O Lula de ontem, o Lula de hoje
Tratar o ex-presidente como um messias é delírio. Reduzi-lo aos pecados que ele cometeu, também.
Rosa Weber julgou 58 pedidos de habeas corpus de condenados em segunda instância. Negou 57. Só liberou uma mulher condenada por roubar R$ 180 em mercadorias. Considerou o crime pífio demais.
Imaginar, então, que Rosa Weber e Carmen Lúcia estão mancomunadas com Jucá, com os generais linha-dura, com a CIA, é um delírio. Considerá-las otárias úteis, machismo.
De resto: Lula será conduzido a uma cela dentro de uma semana, mais ou menos. Mas não vai passar muito tempo preso. Em questão de dias irá para casa, e terá sua pena convertida a uma mera retenção de passaporte. Porque Lula não é exatamente Cristo, como ele próprio se vê. Ele até já foi, como Jesus de Nazaré, um outsider pobre e vulnerável que lutava contra um sistema imperfeito. O Lula de hoje é bem diferente.
O ex-presidente é um milionário no topo da cadeia alimentar da sociedade. Desse modo, não irá para a cruz: seguirá gozando de todos os privilégios que as sociedades humanas reservam a seus membro alfa, concorde você com isso ou não. O Lula de hoje, enfim, é só mais um homem de mente brilhante que soube usar as imperfeições do sistema para locupletar suas ambições filosóficas e materiais. Um homem que, no meio desse caminho, cometeu pecados, mas também deixou um mar de legados positivos – e quem se recusa a ver isso também delira.