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História da aviação: Duelo de asas

A saga da aviação tem mais pais do que você imagina. Conheça alguns dos gênios que tornaram possível um de nossos desejos mais antigos: voar

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h24 - Publicado em 6 dez 2005, 22h00

Texto Erika Sallum

Os dois eventos históricos acima podem ser encontrados em diferentes livros de história no capítulo sobre o avião. O de 1903, protagonizado pelos irmãos Orville e Wilbur Wright, costuma aparecer nos livros de autores americanos, enquanto historiadores franceses e brasileiros preferem contar a outra versão, que tem Santos Dumont no papel principal. Mas, afinal, quem está certo?

A dúvida paira sem resposta há mais de 100 anos, dividindo historiadores e fãs do assunto em acaloradas discussões. E o debate promete esquentar ainda mais em 2006, quando será comemorado o centenário do feito de Dumont. Os defensores do aviador brasileiro dizem que estará sendo comemorado o primeiro vôo do mundo. Já os partidários dos Wright dizem que os americanos fizeram a mesma coisa 3 anos antes.

A principal polêmica no caso é a definição do que é um vôo. O ano de 1906 é o aniversário da primeira vez que um avião decolou sozinho, voou e pousou diante de uma comissão de especialistas para comprovar a proeza. Mas, para os defensores de Wright, a ausência de observadores oficiais (em 1903 havia só 4 homens e uma criança no campo) e o uso da catapulta não tiram do feito dos Wright o título de primeiro vôo da história. Afinal voar seria sustentar a máquina no ar.

Enquanto americanos e brasileiros tentam puxar a brasa para a sua sardinha – se valendo de patriotismo exacerbado, uma boa dose de egocentrismo e, algumas vezes, informações imprecisas – o que fica obscurecido é um fato acima de qualquer suspeita: o avião não tem apenas um pai. Ele é uma criação coletiva e muitos homens trabalharam duro para levar você, literalmente, ao céu.

Quase anônimos

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Você já ouviu falar em George Cayley? Esse cientista inglês foi o primeiro homem a analisar, no final do século 18, as características básicas de uma máquina mais pesada do que o ar. Ele é chamado por gente do naipe de Charles Dollfus, um dos maiores historiadores do assunto, de “o verdadeiro inventor do aeroplano e um dos maiores gênios da aviação”.

Cayley é apenas um dos muitos nomes imprescindíveis para a invenção do avião que acabaram ficando ofuscados pela centenária disputa entre Dumont e os Wright. “Dumont vivia numa época em que as pesquisas eram intensas e as descobertas aconteciam quase que diariamente. Todos os pioneiros estavam conectados e havia uma competição não oficial para ver quem progredia mais rápido. Ele bateu recordes incríveis, mas foi ajudado por outros nomes tão talentosos quanto”, diz o cartunista Spacca, que lança no próximo mês o livro Santô e os Pais da Aviação. O projeto começou quando Spacca, um fissurado por Dumont desde criança, decidiu contar em HQ a trajetória de seu personagem predileto. Só que durante a pesquisa ele percebeu que o aviador era apenas um entre vários inventores importantíssimos.

Otto Lilienthal é outro deles. O alemão estudou as descobertas de Cayley e construiu, entre 1890 e 1896, um planador motorizado. A bordo de sua surpreendente asa-delta motorizada, ele desafiava o ar e se lançava morro abaixo. Pagou um preço trágico por isso: em 9 de agosto de 1896, ao tentar prolongar um de seus vôos, perdeu a velocidade e morreu ao cair de uma altura de 15 metros.

Mas as pesquisas de Lilienthal não foram enterradas com ele. O engenheiro francês naturalizado americano Octave Chanute prosseguiu com os trabalhos do alemão na área de planadores, realizando várias melhorias nas aeronaves. Rico, Chanute não corria o risco de ter o mesmo destino que Otto. Ele tinha um assistente que voava para ele e, obviamente, levava os tombos no lugar do patrão. Chanute correspondia-se avidamente com várias pessoas que tinham interesse na mesma área, incluindo os Wright, com quem se encontrou algumas vezes para trocar figurinhas. “Ao contrário dos dois irmãos, que escondiam suas descobertas com medo de serem passados para trás, Chanute alimentou essa rede de informações que foi fundamental para o progresso da aviação”, diz Spacca.

Com formação técnica sólida, o francês Clément Ader também fazia experimentos nessa época. Seu estranho modelo de aeronave, batizado de Éole, tinha o desenho de um morcego (tanto nas asas quanto na parte interna). Ader acreditava que a solução para chegar ao design perfeito era imitar os animais que voam. “O aparelho pesava 296 quilos e informações da época levam a crer que voou apenas alguns poucos metros”, diz Henrique Lins de Barros, autor do livro Santos Dumont e a Invenção do Vôo. Ader também foi o criador do termo avion, palavra derivada do grego avis (ave).

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A essa altura, os governos dos EUA e de muitos países da Europa já tinham percebido a potencialidade das máquinas voadoras. Na tentativa de sair na frente, os EUA investiram financeiramente no professor e cientista Samuel Langley. Grande estudioso da aerodinâmica, Langley criou aeronaves que batizou como Aerodromes e que foram um sucesso nos vôos não tripulados. Assim, em 1903 – e apenas 8 dias antes da data mais importante na vida dos irmãos Wright – ele decidiu testar sua criação com passageiro. O teste, que teve como cenário o rio Potomac, no estado de Maryland, foi um fracasso e o Aerodrome acabou se espatifando na água.

Nosso homem na França

Morando em Paris desde os 18 anos, o brasileiro Santos Dumont acompanhava todos esses avanços e reunia as informações que pudessem ajudá-lo a construir uma máquina capaz de voar. Seus aviões 14 Bis e, mais tarde, Demoiselle reuniam com perfeição o que de mais moderno estava sendo desenvolvido por outras pessoas. “Cada elemento do 14 Bis já existia antes, ele apenas alinhavou tudo. E foi rápido e esperto, porque vários outros especialistas estavam no seu cangote e não teriam demorado muito para bater os mesmos recordes”, diz Lins de Barros.

Ao realizar seu vôo em 1906, ele entrou para a história e impulsionou inúmeros e importantíssimos avanços que possibilitariam que o avião se tornasse uma máquina tão confiável e eficiente que, menos de 10 anos depois, já era usada na Primeira Guerra Mundial.

Antes disso porém, em 1909, o francês Louis Blériot escreveu sua participação na história da aviação ao tornar-se o primeiro piloto a sobrevoar o oceano e transpor a fronteira entre dois países. Saindo de solo francês, Blériot cruzou o canal da Mancha e pousou na Inglaterra. Ao receber uma congratulação de Dumont pelo feito extraordinário, Blériot devolveu a delicadeza ao brasileiro: “Você é nosso líder. Não fiz mais do que apenas segui-lo.”

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Outros homens, outros vôos

Veja quem foram os inventoresque contribuíram para a invenção doavião – mas que vivem sendo deixadosde fora dos livros de história

Irmãos Wright – 1903

Dois homens empurram um enorme objeto sobre trilhos parecidos com os de um trem. No final dos trilhos, um deles sobe sobre a asa e o pássaro de madeira é impulsionado para o ar por uma espécie de catapulta, a uma velocidade de pouco mais de 40 km/h. Por 4 vezes a cena de repete. Na última tentativa, a engenhoca percorre 260 metros em 59 segundos.

Santos Dumont – 1906

A bordo de uma surpreendente máquina voadora, um homem de 50 quilos e trajes elegantes tenta por 3 vezes sair do chão. Às 16h45 do dia 12 de novembro, no sentido contrário ao vento, o piloto surpreende os vários espectadores e decola. Ele voa a 6 metros de altura, cruzando uma distância de 220 metros.

Sir George Cayley – (1773-1857)

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Excêntrico e subestimado pelos colegas de sua época, o inglês é uma das personalidades mais importantes da aeronáutica. Foi o primeiro a estudar e compreender as forças que regem uma máquina mais pesada que o ar. Fez vários desenhos e confeccionou modelos de objetos voadores que serviram de base para muitas teorias posteriores. Por isso é considerado por diversos historiadores como o verdadeiro pioneiro da aviação.

Clément Ader – (1841-1926)

O inventor está para os franceses assim como Dumont para os brasileiros. Depois de dar várias contribuições para o desenvolvimento do telefone, resolveu investir em aviação. Sua maior invenção foi um aeroplano gigantesco com jeitão de morcego – inclusive na parte interna. Tinha 14 metros de envergadura e era movido por um enorme motor a vapor.

Samuel Langley – (1834-1906)

Ao lado dos irmãos Wright, é um dos mais famosos nomes da aviação nos EUA. O governo chegou a financiar uma de suas máquinas, batizadas de Aerodrome. O aparelho, de proporções enormes para a época, foi um fiasco. Em 1903, espatifou-se num teste quando tentava decolar sobre o rio Potomac. Desgostoso com os insucessos, Langley morreu amargurado e esquecido.

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Louis Blériot – (1872-1936)

No dia 25 de julho de 1909, a bordo de seu 4º monoplano – o primeiro eficiente – o engenheiro francês saiu da França, voou sobre o canal da Mancha e pousou na Inglaterra. Foi o primeiro homem a transpor a fronteira entre dois países pelo ar e, por isso, é tido como o pai da era moderna da aviação. Depois disso, foi contratado pelo governo francês para construir aviões para a Primeira Guerra.

Para saber mais

O Que Eu Vi, o Que Nós Veremos – Santos Dumont, Hedra, 2002

Santos Dumont e a Invenção do Vôo – Henrique Lins de Barros, Jorge Zahar, 2003

Santô e os Pais da Aviação – Spacca, Companhia das Letras, 2005

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