A nova era da violência
Desde os atentados terroristas, os EUA temem diante da ameaça de uma destruição em massa, usando armas químicas e biológicas.
Rafael Kenski
Ourso é um animal forte o suficiente para não temer ataques frontais de nenhum predador. Em seu ambiente, os únicos seres vivos que o derrubam são organismos microscópicos, como bactérias e vírus, ou uma planta que injete veneno nele. Desde o último dia 11 de setembro, essas lições da natureza foram transferidas para o campo geopolítico. Os Estados Unidos, que não temem ataques diretos de nenhum país, assustam-se diante dos danos localizados, mas aterrorizantes, do terrorismo de destruição de massa. Depois de perder dois de seus maiores prédios, os americanos agora temem que os terroristas ataquem com as mesmas estratégias capazes de derrubar os ursos: armas químicas e biológicas. A essa dupla, soma-se o perigo nuclear.
“Até então, ninguém acreditava que terroristas usariam essas táticas porque, em primeiro lugar, eles não teriam como e, em segundo, eles não desejariam”, afirma Gary Ackerman, especialista em terrorismo do Instituto Monterey de Estudos Internacionais, na Califórnia, EUA. “Agora sabemos que estávamos errados pelo menos quanto à segunda parte.” Resta torcer para que a primeira se mantenha verdadeira.
Apesar dos recentes ataques contra os EUA com anthrax (um risco que a Super antecipou na reportagem “Biologia do mal”, de agosto de 2001) indicarem que os terroristas estão longe de ser um bando de malucos despreparados, é pouco provável que eles tenham hoje materiais para causar uma destruição em massa. Controlar armas químicas e biológicas exige um investimento de milhões de dólares, além de cientistas especializados e equipamentos para produção de toxinas em escala industrial.
A vida dos terroristas ficaria muito mais fácil se alguma nação se dispusesse a ajudá-los. O Paquistão, por exemplo, possui entre 20 e 50 armas nucleares, e países como o Iraque talvez tenham um estoque de poderosos artefatos químicos e biológicos. As organizações poderiam também contar com o apoio de especialistas em armamentos das antigas repúblicas soviéticas, muitos desempregados ou com o paradeiro desconhecido. “As possibilidades são muitas. Cedo ou tarde eles desenvolverão armas de destruição de massa”, afirma Ackerman. Por enquanto, os ataques são suficientes para cumprir pelo menos um dos objetivos terroristas: espalhar o pânico.
Atenta aos riscos, a Organização Mundial de Saúde recomendou a todos os países que se preparem para atentados químicos e biológicos. As medidas incluem melhorar o sistema de saúde, aumentar a vigilância, traçar planos de emergência para uma resposta rápida, com a cooperação de diversas nações. Se cumprirmos essas metas, estaremos protegidos não só dos grupos extremistas, mas também contra as nossas próprias catástrofes naturais. Isso é algo que o urso não pode fazer por si mesmo.
drusso@abril.com.br
Raio-x da paranóia
Quais são os riscos reais do terrorismo de massa – e como evitá-los
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