As listras das zebras funcionam como repelente de inseto
Pinturas listradas adotadas pelos guerreiros de diversas etnias indígenas ajudaram a chegar à conclusão.
A seleção natural não dá ponto sem nó. Tudo na natureza tem uma razão – mesmo que a razão seja chamar a atenção, como a cauda do pavão. As listras das zebras, por exemplo, não servem só para perguntar se o bichinho é “preto com listras brancas ou branco com listras pretas”.
Várias funções hipotéticas já foram atribuídas às listras: elas podem ser um mecanismo para reter calor no organismo ou uma estratégia de camuflagem. Como as zebras vivem em rebanhos, a massa de listras em movimento galopante age como uma ilusão de óptica, dificultando a distinção de indivíduos. Um grupo de dez zebras, aos olhos de um predador sozinho, pode parecer vinte ou trinta.
Nosso assunto, porém, é um terceira possibilidade: a de que as listras seriam um repelente natural de mosquinhas chamadas mutucas (do gênero Tabanidaeou), comum em ambientes quentes e secos, como os que a maioria das zebras habitam. O primeiro artigo sobre essa possibilidade foi publicado na revista Nature em 2014, mas encarado com ceticismo pela comunidade científica.
Agora, cientistas húngaros foram por outro caminho para provar essa hipótese: investigaram as pinturas corporais listradas (que imitam o padrão das zebras) de tribos da África, Austrália, Papua Nova Guiné e América do Norte. Os pesquisadores argumentam que provavelmente há uma função prática por trás do hábito, mesmo que seu significado cultural difira de etnia para etnia.
No experimento, foram usados três manequins diferentes: um com pele escura, um com pele clara e outro com pele escura com listras brancas pintadas. Depois de deixar os manequins em uma pradaria perto de Szokolya, na Hungria, durante o verão, os pesquisadores contaram o número de mordidas que cada um recebeu. Ou melhor: o número de tentativas de mordida. Os manequins eram cobertos por um material adesivo, em que as mutucas grudavam para permitir a contagem depois.
Os resultados são expressivos: o manequim de pele escura foi dez vezes mais picado do que o modelo com listras e duas vezes mais picado que o manequim de pele clara.
Conclusão óbvia: as mutucas odeiam listras. E ainda bem que as zebras estão preparadas contra elas, pois muito mais do que causar dor momentânea e coceira, as fêmeas da espécie transferem doenças sanguíneas entre os animais que picam. Afastar os bichinhos voadores pode ser uma questão de vida ou morte – e a natureza é claro, já sabia disso.