Otávio Rodrigues
Em 1991, um casal de aventureiros encontrou um corpo congelado nos Alpes italianos. Até aí nada de novo, porque é relativamente fácil morrer naquele lugar isolado e frio. Pouco depois, no entanto, descobriu-se que aquele cidadão congelado morrera há um bocado de tempo. Muito mesmo. Uma datação com carbono-14 mostrou que Ötzi – celebridades precisam ter nome – vivera neste mundo há 5 300 anos. Embora não tivesse planejado essa jornada tão importante pelos milênios, Ötzi trouxe com ele uma bagagem valiosíssima. Elegante (bota e roupas de couro bem costuradas, um sobretudo impermeável feito de capim) e conservadão (pudera, passou esse tempo todo enterrado no gelo), seu arsenal incluía ferramentas, armas e até um “bat-cinto” de mil utilidades. Na mão, a machadinha de cobre – prova de que a Idade da Pedra terminara muito, muito tempo antes. Mas o melhor da investigação vem agora. Dia 25 de setembro, Ötzi saiu do congelador mais uma vez. Foi examinado, escaneado, forneceu amostras de pele, tecidos dos órgãos e até restos de sua última refeição. A causa é nobre. Uma equipe está fazendo um mapa do seu genoma. Outra estuda as seqüências genéticas de algumas bactérias que ele carregava, o que permitirá determinar hábitos alimentares e doenças comuns àquela época. E será possível conhecer até as temperaturas sob as quais vivia nosso velho amigo a partir de uma análise dos minerais tirados no esmalte de seus dentes.
Os primeiros resultados saem daqui a quatro meses. Como diria o Ötzi, agora é só esperar.
Para saber mais
https://dsc.discovery.com/stories/history/iceman/otzi.html
O check-up da múmia
Dados coletados em um pastor de ovelhas que ficou congelado 5 000 anos nos Alpes, apelidado de Ötzi, contam sua história
1. Partículas achadas no intestino revelam que Ötzi comeu variedade de trigo do sul da Itália; teria vindo de lá?
2. Sobretudo impermeável de capim, que continuou em uso na região até o século XIX
3. Roupas de couro muito bem cortadas e costuradas. Botas forradas com folhagens para reter calor
4. No cinto guardava pedras e cogumelos secos para fazer fogo e ferramentas para pequenos consertos