Astrônomos descobrem Quipu, a maior estrutura cósmica já vista no Universo
Ela é 13 mil vezes maior que a Via Láctea e seu nome vem de uma ferramenta de contagem inca, que utilizava nós em cordas (e tem um formato parecido aos filamentos do novo aglomerado cósmico)

Galáxias são conjuntos de estrelas, poeira, gases e matéria escura que formam o Universo. Nós vivemos (assumindo que você, leitor, seja um companheiro terráqueo) na Via Láctea, uma galáxia espiral.
As galáxias podem ser agregadas em grupos, aglomerados e superaglomerados. No nosso caso, a Via Láctea faz parte do Grupo Local, que por sua vez integra o superaglomerado de Virgem – que é parte de uma estrutura cósmica ainda maior chamada Laniakea (uma palavra havaiana que significa “céu imenso”).
Agora, um grupo de astrônomos afirma ter encontrado o que pode ser a maior estrutura em escala do universo conhecido – um grupo de aglomerados e superaglomerados de galáxias. Chamada de Quipu, essa estrutura se estende por cerca de 1,3 bilhão de anos-luz (13 mil vezes maior que a Via Láctea) e contém a massa equivalente a 200 quatrilhões de sóis.
O nome Quipu vem de um sistema de contagem utilizado pelos incas baseado em nós em cordas. Assim como cordões de um quipu, a Quipu é uma estrutura com um grande filamento principal e vários filamentos laterais.

A descoberta foi compartilhada no final de janeiro em um artigo publicado no site de pré-prints ArXiv. Isso significa que o estudo ainda não foi revisado por outros especialistas, mas já foi aceito pela revista Astronomy and Astrophysics.
Os cientistas detectaram as estruturas de Quipu a aproximadamente 425 milhões e 815 milhões de anos-luz da Terra. Estudos anteriores sugerem que estruturas ainda maiores existem mais profundamente no cosmos.
Até então, o superaglomerado de Shapley era conhecido como a maior superestrutura já descoberta, mas foi eclipsado por Quipu e outras três estruturas gigantes achadas pela mesma pesquisa: a superestrutura Serpens-Corona Borealis, o superaglomerado Hércules e a superestrutura Sculptor-Pegasus, que se estende entre as duas constelações que lhe dão o nome.
Juntas, essas cinco superestruturas contêm 45% dos aglomerados de galáxias, 30% das galáxias e 25% da matéria do universo observável, informaram os pesquisadores no artigo. No total, elas representam 13% do volume do universo.

Entender essas superestruturas é uma peça importante do complexo quebra-cabeça de recriar a história do universo. Elas influenciam, por exemplo, o fundo cósmico de micro-ondas, que é a radiação remanescente do Big Bang que está presente em todo o espaço. Essa radiação é como um eco do início do universo, e as superestruturas podem alterar sua aparência e suas medições.
Os cientistas também notaram que a velocidade das galáxias muda em áreas com superestruturas, onde a expansão local pode confundir as medições da expansão geral do universo, conhecida como constante de Hubble. Além disso, a forte gravidade dessas estruturas pode curvar a luz, fenômeno chamado lente gravitacional, que distorce as imagens de objetos distantes.
“Na futura evolução cósmica, essas superestruturas estão fadadas a se dividir em várias unidades em colapso”, escreveram os pesquisadores. “Portanto, são configurações transitórias. Mas, no momento, são entidades físicas especiais com propriedades características e ambientes cósmicos especiais que merecem atenção especial.”