Apenas ficção: não dá para aprender ouvindo gravações durante o sono
De acordo com um estudo belga, o cérebro humano até reconhece sons enquanto você dorme – mas não consegue encadeá-los em uma sequência lógica
Em Admirável Mundo Novo, o escritor Aldous Huxley apresenta um processo de aprendizagem durante o sono chamado “hipnopedia”. No livro, como em toda boa distopia, o método é usado para fazer lavagem cerebral em crianças. Mas você já imaginou o tempo que ganharíamos se pudéssemos estudar para o vestibular enquanto dormimos, ouvindo gravações das aulas?
Apesar de defendido por alguns, o funcionamento da hipnopedia nunca foi comprovado. E um novo estudo parece ter confirmado sua ineficácia. Um grupo de pesquisadores do Instituto de Neurociência da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, monitorou a atividade cerebral de 11 participantes durante a fase profunda do sono (NREM), na qual ficamos o mais distante possível da consciência. Eles foram expostos a uma sequência de sons, reproduzidos ora de forma aleatória, ora em uma sequência lógica.
Os cientistas compararam a frequência dos sons com a das ondas cerebrais e observaram as diferenças entre as respostas dependendo da complexidade do barulho. E concluíram que, apesar do cérebro humano conseguir identificar sons durante o sono, ele é incapaz de reconhecê-los como parte de uma sequência maior. Em outras palavras, você pode até ouvir palavras – mas não será capaz de encadeá-las em frases coerentes.
Mas calma, a ideia do senhor Huxley não precisa ser totalmente descartada. A pesquisa reitera que, apesar dos resultados, novas formas de aprendizagem podem ser testadas. Um cursinho noturno, da maneira como conhecemos, pode nunca existir, mas o reconhecimento de sons básicos pode apontar para possíveis métodos que façam associações mais simples e elementares. Em resumo: não dá ler a Enciclopédia Britânica. Mas captar uma mensagem subliminar estilo Jequiti não chega a ser utopia distopia.