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Homens de Neandertal e Denisova compartilharam caverna por 100 mil anos

Relação entre grupos hominídeos e uma caverna da Sibéria pode ajudar a explicar, também, chegada do Homo sapiens à região

Por Guilherme Eler
Atualizado em 31 jan 2019, 19h48 - Publicado em 31 jan 2019, 18h03

O termo “hominídeo” se refere a indivíduos de espécies primitivas que têm algum grau de parentesco, evolutivamente falando, com o Homo sapiens.

É como se fossem primos arcaicos do homem atual: compartilham algumas características-chave incorporadas por nós, como o cérebro mais desenvolvido e uma habilidade manual refinada, e têm anatomia notadamente diferente da linhagem símia, que deu origem aos macacos atuais.

Nessa categoria destacam-se o homem de Neandertal, natural da Europa e extinto há 40 mil anos, e o de Denisova, que vivia na Ásia e Oceania e sumiu do mapa 30 mil anos atrás. Ambos eram significativamente parecidos conosco por serem descendentes do mesmo primata que deu origem ao H. sapiens: o H. heidelbergensis, surgido também na África, mas pelo menos 500 milhões de anos antes. Como explica esta matéria da SUPER, a hipótese mais aceita argumenta que os hominídeos que ficaram na África deram origem a nós, os que chegaram à Europa se tornaram o homem de Neandertal, e os que chegaram à Ásia, os denisovanos.

Apesar da barreira geográfica inicial, há muitos registros na literatura científica que permitem afirmar que essas espécies interagiram com o homem após sua saída do continente africano, há alguns milhares de anos. Isso teria acontecido seja na busca por espaço, por alimento ou mesmo relações sexuais. Sim, os primeiros Homo sapiens transaram com denisovanos e neandertais, deixando, inclusive, descendentes férteis.

Mesmo quando sequer havia o H. sapiens na equação, no entanto, a interação entre denisovanos e neandertais também era frequente. Este estudo publicado em agosto de 2018, por exemplo, provou com ajuda de DNA de um fóssil, que uma jovem hominídea teria um pai de Denisova e uma mãe neandertal.

O principal local que simboliza esse contato entre espécies é a Caverna de Denisova, que fica na Sibéria. Lá foi descoberto o primeiro indício da existência do homem denisovano, em 2010, além de fósseis que marcavam a presença desses dois grupos de hominídeos. Isso levou os cientistas a acreditar que neandertais e denisovanos chamavam a mesma caverna de “lar doce lar” durante a idade da Pedra. O que não se sabia ao certo, ainda, era a época exata em que deram as caras no local.

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Dois novos estudos, publicados recentemente na revista científica Nature, oferecem novas perspectivas que permitem definir maior precisão o momento em que ambos chegaram à tal caverna. Segundo indicam as descobertas, as espécies começaram a coexistir na área há cerca de 200 mil anos.

O primeiro estudo envolveu uma parceria entre pesquisadores da Universidade de Wollongong, na Austrália, e arqueólogos russos. Eles reuniram dados a partir da análise de 103 camadas de sedimentos recolhidas na Caverna de Denisova, que contêm fragmentos de 50 ferramentas de pedra, animais, plantas e fósseis de hominídeos.

A idade desses registros impede que se estime o tempo de vida dos objetos pela forma mais tradicional, a datação por carbono – técnica que costuma valer para amostras de até 50 mil anos. Sendo assim, cientistas precisaram usar o método de luminescência estimulada, que identifica a última vez que um grãozinho de areia da caverna foi exposto à luz. Dados provaram que, no caso de fragmentos relacionados a denisovanos, eram 280 mil anos de escuridão. Ou seja: a espécie teria chegado por lá há 280 mil anos – e deixado de frequentar o local há 55 mil anos, segundo estimativas dos cientistas.

Já os neandertais teriam chegado bem depois: há 193 mil anos. Os registros indicam que o momento em que saíram do local, por sua vez, aconteceu cerca de 97 anos mil atrás. A convivência entre as duas espécies, dessa forma, teria sido de quase 100 mil anos.

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Ainda que esse convívio não tenha sido simultâneo todo o tempo – ou seja, denisovanos provavelmente não passaram 100 mil anos em uma longa reunião de condomínio com os neandertais – o intercâmbio entre ambos com certeza aconteceu. E a existência de uma amostra de DNA de algum homem das cavernas de pai de Denisova e mãe neandertal é a evidência definitiva disso.

A segunda pesquisa, assinada por um grupo internacional de pesquisadores, sinaliza algo ainda mais curioso: além de denisovanos e neandertais, a Caverna de Denisova teria sido abrigo, também, para o H. sapiens. Adereços e ferramentas de ossos muito parecidos com os que eram feitos pelos primeiros hominídeos, que viviam na Europa, foram encontrados por lá e datados com idade que varia entre 49 mil e 43 mil anos atrás. Tais evidências, porém, não são definitivas. Isso porque não há registros da presença humana nesse período em nenhuma outra parte da Caverna de Denisova ou de regiões vizinhas, o que impede que elas sejam comparadas, comprovando a hipótese.

Como destaca a revista Nature, ainda que os artefatos não tenham nascido das mãos de H. sapiens, há a hipótese de eles tenham influenciado o estilo de seus primos mais antigos, dando uma mãozinha na criação. “Eu ficaria muito surpreso se os registros do início do Paleolítico Superior de Denisova fossem feitos por denisovanos ou neandertais sem nenhuma ajuda de nossa espécie”, destacou Robin Dennell, arqueólogo da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e autor de um ensaio que acompanha os dois estudos.

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