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Cientistas implantam memórias em pássaros – para fazê-los cantar diferente

Mandarins aprenderam a nova canção sem precisarem da ajuda dos pais – tradicionalmente, seus primeiros professores de canto.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 7 out 2019, 16h10 - Publicado em 4 out 2019, 20h07

Para os mandarins, simpáticos passarinhos como este que você na foto acima, cantar é um hábito que atravessa gerações – e exige uma boa dose de esforço. Os mais novos da família aprendem o canto típico da espécie memorizando o jeito que seus pais fazem. Depois, vão balbuciando as notas e tentando copiá-las aos poucos, segundo demonstrou este estudo de 2008. De tanto repetirem a melodia, finalmente conseguem ajustar a afinação e reproduzir de forma fiel o show de seus genitores. Estima-se que filhotes fiquem craques cerca de 3 meses depois da primeira “aula”.

Após estudarem a fundo esse processo de aprendizagem, pesquisadores da Universidade do Sudoeste do Texas, nos Estados Unidos, conseguiram manipular essas etapas e implantar memórias vocais no cérebro dos mandarins. E isso os ensinou a cantar sua tradicional canção de uma forma inédita – sem precisar da mentoria de seus pais pássaros.

“Confirmamos pela primeira vez que existem regiões do cérebro responsáveis por memórias comportamentais – memórias que nos guiam quando queremos imitar qualquer coisa, desde a fala até aprender a tocar piano”, disse Todd Roberts, neurocientista e co-autor do estudo, em comunicado. “Essas descobertas nos permitiram plantar memórias nos pássaros e controlar o aprendizado de seu canto”.

Um estudo publicado na revista científica Science explica como os cientistas ativaram um circuito específico de neurônios dos pássaros usando optogenética. Essa técnica utiliza luz para ativar certas partes do cérebro e controlar sua atividade.

O foco dessa técnica era uma área cerebral chamada NIf. Adicionando genes sensíveis à luz aos neurônios dessas áreas, cientistas conseguiam controlar a informação que a região transmite à HVC – outra parte do cérebro dos pássaros. Enquanto a atividade da NIf determina o tamanho das sílabas (ou notas) da canção, a outra região do cérebro é responsável pelo aprendizado.

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Quanto menor a exposição à luz, menores eram as sílabas (ou notas) que os pássaros passavam a usar para cantar. Iluminar as áreas do cérebro por mais tempo, por outro lado, fazia com que a canção tivesse notas mais longas. E isso dava origem a uma música totalmente nova.

Ao manipular a interação dessas duas áreas, era como se os cientistas os cientistas criassem novas memórias nos filhotes. Mas isso não significava passar a receita de bolo completa: aspectos como a intensidade e tom da cantoria ainda precisavam vir instalados de fábrica. “Nós não ensinamos tudo que o pássaro precisa saber – só a duração das sílabas da canção”, disse Roberts. “As duas regiões cerebrais que testamos no estudo representam apenas um pedaço do quebra-cabeças”. Ou seja: ainda que a tecnologia dê uma mãozinha, ter um bom professor desde o ninho ainda fazia toda a diferença.

A equipe afirma no estudo que a descoberta da relação entre memória e cantoria em pássaros pode abrir caminho para o tratamento de certos problemas de fala em pessoas. Há, claro, um caminho muito longo a ser percorrido, uma vez que relações entre partes diferentes do cérebro humano costumam ser bem mais complexas que as que acontecem em aves.

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