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Big brother animal

Pensa que é fácil ser animal doméstico? Critérios muito precisos fizeram com que só alguns bichos se tornassem companheiros do homem.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h37 - Publicado em 31 out 2007, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

Num universo paralelo, em vez de os europeus invadirem e conquistarem a África montados em cavalos, chefes zulus usam seus rinocerontes feito tanques de guerra, colocam a Europa de joelhos e instalam sua capital tribal em Paris. Daria um ótimo enredo de ficção científica. Só tem um probleminha: nesse universo, os rinocerontes também precisariam ter um temperamento totalmente diferente do que conhecemos, ou o império zulu terminaria bem antes de começar, talvez com uma chifrada na barriga.

E isso porque nem todo bicho nasceu para uma vida na fazenda. Que importância tem isso? Um bocado, pode acreditar. Os grandes mamíferos domésticos que hoje vivem no planeta inteiro foram um dos principais motores das civilizações. E não só pelas razões mais óbvias. Sim, eles forneceram carne, leite, queijo, couro e esterco, puxaram arados e carroças. Mas, até o começo do século 20, eles também eram os únicos tanques de guerra que existiam (quem fazia esse papel eram os cavalos e, bem mais raramente, os camelos).

Mais fundamental ainda, eles também produziam doenças. As piores epidemias da história começaram com micróbios transmitidos por bichos domésticos. Muita gente morria, mas com o passar dos séculos quem tinha rebanhos ficava imune, enquanto quem não tinha ficava vulnerável – e batia as botas quando entrava em contato com gente que criava animais. Os bichos nos deram as primeiras armas biológicas da história, as reais responsáveis por ganhar as grandes guerras do passado.

Anna Karenina e as vacas

Pois bem, e qual a receita para que os cavalos, e não os rinocerontes, entrassem para o nosso time? O biogeógrafo americano Jared Diamond apelidou-a de “Fator Anna Karenina”, em homenagem ao romance russo de mesmo nome que o inspirou. Segundo a idéia, todos os bichos domesticados são iguais; cada bicho selvagem é diferente à sua maneira. Traduzindo: para se adaptar à vida com os humanos, é preciso ter um pacote completo de características – uma pecinha fora do lugar e o sonho de ir morar no sítio vai pelo cano.

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Para começar, a dieta: é preciso ser herbívoro ou comer de tudo. Depois, o ciclo de vida: elefantes seriam uma maravilha como fontes de picanha, se não demorassem 15 anos para ficar adultos, matando qualquer pecuarista de fome antes.

O bicho também não pode ter vergonha de fazer sexo na frente dos donos. Não pode ser bravo demais (feito as zebras, que quando mordem uma pessoa não largam) nem medroso demais (como as gazelas, que entram em pânico e se jogam contra a parede até morrer quando colocadas num estábulo fechado). E, o mais importante, tem de pertencer a uma espécie que viva em sociedade e tenha uma hierarquia fixa e pacífica. Desse jeito, o dono humano simplesmente toma o lugar do líder do bando e consegue conduzir o animal.

E os elefantes?

Talvez você esteja achando a nossa definição de “bicho doméstico” uma roubalheira. E os elefantes usados na guerra pelos indianos ou pelos generais da Antiguidade, por exemplo? Aí é que está o pulo-do-gato. Esses bichos, assim como outros ferozes e de grande porte, nunca foram domesticados nos tempos antigos – só amansados. Eles eram capturados na natureza e criados em cativeiro, mas seus donos nunca conseguiram controlar sua reprodução nem modificá-los geneticamente para servir às necessidades humanas, o que é a marca da verdadeira domesticação.

Paredão da domesticação

Veja por que só alguns bichos viraram nossos companheiros

Bighorn (Ovis canadensis)

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Os índios poderiam ter domado este ovino. Mas o bicho não costuma ter uma hierarquia definida, o que impede que ele obedeça a humanos.

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Ovelha (Ovis aries)

Sua lã esquenta aa humanidade faz 10 mil anos, desde a domesticação no Oriente Médio e na Ásia Central, além de dar leite e carne.

Cavalo (Equus caballus)

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Nada substituía os cavalos nos campos de batalha. Rápidos e valentes, os bichos, oriundos da Ucrânia, viraram o primeiro correio expresso.

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Zebra-das-planícies (Equus quagga)

As zebras poderiam ter feito o mesmo papel, não fosse um detalhe: quando mordem alguém, não largam mais.

Búfalo africano (Syncerus caffer)

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É quase certo que ninguém até hoje tenha se arriscado a ordenhar uma fêmea de búfalo-africano, agressiva e fogosa.

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Búfalo doméstico (Bubalus bubalis)

Por outro lado, em grande parte da Ásia, e no Brasil, o bovino aqui ao lado dá um leite que é ideal para produzir muçarela.

Rena (Rangifer tarandus)

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No extremo norte do nosso planeta, a rena faz as vezes de vaca e cavalo ao mesmo tempo: carrega gente e, de quebra, fornece carne, leite e couro.

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Cervo (Cervus elaphus)

O cervo é caçado desde a Era do Gelo e seria um bom bicho de fazenda – a não ser pela falta de hierarquia rígida em seus bandos.

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