Cientistas descobrem como funciona o circuito cerebral da sede
Ele age como uma rodovia de duas mãos: quando o corpo percebe que está desidratado, e também quando você dá um gole
A sede é uma bela engrenagem: ela comunica com bastante eficiência quando seu organismo precisa se hidratar. Mas, por mais óbvia que a sensação de sede pareça, ainda faltava entender exatamente como funciona toda essa rede de comunicação.
Os cientistas já sabiam há tempos que uma área específica do cérebro funciona como “central da sede”. É a lamina terminalis, responsável por ficar de olho na concentração osmótica do sangue – quando ela sobe e o sangue se torna mais concentrado, é um dos alerta de que o corpo precisa de mais água, disparando a sede.
O que não sabíamos quais neurônios eram responsáveis por essa tarefa, nem como eles se comunicam para espalhar essa mensagem. Além de tudo, não fazíamos ideia de como eles faziam para te mandar parar de beber água.
Isso porque, se basta notar uma leve desidratação para o corpo ativar o alerta da sede, não adianta esperar você estar hidratado para desligar o alarme. Quando você começa a beber água, ela leva um tempo para ser absorvida pelo sistema digestório e levada até os tecidos. Só depois de tudo isso é que seu organismo se sente verdadeiramente hidratado – e só aí ele seria capaz de comunicar ao cérebro “Alô, lamina terminalis, está tudo bem por aqui!”
O problema é que, se você continuasse a beber água até que essa resposta viesse, ia acabar sobrecarregando seu corpo à toa. Isso raramente é fatal (os registros de intoxicação por hiperhidratação são raros, geralmente causados por excesso de consumo durante exercícios pesados ou uso de drogas com o MDMA), mas é completamente desnecessário. E nosso organismo é muito mais eficiente que isso.
O resultado é que, antes que seu sistema como um todo se reidrate, o corpo precisa frear sua sede.
O que os cientistas descobriram é que o circuito da sede no cérebro funciona como uma rodovia de duas mãos. Essa estrada passa pela lamina terminalis e outra região cerebral chamada núcleo pré-óptico medial. Quando o corpo detecta falta d’água, os neurônios se excitam, um a um, como as luzes de freio de carros no trânsito, que vão se iluminando uma atrás da outra. E essa estrada se ramifica pelo cérebro, espalhando esses sinais e criando a sensação generalizada de sede.
Na outra mão da rodovia, está um tipo diferente de neurônio, que também trabalha em sequência – dessa vez, inibindo seus vizinhos, ao invés de excitá-los. E aí a sede vai embora. Essa sequência é ativada pelo simples ato de “dar um gole”. A sensação física de tomar um trago de algo líquido – ao contrário de simplesmente engolir comida mastigada – ativava os neurônios anti-sede.
Os pesquisadores comprovaram os resultados manipulando esses neurônios da saciedade. Ao ativá-los artificialmente, os ratos paravam quase completamente de beber – mesmo quando estavam claramente desidratados. Por outro lado, quando os neurônios inibidores foram desligados pelos cientistas, os bichos continuavam a encher o bucho de água sem parar.