo, 80 000 de mercúrio e 50 000 de pesticidas. É um suicídio planetário.

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Diante da imensidão azul, pode parecer que o quadro não é assim tão grave. Afinal, o mar poderia diluir essa sujeira toda. “O problema é que os detritos não circulam pelos oceanos”, explica o oceanógrafo Luiz Roberto Tommasi, da USP. O resultado é o acúmulo dos poluentes nas regiões costeiras, que concentram 90% de toda a vida marinha. E ao longo das quais vivem dois de cada três seres humanos.

Os poluentes transformam os mares costeiros em verdadeiros desertos aquáticos: os esgotos, além de matarem o plâncton que produz o oxigênio, carregam bactérias nocivas. Os derivados do cloro, como os agrotóxicos, nunca se degradam. Entram na cadeia alimentar marinha e contaminam os peixes que você come.

De todos os poluentes, o pior é o petróleo. Quando vaza no mar, o óleo mata tudo o que estiver por perto: peixes, aves, mamíferos, algas. E invade a nossa praia, deixando o litoral imprestável. Foi o que aconteceu com o navio Exxon Valdez, que destruiu um santuário ecológico no Alasca em 1989. O ecossistema local até hoje não se recuperou.

Na costa do Alasca, as cicatrizes do desastre

O vazamento de 50 000 toneladas de petróleo do navio Exxon Valdez, em 1989, matou centenas de milhares de animais e deixou danos ecológicos que perduram até hoje

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Guerra suja

Em 1991, o governo do Iraque abriu os tanques de petróleo do Kuwait, despejando 200 000 toneladas no Golfo Pérsico.

O ataque da maré negra

Veja como um acidente com petróleo destrói um ecossistema.

1 – Pintou sujeira: O petróleo vaza e se espalha no mar. A mancha recobre e mata o plâncton da superfície.

2 – Preto no branco: As aves marinhas deixam de reter o ar nas penas e morrem afogadas ao mergulhar.

3 – Apagaram a luz: Sem a luz do sol, que é bloqueada pela mancha, o fitoplâncton, como são chamados os microvegetais marinhos, pára de fazer fotossíntese.

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4 – Direto na carne: Substâncias tóxicas do óleo acumulam-se nos tecidos de peixes, tartarugas e mamíferos, causando distúrbios reprodutivos e cerebrais.

5 – Cadeia da morte: Os compostos mais densos do petróleo, como os metais pesados, decantam e os tóxicos entram na cadeia alimentar, acumulando-se nos animais que vivem nas profundezas.

6 – Deserto de pedra: Os costões rochosos, revestidos de óleo, perdem boa parte da sua fauna.

7 – Pra nunca mais: O manguezal pode nunca mais voltar ao normal. Como as raízes do mangue não são subterrâneas, as plantas morrem asfixiadas.

Duros de engolir

O mar demora séculos para degradar o nosso lixo.

• Borracha 100 anos ou mais

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• Metal 2 anos

• Plástico 400 anos

• Vidro 200 anos ou mais

• Alumínio não se degrada

Um tesouro em vias de desaparecer

Quando você compra uma lata de atum no mercado, pode achar que seu conteúdo vem de algum reservatório inesgotável. Na verdade, o seu pitéu está nadando rápido para a extinção.

Setenta por cento dos estoques de peixe do mundo já estão esgotados ou em declínio. Alguns freqüentadores das nossas mesas, como o bacalhau e o arenque – e, claro, o atum –, lideram a lista dos animais ameaçados de sumir do mapa.

Há muita rede para pouco peixe no mar. A pesca comercial, aliada à tecnologia de ponta, está explorando os oceanos além dos limites razoáveis. “As espécies são dizimadas a ponto de não poderem mais recuperar seu papel no ecossistema”, diz Matthew Gianni, do Greenpeace, a maior entidade ambiental do mundo.

Os culpados por essa “extinção ecológica” são as supertraineiras, navios que mais parecem fábricas flutuantes. Com apenas 1% da frota pesqueira mundial, esses freezers gigantes são responsáveis por 60% de tudo o que se pesca no planeta. Localizam os cardumes por satélite, pegam até 400 toneladas de uma vez e entregam o produto já pronto.O maior problema das traineiras é que as suas quilométricas redes não são nem um pouco seletivas. As espécies sem valor comercial sao atiradas de volta ao mar.

Para evitar o colapso, alguns especialistas propõem dar um tempo aos peixes, criando reservas marinhas. “Mas isso só funciona com o controle das traineiras”, adverte Gianni.

Supertraineiras, os vilões do mar

A ação destruidora dos navios-fábricas como este aí ao lado, que pesca toneladas de peixes de uma vez só, está dizimando a fauna marinha

Horror

Cenas como esta, de um massacre de golfinhos, ainda são comuns em países como a Noruega e o Japão, onde a caça aos mamíferos marinhos é permitida

No arrastão

Tubarão-martelo se debate na rede de um pesqueiro

Ecologicamente correto

Um selo no atum evita a matança dos golfinhos.

Verifique se a lata de atum que você acaba de comprar traz o selo “Dolphin Safe”. Não? Cuidado: você pode estar sendo cúmplice da matança de golfinhos no Pacífico.

O selo significa que o atum que você está comendo foi pescado com técnicas inofensivas aos golfinhos. Esses mamíferos costumam nadar sobre cardumes de atuns de barbatana amarela perto do México e dos EUA, e acabam presos nas redes dos barcos que pescam por ali.

Os navios pesqueiros cercam os cardumes com as redes, criando um “garrafão” capaz de engolir até doze aviões Jumbo 747.

Os golfinhos ficam tão enrolados que não conseguem subir para respirar. Pelo menos 7 milhões morreram assim entre 1959 e 1989.

O atum ecológico foi criado pelo governo dos EUA em 1990. A partir daquela data, só entra no país o atum livre de golfinhos.

O México, grande exportador de atum, recorreu à Organização Mundial do Comércio contra o selo.

E ganhou. O “Dolphin Safe” ainda existe, mas não é mais lei. Felizmente para os golfinhos (e para os apreciadores de patê de atum), vários países fizeram um acordo para reduzir a carnificina dos simpáticos animais. É lamentável que alguns governos ainda tolerem o massacre.

No fim da linha

Conheça algumas espécies ameaçadas.

Tubarões: A lista de espécies em risco de extinção inclui o tubarão-martelo e o tubarão-azul, que desaparece ao ritmo de 50 000 por ano, apanhados “acidentalmente” em anzóis nas costas do Havaí.

Baleia-franca: Caçada impiedosamente até os anos 70, está protegida por acordos internacionais. Sua população é estimada em 4 000 indivíduos.

Bacalhau-do-Atlântico: As capturas da espécie caíram 69% entre 1968 e 1992. Não por consciência ecológica, mas por falta de peixe.

Peixe-espada: Ambientalistas dos EUA lançaram este ano a campanha “deixe o peixe-espada em paz”. O objetivo é tirar o bicho dos cardápios de restaurantes chiques, evitando, assim, a pesca predatória.

Garoupa: Esse peixe, que chega a ter 2 metros de comprimento, está em perigo devido à destruição dos recifes de coral no mundo inteiro. Nas Filipinas, os corais são envenenados com cianeto para a pesca da garoupa. No Brasil, o peixão corre o risco ficar apenas nas notas de R$ 100.

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