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Casa tóxica

Se você pensa que está seguro e confortável assim que fecha a porta da frente, pense de novo. Há muitos perigos à sua espreita no aconchego do lar

Por Óscar Garcia
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 30 set 2000, 22h00

Ah, nada como a casa da gente… O lugar mais gostoso e protegido do mundo, não é mesmo? Bem, nem sempre. Ao menos a julgar pelo que diz Roger Masters, da Universidade de Dartmouth, em New Hampshire, Estados Unidos. No estudo que desenvolve sobre os perigos domésticos, Masters afirma que o ar que você respira dentro da sua casa pode não só fazê-lo adoecer mas também torná-lo um assassino em potencial.

Assassino? Pois é. Tudo começa com a hipótese, defendida por ele, de que cidades com altos níveis de chumbo e manganês no ambiente apresentam um índice de criminalidade até três vezes maior do que a média das outras cidades. (De fato, esses metais têm efeitos fisiológicos adversos: inibem a liberação de serotonina e dopamina no cérebro – neurotransmissores que regulam o nosso comportamento. Como se não bastasse, o chumbo afeta de forma perniciosa as células gliais – vitais para a atividade dos neurônios.) O ponto de Masters é que as partículas de manganês e chumbo que podem transformá-lo num criminoso não proviriam da poluição industrial, mas do encanamento que leva a água até a sua casa. E estariam no chão e nos tapetes que recobrem os cômodos do seu doce lar. Quer dizer: você pode estar sendo lentamente envenenado enquanto relaxa no sofá para ler esta matéria da Super. Ou quando caminha preguiçosamente até a geladeira para pegar uma cerveja.

Como era de esperar, há uma pá de especialistas que consideram muito prematuro afirmar que eu ou você possamos perder a cabeça ou adoecer pelo simples fato de estarmos dentro de casa. Mas o estudo de Masters traz à tona um problema que começa a ser pesquisado cada vez com mais interesse pelos cientistas: a contaminação dos indivíduos pela casa onde moram.

Até agora, cientistas e autoridades sanitárias dirigiram todos os seus esforços para o estabelecimento de controles ambientais de larga escala e para a limitação do despejo de resíduos perigosos a céu aberto ou nos mananciais de água. E isso é bom. Os vilões eram aí, você sabe, os dejetos das indústrias, a poluição decorrente do tráfego, o volume crescente de lixo gerado pelas cidades etc. Só que, a todas essas, os pesquisadores passavam batidos por outras fontes importantes, embora menos evidentes, de contaminação.

Novos estudos, como o de Masters, revelam que temos literalmente dormido com o inimigo. “O risco de uma pessoa entrar em contato com substâncias nocivas à saúde em lugares considerados inofensivos – como a moradia, o escritório ou a garagem – é claramente maior do que a probabilidade de exposição no ambiente externo”, diz Wayne R. Ott, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Vários estudos realizados pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos em Elizabeth e Bayonne, duas cidades do Estado americano de Nova Jersey que contam com muitas indústrias químicas, revelam que os níveis de 11 compostos orgânicos voláteis detectados nos lares superavam de longe a sua concentração ao ar livre.

Não é difícil identificar a origem da contaminação doméstica: inseticidas, venenos contra pragas vegetais e animais, aromatizantes, solventes, desodorantes, produtos de limpeza, tapetes empoeirados, tintas, colas, fumaças da cozinha, de cigarros. O contato direto e permanente com substâncias dessa ordem implica em graves riscos para a saúde de quem vive na casa. Afinal, várias delas são cancerígenas. “Uma vez que o agente de contaminação entra em casa, os tapetes, os móveis e a poeira viram reservatórios de longo prazo”, diz Marcia G. Nishioka, da EPA. “Os resíduos nas superfícies podem constituir uma exposição crônica para os bebês, que brincam no chão, engatinham sobre os tapetes e levam as mãos e os objetos à boca.” De fato, os bebês são os que mais correm perigo. “Pelo seu rápido desenvolvimento, eles podem absorver cinco vezes mais poeira que um adulto”, diz Ott.

Os agentes de contaminação doméstica mais conhecidos são o benzeno, que provém da fumaça de cigarro, dos vapores da gasolina e de outros produtos como colas e tintas; o tetracloroetileno, que é usado na limpeza de roupas a seco; o paradiclorobenzeno, que entra na composição dos desodorantes e das bolinhas antitraças; e o clorofórmio, cujas principais fontes de exposição – pasme – se encontram na água fervente, na máquina de lavar e no chuveiro. Experiências com animais de laboratório têm demonstrado que o contato com essas substâncias voláteis pode provocar câncer.

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Os cientistas também pesquisam os efeitos sobre a saúde das substâncias que combatem pragas. Elas entram em casa aderidas às solas dos sapatos e se acumulam principalmente nos carpetes e nos tapetes. Outro objeto de estudo é o monóxido de carbono (CO), gás produzido pelos equipamentos de calefação, pelos fornos a gás e por grelhas e fornos com funcionamento deficiente. O CO é especialmente nocivo para as pessoas com problemas cardíacos.

Não resta dúvida: o próximo desafio dos cientistas e das autoridades sanitárias será melhorar o controle e a prevenção da contaminação no ambiente aparentemente desinfetado que chamamos de lar.

No tapete

Carpetes e tapetes são um receptáculo de substâncias tóxicas como venenos e compostos voláteis, que chegam nas solas dos sapatos. Quando aderem às fibras, essas substâncias podem permanecer inalteradas durante anos. É que ali ficam protegidas da degradação causada pela luz solar e pelas bactérias.

 

Roupa da tinturaria

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Para a limpeza a seco das roupas, as tinturarias utilizam tetracloroetileno – também conhecido como ercloroetileno –, um composto orgânico volátil que, em altas concentrações, causa câncer em animais. Para evitar sua inalação, é conveniente arejar a roupa antes de vesti-la ou guardá-la no armário. Diversas partículas também aderem à roupa.

 

Na poeira

Além de constituir o lar favorito dos ácaros que causam as alergias, a poeira doméstica é a principal fonte de contato com partículas de cádmio, chumbo e outros metais pesados. Mas não é só isso. A poeira também abre a porta para os difenilos oliclorados, compostos tóxicos de longa duração.

 

No chuveiro

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Ao tomar banho ou lavar louça com água quente, produz-se um vapor que contém clorofórmio – gás que, em grandes quantidades, provoca câncer em animais de laboratório. O clorofórmio aparece ali por causa do cloro usado no tratamento da água.

 

Na sala de estar

Definitivamente, fumar dentro de casa não é uma boa idéia. Em lugares fechados, a condição de agentes disseminadores de benzeno dos fumantes se amplia. Calcula-se que 45% da exposição total da população a esse composto cancerígeno provém da fumaça de cigarro. Em frente à lareira, a combustão da lenha e do carvão também libera benzeno, monóxido de carbono e outras substâncias cancerígenas derivadas do antraceno e do metil colantreno.

 

Na garagem

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O motor de explosão dos veículos produz monóxido de carbono, um gás tóxico que se mistura com a hemoglobina dos glóbulos vermelhos e provoca asfixia.

 

Nos alimentos

Os pesticidas usados no cultivo dos vegetais chegam em quantidades homeopáticas ao consumidor. Os efeitos desses resíduos na saúde é uma das áreas quentes da pesquisa toxicológica.

 

Produtos de limpeza

Os desodorantes, as bolinhas repelentes de traças, os desinfetantes e outros produtos de limpeza contêm solventes e a substância aradiclorobenzeno. A exposição humana a esse composto cancerígeno é maior no interior da residência do que nas emissões industriais.

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