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Análise de DNA revela aparência de denisovanos

É a primeira vez que cientistas conseguem recriar a fisionomia dessa espécie de hominídeo – mas o estudo foi questionado por outros especialistas.

Por Guilherme Eler
20 set 2019, 20h26

As primeiras evidências da existência dos denisovanos, primos do Homo sapiens extintos há 30 mil anos, foram encontradas apenas em 2008. O material arqueológico que se reuniu desses hominídeos desde então se restringe a três dentes, uma mandíbula (descoberta em maio de 2019) e um pedaço de osso de um dedo.

Foi a partir desse último vestígio que pesquisadores puderam acessar o DNA desses ancestrais distantes – e, pela primeira vez, elaborar um retrato falado deles.

“Denisovanos lembram a aparência de neandertais de muitas maneiras, mas, em alguns traços, eles parecem conosco e, em outros, são totalmente únicos”, disse Liran Carmel, uma das pesquisadoras que assina o estudo, em um comunicado.

A pesquisa, que envolveu cientistas de Israel e da Espanha, identificou 56 aspectos nos quais denisovanos se diferem de humanos modernos ou dos neandertais. 34 dessas diferenças estão no crânio: a caixa craniana dos denisovanos é mais larga que a dos dois outros grupos.

(Maayan Harel/Divulgação)

Em vez de orientar o trabalho de reconstituição a partir do sequenciamento de amostras de DNA, os pesquisadores usaram uma técnica diferente. No estudo, o fator que mais pesou não era a sequência de letras (A,T,C,G) que forma o código genético – mas o quão ativos ou inativos certos trechos de DNA estavam. Calma, a gente explica.

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A “atividade” em questão é definida a partir de pequenas modificações no DNA – chamadas de metilações. A palavra metilação tem a ver com um grupo químico de nome metil, nada além de três átomos de hidrogênio em torno de um átomo de carbono. O tal metil, quando troca de lugar, é capaz de “desligar” pedaços do genoma, e gerar mudanças genéticas sem alterar a aparência da sequência de letras – a receita de bolo genética que garante que cada célula vai desempenhar uma função específica.

Cientistas coletaram os dados sobre metilação de um fóssil de denisovano, de dois neandertais de 50 mil anos e de cinco H. sapiens que viveram entre 45 mil e 7,5 mil anos. 

A etapa seguinte foi comparar os padrões de metilação do DNA extraído do ossinho denisovano com a maneira como a metilação influencia na formação do esqueleto dos dois parentes dos denisovanos que estão vivos até hoje: humanos e chimpanzés.

O trabalho, então, foi tentar imaginar como essas diferenças poderiam influir no formato do corpo (e nos ossos) de um denisovano. Tudo com base em como as metilações tinham ativado ou desativado genes em humanos e chimpanzés.

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O resultado teve precisão de até 85%, calculam os cientistas, e é este que você vê na foto acima. A mulher em questão, acredita-se, teria vivido onde hoje é a Sibéria por volta de 50 mil anos atrás. Como se trata de uma reconstrução mais generalista, a figura representa um grupo de indivíduos, e não um denisovano específico. Mas dá para identificar na modelo algumas características exclusivas, como a arcada dentária mais pronunciada – além do rosto alongado e o osso da pélvis largo. Esses traços os aproximam mais de neandertais que de humanos primitivos, algo já sabido pela ciência.

Há evidências de que tanto neandertais quanto denisovanos tenham coexistido com humanos primitivos por milhares de anos. Mais que isso, eles chegaram a dividir uma caverna na Sibéria e relacionar-se sexualmente – o que prova o fato de humanos compartilharem certa porcentagem de seu genoma com denisovanos.

Apesar de ter conseguido um feito inédito, o estudo não foi unanimidade entre a comunidade científica. Certos pesquisadores questionaram se o método utilizado não teria feito aproximações demais – distanciado o aspecto final da real aparência do homem de Denisova.

“Ainda que o resultado pareça bastante convincente ele, na verdade, não é”, disse John Hawks, professor da Universidade de Wisconsin entrevistado pela revista New Scientist. “Estudar as diferenças de metilação é um campo de pesquisa promissor, mas ainda temos um longo caminho até entender como diferenças de metilação podem implicar em mudanças no esqueleto”.

O estudo científico foi publicado na revista Cell.

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