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Mistério no Xingu

Percy Fawcett foi morto pelos índios ou encontrou sua sonhada cidade perdida?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 mar 2023, 17h01 - Publicado em 30 jun 2004, 22h00

Carlos Eduardo Matos

O que aconteceu a Percy Fawcett? Feita desde 1925, a pergunta até hoje não foi satisfatoriamente respondida. O explorador inglês desapareceu na selva do Xingu, com o filho Jack e um amigo, quando procurava uma cidade perdida. Eles foram mortos pelos índios do Brasil Central ou, como sustentam alguns esotéricos, a expedição atravessou um portal e ingressou num plano espiritual elevado? Acompanhe a história do sertanista e arqueólogo que inspirou a criação do personagem Indiana Jones.

A polêmica sobre o desaparecimento de Fawcett reflete as contradições vividas pelo próprio explorador. O topógrafo que conquistou respeito internacional por suas medições em trechos quase inacessíveis da Amazônia era profundamente místico. Militar, Fawcett serviu no Ceilão, onde se apaixonou pela arqueologia e se converteu ao budismo. Ele acreditava nas profecias de astrólogos da região, feitas antes do nascimento de seu primeiro filho, segundo as quais a criança nasceria em 19 de maio, dia da festa de Buda (o que se confirmou), e seria o pai de uma nova raça. Também admitia a existência de índios brancos, descendentes dos atlantes, e os procurara nos Andes e na floresta tropical. E jamais se separava de uma estatueta de basalto que recebera do escritor H. Rider Haggard, autor do romance As Minas do Rei Salomão. A imagem, supostamente vinda do Brasil, continha inscrições desconhecidas.

A crença na existência desse local misterioso, no interior do país, nasceu quando Fawcett leu a transcrição inglesa de relatos sobre a cidade e as minas de prata de Muribeca, encontradas (e novamente perdidas) nos séculos 17 e 18. Ele jamais esqueceu a descrição do grande núcleo desértico, com arcos na entrada, estátuas, templos e pepitas de prata na superfície da terra. A descoberta do centro inca de Machu Picchu, em 1911, no Peru, reforçou sua crença de que a América do Sul encerrava tesouros arqueológicos – além de ouro e prata. Numa carta dirigida aos jornais que financiavam sua expedição, observou: “Não duvido um só instante da existência dessas velhas cidades. Eu mesmo vi parte de uma delas”.

Improviso no sertão

Empreendidas entre 1920 e 1925, as expedições brasileiras de Fawcett seriam bem diferentes das que o consagraram, como topógrafo, sob a bandeira boliviana. O aventureiro contava com uma confiança inabalável e conhecimentos enciclopédicos sobre a sobrevivência na floresta. Ele sabia, por exemplo, que podia usar o som de instrumentos musicais para fascinar grupos indígenas hostis. Dessa vez, porém, o inglês agia por conta própria, com recursos mínimos. Ele chegou a recusar o apoio logístico do governo brasileiro – embora aceitasse um financiamento dos cofres públicos –, só para não dividir os méritos de eventuais descobertas. Em tais condições, o improviso e a precariedade marcaram todo o projeto.

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Entre setembro e novembro de 1920, Fawcett percorreu os sertões ao norte de Cuiabá. Tinha apenas um companheiro, um norte-americano apelidado de Felipe. Na segunda investida, os dois partiram de Salvador em maio de 1921. Exploraram durante dois meses as regiões de Ilhéus e Vitória da Conquista, sem encontrar indício da cidade perdida. Em janeiro de 1925, Percy Fawcett, seu filho Jack e um amigo deste, Raleigh Rimell, desembarcaram no Rio de Janeiro. Em 4 de março, os três chegaram a Cuiabá. Em 20 de abril, deixaram a capital mato-grossense, com dois guias. O projeto era seguir para o norte, até o Paralelo 12, e depois para leste. Em algum ponto, acreditavam, encontrariam a cidade perdida.

O grupo chegou ao Posto Simão Lopes, porta de acesso ao Xingu, em 15 de maio. Fawcett despediu os guias e retomou a jornada na semana seguinte. No dia 29, escreveu para a mulher, Nina, e aos jornais que financiavam a expedição. “Vou me encontrar com índios selvagens em breve, mas você não deve temer nenhum tipo de fracasso.” Foram as últimas notícias do explorador. Sabe-se que ele seguiu em direção às terras dos cuicuros e calapalos – e desapareceu.

O jornal inglês The Times ofereceu um prêmio de 10 mil libras a quem comprovasse o que havia acontecido ao explorador. Num relatório de 1942, o então general Cândido Rondon afirmou que Fawcett havia sido morto pelos calapalos. Nos anos 1950, esses índios admitiram sua responsabilidade ao sertanista Orlando Villas-Boas e mostraram a ele os supostos restos mortais do aventureiro. Mas a família nunca permitiu a realização de exames de DNA, que poderiam esclarecer a questão. Nina Fawcett morreu em 1954, convencida de que mantinha contato telepático com o marido e o filho, ambos vivos no Brasil. Os místicos do Planalto Central continuam a dizer que Percy Fawcett entrou em uma dimensão superior, junto com sobreviventes de Atlântida. O prêmio do The Times permanece em aberto.

O viajante

Topógrafo de renome deu lugar ao explorador

Nascido em 1867 na Inglaterra, Percy Fawcett foi militar e serviu na Ásia. Seus conhecimentos de topografia levaram-no a prestar serviços ao governo boliviano, que precisava de um profissional capaz de percorrer áreas em litígio na região da Amazônia. Entre 1906 e 1913, Fawcett conduziu diversas expedições pela floresta. Tornou-se um explorador famoso, cujos relatos fascinavam o público (ele inspirou Conan Doyle na ambientação do romance O Mundo Perdido). Em 1914, o major Fawcett lutou na Primeira Guerra Mundial. No final do conflito, deixou o Exército e veio ao Brasil em busca de uma cidade perdida.

A cidade perdida

Como era o lugar que Fawcett queria achar

Uma corte do Brasil

A Biblioteca Nacional guarda um manuscrito, conhecido como Documento 512, publicado em 1839 pela Instituto Histórico Geográico Brasileiro. É o relato da descoberta, em 1753, de uma grande cidade deserta. “Uma corte do Brasil”

Escrita desconhecida

Escrita por um bandeirante que se perdeu nos sertões do Nordeste, o documento descreve a entrada da cidade, com um portal mais elevado trazendo incrições misteriosas, numa escrita desconhecida, ladeado por dois portais menores

Figuras humanas

O texto também menciona obeliscos, casas, contruções que parecem templos e duas imagens. Uma delas, lateral, é a de um jovem de peito nu com uma coroa de louros. A outra é “a estátua de um homem com o braço direito estendido”

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