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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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Mutação em gene humano pode agravar os sintomas da Covid-19

Estudo revela que alteração no gene APOE aumenta em 129% o risco de desenvolver forma severa da doença

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 5 set 2024, 09h08 - Publicado em 27 Maio 2020, 15h45

Estudo revela que alteração no gene APOE aumenta em 129% o risco de desenvolver forma severa da doença; descoberta pode ajudar a elucidar o grande mistério do coronavírus: por que ele deixa algumas pessoas muito doentes, e outras não?

A Covid-19 é mais agressiva, e mais letal, em pessoas idosas e portadoras de doenças crônicas, como diabetes, cardiopatias e pressão alta. E ataca mais os homens do que as mulheres. Isso é o que mostram as estatísticas. Mas também não é garantia de nada. Nos últimos meses, surgiram diversos casos de pacientes jovens e sem comorbidades que desenvolveram quadros gravíssimos da doença. Também se multiplicaram os relatos de casais e famílias em que uma pessoa teve sintomas fortes de Covid-19, mas o cônjuge ou os parentes que moram na mesma casa não. 

Essa é a característica mais misteriosa da pandemia. Por que o Sars-CoV-2 é violento com algumas pessoas, e brando com outras? Nos últimos meses, surgiram várias teorias para tentar explicar isso, como diferenças nos níveis da enzima ACE2, que o vírus usa para penetrar nas células (e são mais altos em homens), exposição prévia a outros coronavírus, danos causados pelo Sars-CoV-2 em outros órgãos além do pulmão e até síndromes causadas pelo descontrole do sistema imunológico. São explicações parciais, que não se aplicam a todos os casos.  

Mas, agora, um estudo que avaliou centenas de milhares de pessoas apresenta uma pista mais abrangente: a agressividade da Covid-19 pode estar relacionada a uma mutação no gene humano APOE. Esse gene coordena a produção de lipoproteínas (partículas que transportam colesterol e outros tipos de gordura) no organismo, e existe em três alelos (versões): “e2”, “e3” e “e4”. A mais comum é a e3, que 70% das pessoas possuem. A versão e4 causa inflamação crônica em vários órgãos, inclusive no cérebro – quem carrega esse alelo no organismo tem 14 vezes mais chance de desenvolver algum tipo de demência.  

E também, eis a novidade, o dobro de risco de desenvolver um caso grave de Covid-19. Foi o que constataram pesquisadores da Universidade de Exeter e da Universidade de Connecticut, que analisaram informações do UK Biobank: uma base que reune informações genéticas e de saúde de 500 mil ingleses, com idades entre 48 e 86 anos. Desses, 383 mil foram selecionados para análise (porque eram todos de origem europeia, reduzindo a possível influência de fatores étnicos sobre o vírus). 

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O DNA dessas pessoas foi cruzado com os registros de hospitalização por Covid-19 entre 16 de março e 26 de abril. Os cientistas descobriram que 622 pessoas do grupo haviam sido internadas com a doença. Entre elas, havia proporcionalmente mais indivíduos com o gene e4. Bem mais: quem tinha esse gene apresentava 129% mais risco de internação por Covid-19 (com 410 casos a cada 100 mil habitantes, contra 179 casos a cada 100 mil habitantes para os portadores do alelo e3).  

Os cientistas procuraram anular as demais diferenças entre os dois grupos (compararam pessoas de mesma faixa etária e sexo e com ou sem as mesmas doenças crônicas), deixando apenas o gene como variável. E chegaram à seguinte conclusão: “O alelo e4 do gene APOE aumenta o risco de Covid-19 severa, independentemente de condições preexistentes”, diz o estudo, que foi publicado no Journal of Gerontology: Medical Sciences e teve revisão por pares (peer review). 

O estudo mostra uma associação estatística entre o alelo e4 e casos graves de Covid-19, mas o mecanismo biológico envolvido, se houver, ainda é desconhecido. Segundo os autores, uma possível explicação estaria nas lipoproteínas, que têm o poder de interferir com a resposta imunológica e com a replicação de vários tipos de vírus

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