Cientistas investigam micróbio exótico que devora meteoritos
Pequeno comedor de material extraterrestre prefere as rochas espaciais — e pode fornecer pistas na busca por vida em outros mundos.
Mesmo nos lugares mais inóspitos da Terra, há vida. Micro-organismos já foram localizados em locais extremos como em lagos subterrâneos na Antártida, nas profundezas da Fossa das Marianas, em meio a ácido sulfúrico e até nas paredes internas de reatores nucleares. Não à toa, esses micróbios são chamados de extremófilos. Cientistas de vários países acabam de descrever um hábito bastante peculiar de um desses bichinhos: devorar meteoritos.
Em um artigo publicado nesta segunda (2) no Scientific Reports, a equipe liderada pela astrobióloga Tetyana Milojevic, da Universidade de Viena, analisou a habilidade de um certo micróbio de comer o material de rochas espaciais. A Metallosphaera sedula parece, inclusive, achar os minerais extraterrestres mais gostosos que os nativos daqui, já que coloniza o meteorito mais depressa do que as pedras formadas na Terra.
Descoberta há 30 anos em um campo vulcânico da Itália, a M. sedula já era exótica mesmo antes de sabermos que gosta de ingerir meteoritos. É chegada em ambientes quentes e ácidos demais, e tolera alta exposição a metais pesados. Seu próprio nome faz referência a isso: significa, literalmente, “esfera mobilizadora de metais muito ocupada” — devido a sua eficiência no processo. Faz parte do grupo dos litótrofos, que obtêm sua energia de fontes inorgânicas, e é do domínio das arqueas, seres unicelulares parecidos com as bactérias.
Uma das implicações mais interessantes do artigo diz respeito ao estudo do possível papel dos meteoritos para a vida primitiva na Terra. Compostos trazidos por eles até aqui podem ter facilitado a evolução dos seres vivos, servindo como um verdadeiro banquete acessível de energia e nutrientes para micro-organismos daqueles tempos remotos.
Outra linha de pesquisa que pode se beneficiar dos insights do estudo é a busca por vida fora da Terra. Como o time de Milojevic empregou técnicas avançadas para determinar com exatidão como funciona o metabolismo da M. sedula ao consumir os metais do meteorito, conseguiu definir as marcas que as atividades desses micróbios deixam na rocha. E isso pode ser bastante útil na hora de tentar identificar microfósseis em outros mundos.
“Nossas investigações validam a habilidade da M. sedula de realizar a biotransformação dos minerais de meteoritos, revelam as impressões digitais microbianas deixadas no material e dão um passo adiante no entendimento da biogeoquímica dos meteoritos”, resume Milojevic em comunicado. É possível que as habilidades do bichinho também se mostrem muito bem-vindas a empresas que desejam minerar asteroides.