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Richard Thaler, o Nobel que sabe o que você está pensando

A economia não é uma ciência exata: o ser humano é imprevisível, e Thaler foi o primeiro a colocar psicologia nas equações que regem a sociedade

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
9 out 2017, 16h09

Tirando os próprios cientistas, quase ninguém conhece os físicos, químicos e médicos que ganham o Nobel até que eles ganham o Nobel. É normal, sério – a ideia do prêmio, além de reconhecer o trabalho desses gênios, é justamente divulgá-lo para o público comum, que não ganha pão com tubo de ensaio.

Foi por isso que hoje, quando eu acordei, eu me senti levemente sabichão: eu conhecia o ganhador do prêmio Nobel de economia deste ano! E você, leitor, também sabe quem ele é.

Lembra do filme A Grande Aposta, em que a cantora, atriz etc. Selena Gomez interrompe o clímax da história – uma mistura de comédia, drama e biografia sobre a crise financeira de 2008 – para explicar um conceito econômico de forma didática?

Pois é, ao seu lado está um senhor de cabelos brancos, um tal de Richard Thaler, professor da Universidade de Chicago, que dá uma mãozinha com a explicação. Bingo: foi ele que levou as 9 milhões de coroas suecas – o equivalente a R$ 3,5 milhões.

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Thaler começou a ficar famoso na década de 1970, quando notou que, na maior parte das vezes, as ciências econômicas são muito mais humanas que exatas – e que muitas previsões, modelos e teorias em voga nessa época não funcionavam porque não levavam em consideração o jeitinho imprevisível de ser da nossa espécie. Mas ele foi além: percebeu que essas irracionalidades cotidianas seguem padrões recorrentes, que foram identificados e sistematizados.

Por exemplo: semana passada eu atravessei a cidade para comprar potenciômetros – pecinhas que vão embaixo dos botões de volume de uma guitarra elétrica. Eles custam R$ 20 em uma loja distante – perto da minha casa, saem por R$ 40. Uma passagem de ônibus é R$ 3,80, então eu saio no lucro: ganho um passeio de final de semana, e sobra dinheiro para passar no mercado e comprar meu jantar.

Agora imagine uma situação um pouco diferente: eu preciso de uma guitarra nova. Ela custa R$ 4.980 na loja distante e R$ 5.000 na loja mais próxima. Será que eu vou mais longe por causa dessa diferença? Não. Mas são os mesmíssimos R$ 20 de economia, que pagariam o mesmíssimo jantar. Ou seja: nós encaramos descontos de maneira relativa, não absoluta.

Da mesma maneira, se alguém estiver em dúvida entre dois apartamentos, um custar R$ 200 mil, o outro custar R$ 202 mil, esse alguém provavelmente os tratará como opções de valor equivalente, e tomará a decisão baseado em outras variáveis. Mas pare e pense: o que você faria solto na rua com 2 mil reais? Compraria uma guitarra, talvez?

Quem comprou uma garrafa de vinho que hoje vale R$ 500 por R$ 50 em 1970 provavelmente não pensará que está jogando R$ 450 no lixo ao bebê-la – e eu nem coloquei a inflação na conta. E uma criança que precisa optar entre ganhar um chocolate agora ou dois mais tarde muitas vezes opta por ficar com um só – e ter seu desejo satisfeito imediatamente. Distorções curiosas como essas, todas provadas por experimentos científicos (e pelo cotidiano), influenciam a forma como lidamos com o dinheiro muito mais do que reflexões racionais.

É um caso típico de ovo de Colombo: é fácil perceber que psicologia e economia são inseparáveis 40 anos depois de Thaler e outros pioneiros criarem uma área de pesquisa inteira dedicada a isso – a economia comportamental. Mas em seu tempo, economistas tradicionais o trataram como um herege, que tentava injetar incerteza na matemática impecável das teorias clássicas.

Graças a Thaler, hoje sabemos que posicionar produtos de determinada forma nas prateleiras dos supermercados torna os clientes mais propensos a comprá-los (ou não). Que informar na conta de luz de um indivíduo quanto seus vizinhos gastam o estimula a gastar menos que eles. E entendemos até os mecanismos psicológicos que levaram à crise mundial de 2008 – o que justifica a aparição do economista em A Grande Aposta. Um Nobel merecido – e mais pop que a média.

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