Cientistas criam ratos que contraem Covid-19
Vacinas estão sendo testadas em humanos, mas cobaias podem refinar o processo.
Ratos compartilham 80% do DNA com humanos, o que torna sua fisiologia parecida com a nossa. Uma coisa que as espécies não têm em comum, no entanto, é a susceptibilidade ao novo coronavírus. As proteínas da “coroa” do Sars-Cov-2 são como uma chave que precisa se ligar a uma fechadura específica, a ACE2, enzima presente nas células do trato respiratório humano. Sem ela, um rato não pega Covid-19. Bem, pelo menos, não um rato comum.
A Universidade de Washington criou ratos-modelo que podem ser infectados pelo vírus. Michael S. Diamond, que liderou a pesquisa, explica como eles são feitos – e sua importância para a ciência.
Como foi a criação da cobaia?
Ratos até possuem a enzima ACE2, mas ela não se liga ao Sars-Cov-2. A dos seres humanos, sim. Então precisávamos dar esse receptor aos ratos. Fizemos isso por meio de um adenovírus. Ele infecta o rato, entra nas células e faz o organismo copiar o DNA que codifica o ACE2 humano. Com essa enzima, o animal pode ser infectado pelo Sars-Cov-2. Ele se replica nos pulmões e causa pneumonia nos ratos, como acontece com a gente.
Vacinas já estão sendo testadas em humanos. Por que, ainda assim, é importante criar uma cobaia?
Nós precisamos de um plano B caso esses não deem certo. Podemos, por exemplo, dar o receptor ACE2 para ratos obesos ou idosos para ver se a doença é pior neles. Assim é possível entender melhor a Covid-19, além de estudar vacinas e medicamentos. O vetor viral [adenovírus] também estará disponível para outros pesquisadores que entrarem em contato conosco. Ou seja, eles só precisam comprar um rato comum para fazer testes por conta própria. No momento, nosso grupo já está testando vacinas.