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Conectando bilhões

Esqueça a fibra ótica. Satélites, drones e balões são as apostas mais altas de empresas como Google e Facebook para levar internet de banda larga a lugares remotos do planeta.

Por Maurício Moraes
Atualizado em 31 out 2016, 19h07 - Publicado em 2 jun 2015, 21h00

Estamos desconectados. No fim de 2014, a União Internacional de Telecomunicações, ligada à ONU, estimava que 4,32 bilhões de pessoas (quase 60% da população mundial) não tinham acesso à internet. Esse dado demonstra, em parte, que a rede ainda não chega a todos os cantos do mundo. Ou melhor, até chega, mas bem devagar. É possível conectar-se à web via satélites geoestacionários, mas eles ficam ao redor da Terra a uma distância tão grande – cerca de 35 mil km – que o sinal não dá conta de tarefas simples, como acessar Netflix, Skype ou Facetime. Para agilizar um encontro virtual entre bilhões de desconectados, algumas das empresas mais inovadoras do mundo estão apostando outros tantos bilhões (de dólares). Em disputa está a ocupação de órbitas médias e baixas para fazer a banda larga cair – veloz – do céu.

O pioneiro dessa nova corrida espacial é o americano Greg Wyler. Sua experiência fornecendo internet e telefonia móvel em Ruanda, na África, lhe ensinou que a web muda a vida das pessoas e que cabear o mundo custa muito – estima-se que o Google gastará US$ 500 bilhões instalando fibra ótica apenas nos EUA. Esse aprendizado levou Wyler a fundar a OneWeb, iniciativa que pretende lançar 660 satélites, ao custo de US$ 2 bilhões, para fornecer internet de alta velocidade a qualquer lugar da Terra. O sinal será captado por receptores de US$ 250, dispensando antenas, fibra ótica e qualquer infraestrutura terrestre. De quebra, os satélites são simples, baratos e prometem conexão até 25 vezes mais rápida que a internet via satélite convencional. Esse ganho de performance se deve ao fato de os equipamentos da OneWeb operarem a rasantes 1.200 km de altitude: como o sinal de internet precisa partir do solo (veja infográfico na próxima página), bater no satélite e voltar para a superfície, a localização dos aparelhos em órbitas baixas diminui a viagem em quase 70 mil km. A meta é operar em 2019.

Enquanto isso não acontece, outra empresa fundada por Wyler, a O3b, está mostrando serviço.

O empreendedor deu start em 2007, deixou a direção em 2009 e ela começou a operar em 2014. Com US$ 1,4 bilhão de investimento até agora, a companhia mantém 12 satélites em órbita média (8 mil km de altitude), transmitindo dados para operadoras de telecom e provedores em solo, que retransmitem o sinal a seus clientes. O foco da empresa é distribuir grandes pacotes de dados a governos, empresas e navios como os da Royal Caribbean, uma das maiores companhias de cruzeiros do mundo.

O plano é aumentar a rede nos próximos anos. Tarefa demorada, já que em oito anos foram lançados três foguetes, com quatro satélites cada. E o próximo lançamento é só em 2017.

VOANDO BAIXO

O principal rival de Wyler tem calibre e sonha alto. É o bilionário Elon Musk, cofundador do sistema de pagamentos PayPal, da fabricante de carros elétricos Tesla Motors, e da SpaceX, empresa aeroespacial que envia suprimentos para a Estação Espacial Internacional em seus próprios foguetes. Musk quer criar um serviço semelhante ao da OneWeb, mas com nada menos que 4 mil satélites. O sistema não deve operar antes de 2020 e tem investimento estimado em US$ 10 bilhões. Ambicioso, ele já declarou que as receitas do negócio ajudarão a SpaceX a fundar uma cidade em Marte. Mas para um dos investidores da OneWeb, Richard Branson, fundador da Virgin e amigo de Wyler e Musk, a corrida já tem um favorito: “Não acho que Musk consiga fazer algo competitivo. Se ele quer entrar no ramo, o mais lógico seria associar-se a nós”, declarou em entrevista à Bloomberg Businessweek.

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Só que ainda paira uma dúvida em relação aos quase 5 mil objetos que O3b, OneWeb e SpaceX planejam enviar ao espaço. O número de satélites, incluindo os desativados, na órbita terrestre vai mais que dobrar, totalizando cerca de 8.400. O que acontecerá ao fim da vida útil deles? Segundo Wyler, os equipamentos da OneWeb serão teleguiados em direção à Terra. “Eles foram projetados para funcionar de cinco a sete anos. Os componentes se desintegrarão ao entrar na atmosfera”, esclarece. O fim dos satélites da SpaceX deve ser o mesmo. No caso da O3b, os aparelhos subirão quase 200 km para virar lixo espacial e pairar por um século sem atrapalhar outros objetos. O que vem depois disso, nem o Google – que tem capital investido na O3b e na SpaceX – sabe responder.

MUDANÇA DE ARES

A alternativa da companhia para essa questão é o Loon, projeto do laboratório Google X, berço do Google Glass. Ainda não há custo estimado, mas a ideia é levar conexão 4G a áreas remotas com balões meteorológicos. Guiados por computador, eles reconheceriam as correntes de vento e se deslocariam em conjunto, formando uma malha de cobertura contínua.

O desafio atual é ganhar autonomia de voo. Em 2014, um balão lançado em Teresina (PI) foi o primeiro da empresa a viajar mais de 100 dias. Para evitar vazamentos de ar – grande causa de quedas -, pesquisadores analisaram até embalagens que não deixam nada escapar, como sacos de Doritos. “Melhoramos o design a cada vez que um balão cai e é recuperado. Identificamos os pontos de costura que sofrem mais estresse e como o material reage a -80 ºC”, explica Mauro Gonçalves, engenheiro brasileiro do Loon. Recentemente, balões lançados na Nova Zelândia voaram 9 mil km até a América Latina e voltaram para a Austrália transmitindo em 4G.

Voando por fora estão os aviões não tripulados. Google e Facebook adquiriram, em 2014, duas fabricantes de drones. Um dos modelos criados pela Titan Aerospace, comprada pelo Google, é o Solara 50, que tem 3 mil células fotovoltaicas. Ele pode pairar por até cinco anos sem pousar e envia sinal para uma área de até 17 mil km2. Só que até agora ninguém crava uma data para drones e balões entrarem na corrida.

Por um fio

Mas quem vencerá a disputa pela internet aérea? Para Roch Guerin, especialista em redes e conectividade da Universidade Washington, em St. Louis, EUA, as redes de satélites de órbita baixa (OneWeb e SpaceX) têm mais chance de oferecer uma conexão estável e veloz. Em contrapartida, são muito mais caras do que drones e balões, em curto e longo prazo. “Como esses satélites têm vida curta, é preciso lançar outros constantemente, o que tem um custo alto. Operar e coordenar uma vasta constelação deles também é uma despesa nada trivial”, ressalta o pesquisador.

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Outro concorrente inesperado é o improviso. Há quatro anos na espera pelos serviços da O3b, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em Tefé (AM), conecta estações de pesquisa no meio da floresta, em áreas alagadas e de difícil acesso. O sinal via satélite, fornecido pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), é retransmitido via rádio, percorrendo 150 km e atendendo mais de 100 colaboradores.

Agora, o Mamirauá quer usar um dirigível suspenso por cabos, a 150 m do solo, para transmitir internet. Em um ano, a RNP deve instalar fibra ótica sob os rios até Tefé. Melhor Google, Facebook e companhias voarem atrás do prejuízo.
 

INTERNET ESPACIAL

Sinal vai percorrer o espaço para atingir regiões remotas

No espaço

(35.786_km)

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Satélites geoestacionários

 

(8.062_km)

Satélites da O3b

Prós – Cada satélite cobre dez áreas com 700 km de diâmetro

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Contras – Satélites desativados viram lixo espacial

 

(1.200_km)

Satélites da OneWeb e SpaceX

Prós – Altitude baixa aumenta a velocidade do sinal

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Contras – É preciso centenas de satélites para criar uma rede global

 

(330_a_435_km)

Estação Espacial Internacional

 

No céu

(25_km)

Balões do Google

Prós – Baratos e fáceis de atualizar

Contras – Voos sujeitos a alterações atmosféricas

 

(18_km)

Drones de Facebook e Google

Prós – Fáceis de manobrar, usam energia solar e voam por anos

Contras – Alguns países podem barrá-los em seus espaços aéreos

 

(10_km)

Jatos comerciais

 

No solo

(Superantenas)

Estações abastecidas por fibra ótica enviam o sinal até satélites, drones e balões

(Retransmissores)

Sinais de baixa órbita chegam direto na casa das pessoas. Os de média vão para operadoras que os repassam aos clientes

 

Fontes – Esteban Israel, diretor de comunicação do Facebook para a América Latina; Steve Collar, CEO da O3b; Omar Trujillo, vice-presidente da O3b para a América Latina e África; Greg Wyler, CEO da OneWeb; Mauro Gonçalves, engenheiro do projeto Loon do Google e Francisco Modesto de Freitas Júnior, coordenador de tecnologia da informação do Instituto Mamirauá.

 

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