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Calma com o vídeo do Pentágono: OVNI não é sinônimo de alienígena

A Marinha dos EUA admitiu ter avistado OVNIs. Isso mesmo: OVNIs. E não discos voadores. Nem naves invasoras. Nem nada disso. Entenda a diferença.

Por Ingrid Luisa
20 set 2019, 19h57

Nos últimos dias, a internet só fala de uma coisa: a Marinha dos EUA confirmou que vídeos vazados do Pentágono – a sede do Departamento de Defesa dos EUA – realmente mostram OVNIs. Se você pegou o bonde da notícia andando, vamos relembrar:

Tudo começou em dezembro de 2017, quando o jornal americano The New York Times revelou uma gravação que mostra pilotos norte-americanos perseguindo um objeto esférico misterioso. Ele se deslocava a milhares de metros de altitude, sem asas, motores ou sinais visíveis de propulsão.

Na reportagem, o Times anunciou a existência do “Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais” (AATIP, na sigla em inglês), um projeto de detecção e investigação de OVNIs até então mantido em sigilo – e que, segundo a reportagem, custava cerca de US$ 22 milhões por ano aos cofres públicos.

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As imagens foram gravadas em 2004, em San Diego, e em 2015, em um local não revelado. No material mais recente, é possível ouvir pilotos conversando sobre o OVNI via rádio: “É um drone, bro!”, “Meu Deus! Eles estão indo contra o vento!”

Até agora, nenhuma fonte oficial havia confirmado a notícia. Até agora. Nesta sexta, Joseph Gradisher, porta-voz do vice-chefe de operações navais da Marinha, deu uma declaração oficial ao site The Black Vault, plataforma especializada em informações sobre a inteligência norte-americana.

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“A Marinha designa os objetos contidos nesses vídeos como ‘fenômenos aéreos não identificados’ [UAP, na sigla em inglês]”. Ele ainda confirmou que as imagens eram totalmente verídicas, e não foram editadas de nenhuma maneira.

Beleza: depois de uma confirmação oficial, você pode estar se perguntando: “Então o governo dos EUA admitiu a existência de ETs?”

Então, não.

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E isso foi algo que Gradisher quis deixar bem claro: ao ser questionado pelo site sobre o porquê dele ter usado UAP (sigla em inglês para “fenômenos aéreos não identificados”) e não UFO (“objeto voador não identificado” – OVNI, em inglês) para se referir ao conteúdo dos vídeos, o porta-voz explicou que a sigla UFO – originalmente usada para se referir a qualquer coisa que está no céu, como um balão meteorológico ou um drone – acabou sendo associada pelo público a alienígenas.

E aí fica difícil dar a notícia sem causar um bafafá desnecessário na internet. “Por muitos anos, nossos aviadores não relataram essas incursões por causa do estigma associado a terminologias e teorias anteriores sobre o que pode ou não estar nesses vídeos”, disse à CNN.

O termo UFO (unidentified flying object) foi cunhado em 1953 pela Força Aérea dos Estados Unidos para padronizar a maneira de se referir ao avistamento de objetos desconhecidos em seus relatórios.

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Em sua definição inicial, a Força Aérea declarou que um UFO era “qualquer objeto aéreo que, por desempenho, características aerodinâmicas ou características incomuns, não se enquadra em nenhum tipo de aeronave ou míssil atualmente conhecido ou que não possa ser positivamente identificado como um objeto familiar.”

O termo UFO difundiu-se na literatura especializada, principalmente por conta da Guerra Fria e uma crescente preocupação com a segurança nacional. Mas acredita-se que ele caiu nas graças do povo após o Edward J. Ruppelt, capitão da Força Aérea e chefe do Projeto Livro Azul (cúpula que investigava UFOs), escrever no livro The Report on Unidentified Flying Objects de 1956: “UFO é o termo oficial que eu criei para substituir as palavras ‘discos voadores’ “.

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A partir disso, mísseis soviéticos secretos passaram a ser encarados como naves alienígenas, e a mitologia nunca se desfez.

Para a tristeza dos ufologistas, a grande maioria dos UFOs investigados acabam se tornando IFOs (identified flying objects – em português, objetos voadores identificados). Em geral, os IFOs são bobos: objetos astronômicos (estrelas brilhantes, planetas, meteoros, satélites artificiais, a própria Lua…) aeronaves, mísseis, balões meteorológicos, chamas e até mesmo nuvens com formatos incomuns.

Foi uma confusão desse tipo que fez nascer o mito em torno da Área 51. O terreno da base secreta foi adquirido em 1955 para abrigar o desenvolvimento e os testes do avião espião Lockheed U-2 – que alcançava grandes altitudes e servia para ficar de olho nos soviéticos. A população das cidades próximas não sabia o que era aquela coisa estranha passando no céu – e ninguém das forças armadas estava autorizado a explicar.

Atualmente, o grosso dos UFOs são drones. A Administração Federal de Aviação divulgou dados de 2.308 avistamentos de drones por pilotos em locais não permitidos em 2018.

Ou seja: apesar de nossa Via Láctea abrigar um grande número de mundos potencialmente habitáveis, seria muita pretensão nossa achar que eles estão preocupados conosco. E se realmente estão, são bem mais discretos do que imaginam os teóricos da conspiração.

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