Coluna Carbono Zero: O urgente abraço à arquitetura verde
Os prédios emitem 40% de todo o CO2 no mundo. Mas podem – e precisam – melhorar.
O verão norte-americano trouxe um recorde que assusta até quem está acostumado à hostilidade do Vale da Morte, na Califórnia. Pela primeira vez na história, os termômetros marcaram 54,4°C por lá. É bem possível que essa tenha sido a temperatura mais alta já registrada por instrumentos confiáveis em qualquer lugar da Terra. Já está claro que a missão da humanidade é, além de conter as mudanças climáticas, se adaptar ao aquecimento “já contratado” da melhor forma possível. Entra em cena a construção verde: nome dado ao esforço, por parte de engenheiros e arquitetos, de tornar nossas edificações mais adequadas para os novos tempos.
Talvez o primeiro projeto a ganhar grande destaque nessa nova fase tenha sido a reforma do Empire State Building, em Nova York. Naquela cidade, com sua grande variação de temperaturas ao longo do ano, as edificações respondem por 70% da emissão de carbono. Concluída em 2010, a reforma do Empire State custou US$ 31 milhões, mas reduziu o consumo de energia do prédio em 40%, economizando mais de US$ 4 milhões ao ano.
O trabalho envolveu desde intervenções complexas, como a modificação de todo o sistema de refrigeração, até pequenos toques, como recobrir as 6.514 janelas com uma camada de filme que ajuda a reduzir o ganho de calor no verão e a perda no inverno. E o sistema de elevadores foi atualizado com frenagem regenerativa (em que a energia térmica gerada pela fricção da freada é convertida em eletricidade para reúso, mecanismo já usado em carros elétricos).
É uma mentalidade que se aplica a prédios antigos, que precisam de reformas, mas mais ainda a novas edificações, que podem já nascer com todas essas ideias embutidas no projeto. Em 2020, o Instituto Americano de Arquitetos fez uma lista dos dez projetos sustentáveis de maior destaque, e ali não faltam boas ideias.
A aplicação de painéis solares é uma das mais óbvias. Hoje, há fabricantes, como a empresa Tesla, que os produzem na forma de telhas, o que agrega estética e funcionalidade. Mas às vezes soluções low-tech são igualmente desejáveis, como simplesmente ampliar a iluminação natural e o fluxo de ar livre no interior das edificações, bem como instalar jardins nas coberturas e escolher materiais que facilitem o controle térmico. Conforme tentamos buscar a ambiciosa meta do carbono zero (hoje os prédios respondem por 40% das emissões globais de CO2), é não só desejável como imperativo que façamos essa transição o mais rapidamente possível.