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Bactérias podem armazenar “memórias” e transmiti-las por gerações

Estudo com E.coli mostra que as colônias bacterianas podem ter respostas mais eficientes caso já tenham sido expostas a determinadas situações antes.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 27 nov 2023, 09h30 - Publicado em 24 nov 2023, 19h58

Não bastasse causar doenças e sobreviver a quase qualquer tipo de ambiente, agora sabemos que as bactérias também podem ter lembranças. Bom, mais ou menos. Afinal, esses seres são desprovidos de cérebros ou qualquer tipo de sistema nervoso. Vamos explicar.

Um estudo conjunto entre pesquisadores da Universidade do Texas e da Universidade de Delaware descobriu que bactérias como a Escherichia coli (possivelmente um dos seres vivos mais estudados no mundo inteiro) possuem um sistema que permite que elas consigam se “lembrar” de experiências do passado, e também passar essas “lembranças” para as gerações futuras.

Primeiro é importante ressaltar que essa “memória” das bactérias não é a mesma que a nossa. Nos seres humanos, o armazenamento da memória fica dividida em pelo menos duas regiões do cérebro: no neocórtex e no hipocampo. Mas nas bactérias, desprovidas de cérebro, o funcionamento disso é um pouco diferente.

Souvik Bhattacharyya, pesquisador da Universidade do Texas e um dos líderes do estudo disse em nota: “As bactérias não têm cérebros, mas podem coletar informações do ambiente e, se tiverem encontrado esse ambiente com frequência, podem armazenar essas informações e acessá-las rapidamente mais tarde para seu benefício”.

Eles descobriram isso fazendo uma pesquisa com uma aglomeração bacteriana. Nesse tipo de experimento, as bactérias se agrupam em uma massa migratória, buscando um local mais adequado para se “estabelecer” e colonizar uma superfície.

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Eles então pegaram massas de bactérias E. coli, e testaram com diferentes tipos de fatores ambientais, analisando quais os fatores faziam as bactérias se agruparem com maior velocidade. 

Maiores quantidades de ferro intracelular tornava as bactérias mais estáveis, mas o mesmo ferro em quantidades mais baixas as faziam se aglomerar rapidamente. Eles observaram esse comportamento, também, em gerações futuras dessas bactérias. 

A chamada “memória de ferro”, foi passada para pelo menos quatro gerações de células filhas, e se perdia quando chegava à sétima geração. 

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Os cientistas ainda não conhecem os mecanismos que levam a esse comportamento, mas acreditam que a associação das células com o ferro leva a um certo tipo de condicionamento – principalmente porque o ferro está relacionado a outros mecanismos de estresse em bactérias.

E a relação entre o ferro e as bactérias pode estar lá na origem da vida na Terra. É possível que esse comportamento seja uma espécie de traço evolutivo. 

“Antes de haver oxigênio na atmosfera da Terra, as formas de vida celular primitivas estavam utilizando ferro para muitos processos celulares. O ferro não é crucial apenas na origem da vida na Terra, mas também na evolução da vida. Faz sentido que as células o utilizassem dessa maneira”, disse Bhattacharyya para a UT News.

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