A verdadeira superbactéria
Mutação genética torna duas espécies de bactérias invulneráveis a todos os medicamentos existentes
Salvador Nogueira
Há anos os cientistas previam que isso iria acontecer. Mas finalmente a ameaça parece estar batendo à porta: estão surgindo bactérias capazes de resistir a praticamente todos os antibióticos. Praticamente todos, ou todos mesmo. Depois da KPC, que foi apelidada de superbactéria e causou pânico nos hospitais brasileiros (mas que pode ser tratada com uma combinação de 3 antibióticos), está surgindo uma linhagem de micro-organismos ainda mais resistentes. E o pior: isso já aconteceu. As bactérias E. coli e Salmonella, que causam infecções intestinais e são comuns em todo o mundo, já adquiriram um gene que as torna capazes de destruir as moléculas de qualquer tipo de antibiótico – inclusive os carbapenemos, que hoje são a última arma eficaz para matar os micro-organismos mais resistentes, como a superbactéria brasileira.
Por enquanto, as bactérias indestrutíveis só foram encontradas na Índia, no Paquistão e no Reino Unido. Mas os cientistas temem que elas se espalhem pelo resto do planeta – ou transfiram o tal gene para espécies mais agressivas. “Isso poderia significar o fim [da era dos antibióticos]”, afirma o pesquisador Tim Walsh, da Universidade de Cardiff, cuja equipe foi responsável pela descoberta. “Não há medicamentos contra as bactérias que produzem esse gene.” Contra elas, a humanidade está indefesa.