Cientistas descobrem fungos capazes de decompor plástico difícil de reciclar
Em laboratório, duas espécies encontradas no solo e em plantas levaram 140 dias para devorar polipropileno, que corresponde a 28% dos resíduos plásticos do planeta.
Um trio de cientistas da Universidade de Sidney, na Austrália, descobriu que duas espécies de fungos comumente encontradas no solo e nas plantas podem decompor amostras de plástico (mais especificamente, polipropileno) em 140 dias – menos de cinco meses. “É a maior taxa de degradação já relatada no mundo”, disse Ali Abbas, um dos autores do estudo.
A humanidade fabrica 400 milhões de toneladas de plástico a cada ano, e só 10% deste material é reciclado. Outros 14% são incinerados para gerar energia; todo o resto se acumula em lixões ou nos oceanos, onde demora centenas de anos para se decompor.
O polipropileno representa 28% dos resíduos plásticos. Ele aparece em uma variedade de produtos, como canudos, embalagens alimentícias (como potes de margarina ou sorvete) e tampas de garrafa. É um material descartado com frequência e que muitas vezes está contaminado por outros materiais, o que dificulta sua reciclagem.
Resultado: só 1% do polipropileno produzido é reciclado. Por isso, pesquisadores têm explorado soluções naturais, como processos biológicos oferecidos por fungos e bactérias, que possam acelerar o processo de decomposição do material.
Na pesquisa, a equipe selecionou formas diferentes do plástico: em grânulos e em tiras finas, metalizadas ou não. A partir daí, tratou o material com luz ultravioleta, calor ou com uma solução ácida, que tornaram o plástico mais suscetível ao ataque de microorganismos – neste caso, os fungos das espécies Aspergillus terreus e Engyodontium album.
No laboratório, eles devoraram entre 25% e 27% das amostras de polipropileno em 90 dias; em 140 dias, o plástico foi completamente decomposto. Técnicas de microscopia confirmaram a deterioração, e os resultados foram publicados na última sexta (14) na revista científica npj Materials Degradation.
Os pesquisadores ainda vão determinar exatamente quais processos bioquímicos estão por trás dos resultados vistos no experimento. Eles também devem aprimorar esse método de degradação do polipropileno antes de tentar desenvolver um produto para uso comercial.
“Os fungos são incrivelmente versáteis e são conhecidos pela capacidade de decompor praticamente todos os substratos”, disse a professor Dee Carter, autora do estudo, em comunicado. “Essa superpotência se deve à produção de enzimas poderosas, que são excretadas e usadas para quebrar substratos em moléculas mais simples, que as células fúngicas conseguem absorver.”
Os 140 dias para decomposição do plástico observados no estudo são um recorde de velocidade entre os fungos, mas existem microorganismos ainda mais rápidos: bactérias recentemente localizadas em Leipzig, na Alemanha, podem devorar 90% do polietileno tereftalato, o famoso PET da sua garrafa de refri, em apenas 16 horas. Saiba mais sobre métodos promissores para resolver o problema do plástico nesta matéria da Super.