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Buraco negro no centro da Via Láctea ficou 75 vezes mais brilhante

Astrônomos tentam entender qual foi a causa de um intenso clarão que fez o Sagitário A* resplandecer como nunca durante duas horas e meia no dia 13 de maio

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 28 out 2019, 14h26 - Publicado em 15 ago 2019, 20h57

Para os padrões de buracos negros supermassivos, o que fica no coração da Via Láctea até que não é dos maiores. Com 4,6 milhões de massas solares, o Sagitário A* é 10 mil vezes mais leve que um buraco negro detectado recentemente — o mais gordinho já descoberto. Ele também costuma ser bastante tímido, tendo um comportamento constante e comedido. Mas em maio, foi diferente. O (quase) gigante acordou.

Durante duas horas e meia no dia 13 de maio, deu a louca no monstrinho preguiçoso que vive no centro da nossa galáxia. Naquela noite, astrônomos apontaram os poderosos e produtivos telescópios gêmeos do Observatório Keck, no Havaí, para o coração galáctico. Para a completa surpresa dos pesquisadores, conforme observavam a região na parte infravermelho do espectro, o Sagitário A* estava 75 vezes mais brilhante que o normal.

Os resultados serão publicados em um artigo no Astrophysical Journal Letters, mas já estão disponíveis no arXiv. Em 20 anos de monitoramento, ele nunca havia se comportado assim. Seu brilho sempre foi variável — afinal, é um buraco negro. Engole coisas a todo hora e o ambiente ao seu redor é bem caótico. Às vezes a magnitude oscila mesmo, é normal. Mas o pico de maio foi duas vezes mais intenso que o clarão mais forte registrado até então.

O objeto estava tão brilhante que os astrônomos pensaram estar observando uma das várias estrelas da família S que orbitam o buraco negro bem de perto. Acharam se tratar da estrela mais amorosa da galáxia, a S2. Só que o brilho foi se esvaindo rápido demais, então só podia ser o buraco negro. Mas o que, afinal, teria feito o astro sempre tão calminho ficar tão nervoso? Por enquanto, os cientistas ainda não têm uma certeza. Só alguns palpites.

Fato é que alguma coisa provocou uma balbúrdia momentânea no centrão da Via Láctea, e isso é considerado um ponto fora da curva nos modelos estatísticos que descrevem o comportamento do Sagitário A*. Pode ser que haja alguma imprecisão no modelo em si — então seria preciso corrigi-lo para que trate essas variações como algo normal. Outras possibilidades já prevêem cenários um pouco mais interessantes.

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A cada 16 anos, a S2 atinge o ponto de sua órbita mais perto do buraco negro, em que fica distante dele apenas 17 horas-luz. E isso aconteceu bem recentemente, no meio de 2018. É possível que sua passagem tenha causado alguma perturbação no fluxo de material que vai sendo tragado pelo Sagitário A*, que teria resultado no clarão de maio. Mas é improvável, por se tratar de uma estrela bem pequena.

Há também uma nuvem de gás na história. Em 2002, astrônomos identificaram o que parecia ser uma grande massa de hidrogênio se aproximando do centro da galáxia. Dez anos depois, tiveram certeza de que era mesmo uma nuvem de gás, e a batizaram de G2. Pode ser que, de lá para cá, as intensas forças gravitacionais do buraco negro tenham rasgado a nuvem e trazido seu material para o disco de acreção que gira em torno dele. O aquecimento do gás causaria um clarão.

A chegada da nuvem de gás pode ter desencadeado reações em cadeia que acabaram levando ao flash de maio. Mas isso também não está certo. E por enquanto não tem como descartar algum possível envolvimento da S2 no fenômeno. O único jeito de tirar a dúvida é coletando mais dados. Grandes telescópios observaram o Sagitário A* em vários comprimentos de onda nos últimos meses — talvez eles possam ajudar.

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A SUPER produziu um minidocumentário sobre buracos negros. Para assistir, é só clicar aqui embaixo.

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