Apple anuncia transformação do macOS – que passa a usar processadores ARM, como o iPhone e o iPad
Mudança, a maior em 15 anos, abre caminho para notebooks mais potentes e com autonomia de bateria drasticamente melhor; transição exigirá a ajuda de outras empresas, como Adobe e Microsoft
Mudança, a maior em 15 anos, abre caminho para notebooks mais potentes e com autonomia de bateria drasticamente melhor; transição exigirá a ajuda de outras empresas, como Adobe e Microsoft
Acabou de terminar a apresentação de abertura do Worldwide Developers Conference (WWDC), o evento anual de software realizado pela Apple nos EUA – este ano, só virtualmente. Tim Cook começou seu discurso falando do caso George Floyd e das manifestações antirracismo que tomaram as cidades dos EUA nas últimas semanas. A Apple irá investir US$ 100 milhões em políticas de combate à desigualdade racial, incluindo um programa de estímulo a desenvolvedores de software. Em seguida, a empresa anunciou seus novos produtos.
O primeiro foi o iOS 14, cuja principal mudança é poder colocar widgets na tela principal (hoje eles moram na tela “Today”, à esquerda). Os novos widgets ficam num retângulo, na parte de cima da tela, e vão se alternando automaticamente (veja acima). Outra novidade é o recurso App Clips, que permite rodar aplicativos de forma quase instantânea, sem precisar instalá-los – algo bem útil para aqueles apps que você só precisa usar uma vez. Mas os desenvolvedores têm de criar versões compactas dos aplicativos, o que pode demorar (ou jamais correr, pois eles têm natural interesse em que você instale seus apps).
A função de chave digital, que permite abrir e ligar o seu carro com o iPhone, é igualmente interessante e inatingível – por enquanto, só funciona com um modelo da BMW. O iOS 14 tem melhorias relevantes, mas nada bombástico (mesmo caso, aliás, das últimas duas versões do Android). Após uma década evoluindo depressa, os sistemas operacionais móveis estão maduros – e é natural que entrem numa fase mais estável, de mudanças meramente incrementais.
É exatamente o contrário do macOS, que após um longo marasmo vai passar por uma mudança radical. O macOS Big Sur (nome de uma região montanhosa da Califórnia) foi convertido para rodar em processadores baseados na microarquitetura ARM – a mesma adotada pelos chips do iPhone, do iPad, e dos celulares Android.
Trata-se de uma tarefa gigantesca (o sistema operacional tem dezenas de milhões de linhas de código), que até hoje a Apple só fez duas vezes: ao migrar da arquitetura Motorola 680×0 para a PowerPC, da IBM, em 1998 – e na transição desta para a arquitetura x86 e os processadores Intel, em 2005. A vantagem de mudar para ARM, agora, é que os processadores com essa arquitetura gastam bem menos energia que os chips x86 – e apresentam desempenho similar. Na prática, os chips ARM executam mais trabalho a cada watt de eletricidade consumido (a chamada performance-por-watt). Isso abre caminho para que os próximos MacBooks tenham muito mais autonomia de bateria, como os iPads, sejam mais rápidos que os laptops com Windows, ou uma combinação das duas coisas.
Para a Apple, a transição também é bom negócio porque ela passa a fabricar todas as suas CPUs, sem depender da Intel ou da AMD (a Apple, como a Qualcomm e a Samsung, licencia a microarquitetura da empresa inglesa ARM Holdings, mas pode usá-la como quiser – e é responsável por desenhar seus próprios processadores). Terá mais independência, mais lucro, e poderá tentar passar à frente do mundo Windows, desenvolvendo desktops e notebooks com mais performance e autonomia do que os PCs.
O novo macOS também vai rodar os softwares atuais, que foram desenvolvidos para a plataforma x86. Mas isso acontecerá por meio de um emulador interno, o Rosetta 2 – que fatalmente irá “roubar” um pouco da performance e gastar mais energia. O desempenho desse emulador será crucial para o sucesso ou fracasso do novo macOS.
Isso porque, para tirar máximo proveito dos processadores ARM, todos os softwares precisarão ser convertidos – segundo a Apple, a Microsoft e a Adobe já estão trabalhando para adaptar os seus. Mas essa transição não é simples, garantida, nem rápida. A Apple fala em pelo menos dois anos, e disse que ainda irá lançar iMacs baseados na arquitetura x86.
100% da base instalada de Macs, hoje, roda em x86 – e os desenvolvedores de software terão de continuar a atender esse público por muitos anos. Nem todas as empresas terão recursos e/ou disposição para desenvolver, e manter, versões x86 e ARM de seus programas. Mas tendo o pacote Adobe, o Office e mais alguns softwares convertidos para ARM , a Apple já resolve 90% do problema. Então é possível chegar lá. Mas não é garantido. Nos últimos anos, Samsung e Microsoft lançaram notebooks com Windows e processador ARM, mas eles não fizeram muito sucesso (pois vêm equipados com chips relativamente lentos, e seu emulador x86 é ruim).
A Apple anunciou uma versão especial do Mac Mini com processador ARM, que só será fornecida para desenvolvedores de software e servirá como “ferramenta de transição”, para que eles testem as novas versões de seus programas. A data de lançamento dos Macbooks e iMacs ARM não foi divulgada.